sábado, 27 de dezembro de 2008

Sobre Coisas Que Não Se Diz

Te escrevo para dizer coisas que por convenção ficou determinado que não seriam ditas. Porque ferem, porque abalam, porque fazem fraquejar, fazem duvidar um do outro.
Te escrevo para dizer que sinto falta “dessa coisa de pele”. Não sei há algumas noites em que eu não consigo dormir, não brigue comigo eu não tomo remédios todas as noites. Só nessas em que me corpo fica quente mesmo depois de uma ducha fria e eu me viro sem parar nessa cama espaçosa onde, já perdi a conta de quantas vezes, te imaginei me abraçando, me apertando, me acolhendo, me envolvendo , me amando, deixando cada gota de suor do seu corpo escorrer no meu.
Te escrevo pra contar que as coisas banais me fazem muita falta, que passear com você na orla da praia em uma dessas tardes, em um desses fins de semana era tudo o que eu queria. E estender minha canga amarela e grande pra gente deitar um do lado do outro nesse tempo frio e poder sentir o sol fraco quase aquecer a areia da praia ao nosso redor. Poder sentir a inveja de quem observa a vivacidade de um amor que irradia tanta luz.
Te escrevo pra ver se você se convence, pra ver se você compreende que não há nada mais que importe nesse momento a não ser ficarmos bem, ficarmos juntos.
Te escrevo pra dizer que a caminhada é longa, mas que o destino é um só, te escrevo pra dizer coisas que das quais não se falam, coisas das quais se tem vergonha de sentir. E normalmente todos sentem. Eu sinto muito* ! Eu sinto muito**.

* Intensidade.
** Me desculpa.


Obs: Espero que entendam a legenda. ;S

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Sobre Papéis.

Você perdeu. O que? Você deixou as coisas na minha mão, baby. Deixou que eu retomasse o controle. Vulnerabilidade é uma coisa que eu não suporto. Vamos, levante, tire os joelhos do chão, olhe reto, enxugue seus olhos, faça uma cara de macho, vamos, macho de verdade. Ordene, grite comigo, me dê uma ordem, quem sabe assim você volte a me fascinar. Vai... dá uma de machão. Seja insensível aos meus "eu te amo"s e aos meus apelos melodramáticos. Você sabe, eu faço como ninguém o papel de menina incompreendida. Venha, e me faça voltar ao meu melhor papel.


Obs: Férias.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Sobre Convites

E qual não foi a surpresa dela quando chegou lá? Alguns poucos amigos daquela pessoa que aniversariava. Alguns, aliás, conhecia [quase todos?]. E no começo Fabi se sentia estranha em ver que fora convidada para um ato de iniciação de amizade. O convite para ir à casa de Manu aquela noite, comer da mesma comida que ela, tomar da mesma bebida que ela, tomar cerveja no bico sem cerimônias, era mais que convite para uma festa, era um convite para um ritual que dizia; “Agora você faz parte do meu círculo de amizades”. E sentiu o peso do convite assim que o recebeu: “Você vai ao meu aniversário, não vai?", o que mais queria dizer "Se você não for ao meu aniversário estará jogando fora a minha amizade que te ofereço com um banquete.". Para os deuses um banquete seria cheio de comidas variadas e iguarias próprias da tribo, para os jovens são carne assada e cerveja. E o banquete que ela oferecia estava a nível de igualdade com qualquer banquete juvenil, cerveja gelada e carne assada. Assim foi andando o caminho todo, com as costas pesadas de entrar num círculo de importância a qual não sabia que queria mesmo pertencer... Nem falara com ela por conta própria... No meio de uma conversa com uma amiga que se chamava Cris, as duas foram apresentadas. E daí por diante os cordiais "bom dia", como é que vai? , "e o fim de semana?", "me dá um cigarro?", "você parou?". Depois já gostavam uma da companhia da outra porque juntas se faziam absurdamente divertidas.
Fora apresentada aos amigos de Manu, a aniversariante, em algumas outras ocasiões de encontros ocasionais em lugares comuns de faculdade.
Manu se divertia com o jeito de Fabi, gostava da risada dela, do jeito impulsivo dela, do jeito meio criança que deseja crescer e precisa de ajuda a todo tempo pra lançar vôo, Manu gostava de ser útil a Fabi sempre que ela precisava e foi assim que surgiu nela a vontade de convidar Fabi para um rito de entrega de importância, da qual ela sairia com direito a certificado em um quadro de exposição.
As costas de Fabi pesavam tanto que teve vontade de ligar e dizer: "Manu, não posso ir ao teu encontro, me desculpe, mas minhas costas doem!", mas já estava no meio do caminho e vontade nenhuma tinha de levar esse peso até o próximo convite, porque também se tem o peso de se recusar um convite desses, claro. Então seguiu... Assim que chegou, Manu tratou logo de abraçar Fabi e dizer: "Eu não achei que você viesse, me sinto tão feliz por estar aqui."
Estava consumado, Fabi fora convidada a ter importância e agora recebia o certificado em quadro pra exposição. Foi quando sentiu que o peso que levava lá ficara. Cumprimentou a todos com direito a ouvir: Essa é a Fabi que eu havia lhe falado! Que diferença faz se falara bem ou não? Agora ela tinha importância num quadro e era lembrada. Há tanto tempo não sabia o que era ser lembrada.
E assim seguiu a noite, Fabi não podia ficar por muito tempo, mas se divertiu demais com a companhia da Manu e dos amigos dela, que ficavam cada vez mais amigos de Fabi também. Era tudo muito novo pra Fabi, a diferença entre eles era evidente, e eram tantas. Se Manu gostava de carne, Fabi achava que gostar tanto de carne é ser meio sanguinária. Havia quase uma explícita razão pra se implicarem e por isso se gostavam... Podiam se criticar abertamente e isso as espantava. E espantava a Fabi o respeito que de repente aprendeu a ter quando Manu não queria falar de determinados assuntos, e quando Manu dizia que a entendia por ser parecida com ela, no fundo, no fundo. Acontece que haviam sim coisas em comum, como a possessividade de ambas, o ciúme de ambas, a vontade de estar uma perto da outra.


E era nisso que Fabi pensava agora, três meses depois do aniversário, vendo uma foto que tinha no mural da Manu, Manu, Fabi e Luca [amigo de Manu há mais de 8 anos]. Pensava Que se sentia a mais privilegiada por ter entrado na vida da Manu assim, uma das poucas amigas novas que Manu tinha, uma das duas. Manu não é de fazer amizades, mas gostou tanto de Fabi, e demonstra tanto que isso faz com que Fabi goste cada dia mais dela, das piadas dela, do jeito mal-humorado de quando fica com TPM, da sinceridade dela.
Ela pensa que ela só ganhou lugar no mural de fotos porque ela também ganhou lugar no coração, na vida. E aquele mural com poucas pessoas é só a representação disso tudo.
Sente que uma amizade dessas desinteressadas, não nasce assim no colo de quem não sabe o que fazer com ela, de quem não sabe cuidar. E Manu sabe. Fabi não. Fabi só espera que ela fique tão perto que não a deixe descuidar da amizade.
E é nisso que ela pensa também olhando a foto. "Não pise na bola, por favor."
E pensa um monte de coisas que nem eu mesmo saberia descrever. Mas ela se sente especial, entende?
Ela se sente E-S-P-E-C-I-A-L.


Obs: Para Hinuany B. de Melo.

sábado, 29 de novembro de 2008

Sobre Contabilidade.

Me diz, você que é tão boa com números, quanto tempo mais eu ainda tenho que ficar angustiada com esse peso nas coisas e essa bigorna no coração? Quanto tempo essa bigorna vai ocupar tanto espaço, esmagando e expulsando o meu amor aqui de dentro? Quanto tempo mais ela vai ocupar quase todo espaço e sufocar tudo e todos aqui dentro?
Você que é tão boa com números pode me dizer até quando isso dura? Esse amor, essa paixão? Toda essa emoção que nós sentimos quando estamos ou mesmo quando não estamos perto, todas essa querência, essa decadência, essa precisão, me diz qual é a fórmula que eu uso pra calcular o tempo de cada uma dessas variáveis?
Você que é tão boa com números pode me dizer quanto tempo mais eu vou levar pra decidir, e com qual intensidade eu vou decidir, que é melhor deixar você e tentar viver esquecendo esse amor que dilacera tanto, que empobrece tanto, porque suga todas as minhas forças vitais e faz minhas necessidades aflorarem todas perto de você e sugar de você tudo que eu preciso, tudo o que eu decido precisar, tudo que é capricho, tudo que é para meu passa-tempo. Calcula pra mim vai? Tempo e intensidade.
Você que é tão boa com números pode me dizer quanto tempo depois de deixar você eu gastaria para me apaixonar por outra pessoa? Para parar de ver nos rosto de outra pessoa o seu? Para parar de querer em outros beijos o seu? Calcula aí, por favor, quanto tempo eu vou demorar para parar de sussurrar seu nome enquanto eu faço amor, quanto tempo demora para eu parar de querer o seu abraço a sua anatomia nessas madrugadas frias, quanto tempo eu demoraria pra não ver mais seu rosto nos meus sonhos?
Você que é tão boa com números pode me contar quanto tempo eu gastaria com todo esse processo? Entre decidir deixar você, meu coração perceber que é realmente o melhor, eu deixar você, ficar com outro alguém, me apaixonar por esse outro alguém e parar de querer você nesse outro alguém? Vai calcula aí, você que é tão boa com números pode fragmentar essa equação e calcular pra mim?
Com a fórmula intensidade vezes o tempo, em qual processo eu sofreria mais? Tentando viver sem você? Ou ficando aqui e inutilmente lutando por tudo sozinha?
Vai Diz pra mim!!
Ohh, I’m sorry, honey. Eu me esqueci.
Você não é tão boa em administrar emoções, não é? Você sempre foi simplesmente um fracasso nisso. É melhor esquecer.



Obs: Sentimental demais pra você, racional demais pra mim.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Sobre Datas Comemorativas.

- Escuta
- O que?
- Coisas que eu vim planejando pelo caminho pra dizer. Coisas que eu pensava enquanto a água e os carros e as esquinas passavam por mim.
- Entra, nós ganhamos presentes, toma um banho veste roupas limpas.
- Não, me escuta, a sua casa está cheia de gente e eu não quero ver ninguém.
- Todos estão aqui por nós, estão perguntando de você, eles ficaram constrangidos, não sabiam que você tinha se mudado, eu falei pra eles ficarem. Entra pela cozinha, estamos jogando pôquer na sala, veste minhas roupas como você fazia nas manhãs de Domingo.
- Eu não vou entrar, eu preciso falar só com você. Acontece que eu saí a duas horas da minha casa e vim caminhando até aqui. Porque hoje é nosso dia e eu não consegui pensar em outra coisa durante o dia todo, o mês todo, senão que eu não estaria com você hoje, que eu não beberia com você, que eu não estaria aqui pra receber os seus, os nossos, os meus amigos. Então eu passei o dia todo me contendo, levei todo serviço pra casa, escutei todos os discos que comprei e tentei ler cada livro da estante e três horas atrás na janela da sala aberta eu sentia o cheiro da grama molhada invadir a casa toda e lembrei que se tivesse com você, você ia me abraçar e dizer que esse era o cheiro mais gostoso do mundo porque te lembrava nosso primeiro beijo no gramado do clube há uns cinco anos atrás e foi quando eu desejei que você tivesse me abraçando que eu saí de casa sem me tocar que chovia, entende?
- Não. O que é que você quer me dizer?
- Que foi besteira nós termos morado juntos, eu queria sair de casa você também... Foi só isso. Foi besteira desgastar tudo só pra satisfazer caprichos bobos.
- O que você quer Tami? Você já saiu de casa faz seis meses e quando saiu me disse essas mesmas coisas e sabe o quanto doeu? Para de falar besteira, você está molhada, entra, toma um banho dorme na sala com o pessoal, você está sendo repetitiva.
- Você também. Eu já disse que preciso te falar umas coisas e eu ainda não disse o mais importante...
- Então fala Tami!
- Faz seis meses que eu tento me acostumar com seu espaço vazio na cama, com o café fraco e doce que não é o seu, com a ausência das horas que você chega em casa do trabalho falando mal do chefe e do transito e de São Paulo e do cachorro que não te deixa em paz até que você faça carinho nele. Faz seis meses que eu sinto falta da sua boca e do seu abraço e das suas palavras bonitas e dos sorrisos e do seu corpo quente no meu e dos sussurros ordinários de madrugada. Foi um erro grande vir morar com você, mas foi um erro maior ainda ter saído daqui. Hoje eu vim pra te entregar o que eu te ofereço todo ano, na mesma data, do mesmo jeito...

Ela pega a mão dele e conduz até seu seio.

- Só pra te entregar uma coisa que é e sempre vai ser sua... O meu coração.

E, como todo ano, na mesma data, do mesmo jeito ele sentia agora o coração dela bater levemente descompassado sob os pedaços de pano molhados que ela insistia em não tirar.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Sobre Agir.

- E aí eu me vi aqui.
- Aqui? Normal! Você não sabe como chegou aqui?
- Não aqui. Aqui eu sei que você me trouxe.
- Onde então?
- Eu não sei porra. Nesse espaço-tempo-lugar em que eu estou em que minhas pernas não tremem mais, meu coração não dispara mais e meu corpo não suspira mais. Até ontem nós tínhamos tantos planos e eu os levava tão a sério. Sim, eu ainda continuo querendo que eles aconteçam, mas eu não penso mais, não desenvolvo mais, cartas de amor eu não escrevo mais e pra que tantos presentes?
- Pra me agradar? Pra mostrar que você me ama?
- Mas eu sou tão boa com as palavras, o que aconteceu? Eu sempre te escrevi cartas, e depois comecei a copiar poemas, hoje eu já não acho mais nenhum que se encaixe. Isso não é estranho? Deixamos que todos os sinais passassem sem olharmos pra nós mesmos, sem lhes dar importância, precisamos fazer alguma coisa quanto a isso.
- As suas pernas ainda tremem.
- Você ainda está nas pernas? Quantas coisas eu disse depois disso?
- Mas elas tremem.
- Tremem porque eu ainda sinto tesão. Você sabe que sexo é uma coisa que você bem, meu bem. Mas eu estava falando sobre sinais.
- O que tem os sinais?
- Não acha que deveríamos prestar mais atenção neles?
- Já fizemos. E depois?
- Fizemos?
- Ta. Você fez. E agora?
- Agora a gente pensa bastante e decide como vai agir perante eles pra evitar que as coisas acabem. O que você acha?
- Eu acho que isso é sinal de que o amor já está acabando.
- E o que a gente faz?
- Esperamos pra ver.
- Nada que a gente já não tenho feito. Não percebeu que esperar é o mesmo que não fazer nada?
- É?
- É. Você realmente ouviu o que eu te disse até agora?



Obs : Diachatohoje.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Sobre Mofo

- Mãe porque as coisas mofam?
- Excesso de água, talvez.
- Só por isso mãe?
- Aquela parede ali é por isso.
- Mas, em geral mãe.
- Ué minha filha, acho que resumindo é só por isso, por exemplo, aquele pãozinho que a mamãe traz pro café da manha, coloca fermento com bacteriazinhas na massa e ele cresce, depois que fica guardado durante um tempo ele mofa porque às vezes sobra umidade dentro dele.
- A gente come bactérias mãe?
- O tempo todo, filha.
- E elas não fazem mal?
- Algumas são mais fracas que o nosso organismo, mas as que não são, fazem mal sim.
- O que mais mãe?
- O mais o que, filha?
- O que mais mofa mãe?
- Vamos lá, as roupas mofam.
- Por quê?
- Por causa da água também, se você guardar ela molhada ou úmida.
- Mas a sua blusa não estava molhada e você disse que ela cheirava mofo.
- É verdade. Mas essas coisas que ficam guardadas em lugares quentes e escuros, sem serem usadas durante muito, muito tempo; elas mofam.
- Ah sim, agora faz sentido.
- O que?
- Você precisa de um novo namorado!
- Ah é? E por quê?
- Andam dizendo por aí que o seu coração está mofado demais.

[silêncio]

- Vem cá vem, minha criança, vem dormir!

domingo, 2 de novembro de 2008

Sobre Promessas

Foi uma promessa dessas que eu sabia que não cumpriria, nem agora talvez nem depois. Mas eu faria qualquer coisa pra ver aquele brilho nos olhos, faria qualquer coisa pra vê-la sorrir daquele jeito gentil que ela sorri quando ganha o que quer, quando tira de mim qualquer coisa que tenha precisado insistir.
Havia muitas coisas que ela queria que eu dissesse, mas eu não a culpo, também há tantas coisas que eu gostaria de ouvir. E ela sabe o tempo se encarrega dessas coisas, ou de satisfazer os nossos ouvidos, ou de cumprir nossas promessas ou de nos fazer decepcionar a quem amamos.
Eu particularmente acho que o tempo nos dá tempo só pra mostrar que não somos, mesmo, capazes de cumprir com todas as coisas que prometemos.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Sorriso Terça-Feira.

Entre os gemidos dela mal se podia ouvir a respiração dele, que por sinal ficava cada vez mais ofegante.
Naquela posição, naquele encaixe; ele sentado e ela sob ele a enlaçá-lo , ele podia olhar bem para ela, enquanto ela queria mesmo era não olhá-lo. Ela entrelaçava os dedos no emaranhado de cabelos negros e curtos, e o puxava , ficava com a boca ao seu ouvido.
Talvez ela quisesse ouvi-lo, talvez quisesse se fazer ouvida, talvez só não quisesse o encarar. Quando ela se esquecia, ele a olhava. Dali, podia ver cada gosta de suor que escorria do seu rosto, podia ver as bochechas coradas do calor, da excitação, podia ver a doçura nos olhos dela e isso o deixava mais excitado. A sua forma de fazer amor talvez fosse o que ele mais gostasse, isso , depois de todo o mistério que a envolvia.
Apesar de poucas as vezes, essa era a quarta, ele já sabia interpretar todos os sinais que o corpo dela lhe dava. Os gemidos dela diminuíram, ele trocou de posição, deitou-se em cima dela. Ela gostava dessa posição, gostava de sentir o corpo dele em cima do seu, o encaixe do quadril, os ossos.
Estava perto de gozar, ela falhava a respiração, segurava-a. Soltava rápido e enchia os pulmões de ar. Ele já havia parado de contar até dez, já havia parado de tentar se controlar. Com as unhas dela cravadas nas costas dele, ele sabia assim que gozaria junto com ela e acelerou o ritmo então. E sentia o encaixe que lhe parecia perfeito. Ela gemia mais alto agora e ele quase não respirava. Ele sentia o sexo dela apertar o dele e ele sabia agora que já podia gozar.
Depois de toda a transa que tiveram, para ambos muito satisfatória, ele se deitou, era a vez dele sentir o corpo dela sob o seu, ou pelo menos parte dele, ela deitou sob o peito dele e jogou a perna sob o ele. Típica posição de casal apaixonado.
Eles descansavam ofegantes no silencio ensurdecedor daquele quarto vermelho de motel.

- Quem você vai ser hoje ?
- Hoje ? Hoje... Eu vou ser... Camila. É , hoje eu quero ser Camila. O que é que você acha?
- Eu acho ótimo. Embora eu prefira a Catarine de Terça passada.

Ela riu-se.

- Eu gosto de você sabia ? -Dizia ela enquanto passava a ponta dos dedos no peito nu dele, naquele peito meio malhado, meio forte, branco e meio juvenil, ela adorava o peito dele, com seu mamilo marrom claro e... Não importa, para ela eram bonitos e só.

- Eu não vou te ver mais não é? ?
- Claro que vai bebe! Ela gostava de chamá-lo assim, talvez gostasse de lembrá-lo da diferença de idade. Oito anos, não é muita coisa, mas ela se quer sabia o que ele pensava sobre isso. Combinaram: "Sem perguntas!" desde o início, talvez fosse isso que tornava o sexo mais excitante para ambos.

Ela adormeceu, pela primeira vez ela adormeceu ao seu lado, ele sentiu nisso uma confiança incrível, a guarda estava baixa e isso o agradava, talvez por isso não quis acordá-la embora sentisse que devesse. Ele sentiu um aperto vendo-a dormir, ele a queria tanto e sabia que agora a perderia. Com o braço ele podia alcançar a carteira, os documentos, a identidade, o telefone. Ele deixou isso de lado, deixou ser como ela quisesse, era sempre assim mesmo, como ela queria, onde e na hora. Pra que se preocupar ? Ela não seria a primeira a ir embora.
Ele se perdeu no tempo, olhando-a , desejando-a, deixou que se passassem 30 minutos, ela acordou, olhou o relógio, apressada se levantou e se vestiu.

-Você esteve ótimo hoje! Vou pensar em você a semana toda ta? Eu adoro realmente você ! - Disse isso com o coração lerdo e uma dor no sorriso, olhando em seus olhos. Beijou-o , deixou o dinheiro pra o motel e saiu.

Antes de ir para casa ela passou no supermercado, no caixa ao procurar no bolso o dinheiro, encontrou uma quantia a mais absurdamente inesperada, e um bilhete. Pagou a conta, correu para que pudesse ler o bilhete e foi o que fez assim que entrou no carro..

“Carolina, Célia, Carine, Camila
e quem sabe na Terça que vem Carla.
Esse bilhete vai para todas as mulheres
que
ficaram comigo nessas ultimas Terças
Feiras.
Sinto que as perdi. E só queria que
soubessem que aí
está o dinheiro que esqueceram, o
cavalheirismo ainda
existe e como ditam as regras o homem paga
a conta.
Espero muito,e inutilmente, vê-las na
próxima Terça-Feira.
Beijos carinhosos e quentes..
Eduardo (o de sempre)”

Como é que ele sabia ? Onde ela teria deixado transparecer que não voltaria? No beijo , no gozo, no suspiro, no sono, ou na declaração ? Não importava, estava passando da hora de aquilo acabar, estava passando a hora de ... Chegar em casa.
E ela chegou. Meia hora mais atrasada, do que o atraso de sempre. Destrancou a porta, entrou e já foi logo escutando:

- Camila ?
- Sim. Você não sabe como o supermercado estava cheio hoje, Carlos! Você pegou a Cora na escola pra mim ? [ Ela ainda estava na sala e ele no quarto. ]
-Claro que sim! Terça –feria! Dia de supermercado, não é amor ?
- É, é sim. Ainda bem que você se lembrou!

Disse ela encaminhando-se para o banheiro com o bobo, meigo, atraente e quem sabe o último:Sorriso-de-Terça-Feira.

Obs: Gosto desse. :)

sábado, 18 de outubro de 2008

Sobre Marx

- Eu preciso de mais liberdade,amor !!!
- Você não pode me pedir mais liberdade.
- Porque?
- Porque não. É um ato totalmente egoísta.
- Mas você também terá sua liberdade.
- Cada um em seu lugar então?
- Você com sua liberdade, eu com a minha.
- Já ouviu falar em Interesses Coletivos ? Sociedade e essas coisas ?
- "Essas coisas" eu já ouvi falar! É assim que você fala dos meus interesses. "Essas coisas que você deseja"
- Você tem que levar em conta os meus interesses. Deixar os interesses individuais de lado e abraçar os interesses coletivos.
- Odeio quando você vem com os seus papinhos de sociedade, macrobiótica, taishishuan, Yoga, espiritismo, penitência.
- Isso aqui é Marx, baby.
- Porra, eu só queria ir a um barsinho.
- Pode ir meu benzinho.
- Não. Eu vou ficar em casa... Quer saber ? Boa noite.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Sobre Finais Felizes.

No meu mundo as histórias todas teriam finais felizes.
A madrasta ficaria feliz com o coração da branca de neve, o lobo da floresta de barriga cheia com a vovozinha apetitosa da chapeuzinho vermelho, o lobo da vilazinha ficaria satisfeito com o banquete de 3 porquinhos, a cinderela se casaria com um camponês, o Peter Pan cresceria e se divorciaria da Wendy para sair com uma menina mais nova, porque ( assim como o Michael Jackson) ele adora crianças.
A Feiurinha seria esquecida, João e Maria ficariam obesos morando e comendo a casa da Velha da casa de chocolates amanteguados e bolachas Maria envelhecidas, Alice ficaria encantada e não sairia nunca mais ( porque assim como pra sempre nessas histórias também tem sua dose de nunca mais ) sairia do Mundo das Maravilhas.
Seriam todos finais muito felizes.
Como o meu e o seu, que acabou de sair de casa com a frase nada impactante de
" Eu não queria, mas acabei me apaixonando por outra pessoa."

Assim, fim da história.
Bem perto de um " E foram felizes para sempre...".

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Sobre Volatilidade

. (ironica) Você ta com medo? Eu queria tanto que ela gostasse de mim.É que com você do meu lado eu não tenho medo. É que eu tenho saudade todas as noites. É que eu queria você comigo.
. (séria) Tantas frases que eu planejei pra te sensibilizar e chegada a hora quem endureceu foi eu. Não sei, eu queria dizer coisas bonitas pra você, pra você querer ficar, pra você querer que eu ficasse.
. ( pensativa) Mas eu não sei, em algum momento ou frase ou palavra sua eu exitei. Eu tenho medo amor.
. (susurrando) Aquele velho medo de perder você.
. (falando)Eu até supero qualquer dia desses, mas o problema é que pra superar eu preciso deixar de gostar. Eu acho que nós dois não queremos isso.
. (sorrindo gostosamente) Mas e daí, dizem tudo tem um fim. Até Vinícius de Morais dizia que tinha fim.
. (entristecendo ) eu não sou taão sonhadora mais.não como eu costumava ser quando a gente se conheceu.
. (misteriosa) Eu acho que tudo tomou a esfera da realidade. Aquela esfera em que os sonhos maiores e gigantescos não são permitidos.
. (confusa) e as vezes eu penso que não tenho tenho certeza mais do que eu quero, do que eu sinto, mas aí eu penso que posso te perder e choro.
. ( chorando ) e eu não posso te perder meu querido. o minha vida é sua , e perder você implica na perda dela.

sábado, 27 de setembro de 2008

Sobre Dependência

*Sabe? Eu sei o que é que você está pensando agora. Eu conheço você melhor que qualquer um.
Você se lembra? Eu conheço tanto você a ponto de saber que mesmo pensando em sair daqui,
mesmo pensando em fugir, você não vai. É algo que você não tem; isso que chamamos de impulso-burro.
*O que é que há amorzinho? Eu conheço você melhor do que ninguém, Melhor do que os teus
amigos, E que amigos são os seus? Se eles nem sabem das noites em que você chorou até que
amanhecesse no chão frio no escuro do teu banheiro. Se eles nem sabem das noites em que você
ficou enjoada e eu fiquei do teu lado, se eles nem sabem dos cortes no teu corpo. Se é pra mim
que você liga nas madrugadas quando chorando bêbada em algum telefone de alguma esquina da
cidade me pede pra te buscar.
*É baby eu te conheço, mais do que todos os outros e sei, você vai ficar, vai ficar aqui e comigo,
porque eu sei o que dizer, eu sei o que fazer nas horas mais certas, sem que você precise pedir,
então fique amor. Que eu também preciso de você.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Porque amor de verdade tem que ser o que enlouquece, o que destrói? Que besteira. Amor de verdade é calmo, paciente. O que enlouquece é a paixão. Ando cansada de me ferir e nesse ritmo um dia me canso até de ti.
Ah, como é doce abandonar quem se ama! Não acha? Não? Pois eu pensei que achasse, pois é isso que tens feito comigo todos os dias, não achei outra explicação senão a doçura que isso pudesse ter.
Amargo? Não, isso não é amargo pra você, a não ser que goste de coisas amargas e não, eu sei que não. Eu pensei que gostasse disso tudo, eu pensei que tivesse um prazer incrível nisso, o prazer do abandono.
É engraçado isso sabe? Eu já senti prazer em abandonar alguém e eu te digo, é viciante e enquanto eu quase tinha espasmos de prazer alguém me dizia “Um dia você vai amar loucamente alguém que vai viver escapando entre seus dedos, e vai ser tão escorregadio quanto puder ser”.
Não, meu bem, não ria, não é que eu acredite em pragas rogadas ou coisas assim, só comecei a acreditar, a pouco tempo eu posso dizer, que tudo o que vai um dia volta e pode voltar em igual proporção, ou pior eu acredito.
É incrível como você me faz sentir insegura, você destrói todo o muro do meu imenso castelo, põe ao chão em segundos toda a minha segurança e com toda a sua astúcia desmancha todas as minhas armadilhas indestrutíveis.
É, eu sei que você não queria fazer isso, mas você faz, mas vai fazer com qualquer pessoa que se atreva a te tocar fundo demais a ponto de querer o seu castelo também a baixo, a ponto de não querer mais sua segurança ou suas armadilhas.
Você vai destruir todas as pessoas que te tocarem, tão fundo quanto eu toquei, e pedirem, como eu pedi, pra que você se dispa de armaduras e quando você perceber que está dentro demais de uma coisa quente confusa e sem regras (é baby, mesmo as previamente estabelecidas, nem sempre são cumpridas), eu sei, eu também tive medo quando vi que era algo que não tinha uma finalidade, um objetivo uma meta a ser cumprida e fim. Não tem fim.
Eu pensei “obedecemos todas as regras e seremos felizes até o fim”, mas depois eu já não queria mais o fim, e pensei que se pudéssemos obedecer as regras, poderíamos reformulá-las quando ficassem obsoletas. e depois eu me desesperei, acho que ainda me sinto assim, quando vi que estava dentro dessa coisa viscosa, pegajosa, e viciante que faz mal, mas todos insistimos em por um nome doce e bom como amor para apaziguar os corações e insistimos em buscar pelos sexos e festas e madrugadas e vodkas como uma meta de vida e felicidade e finalidade. Procurar a destruição, procurar a perturbação, procuramos uma coisa sem fim como finalidade, confuso.
E me desesperei porque eu percebi que não havia regras naturais e inerentes a serem seguidas e quando vi que nós teríamos que nos impor regras e mesmo essas regras não nos importávamos em não serem cumpridas, se até outras bocas nos perdoamos, se até outras juras nos desculpamos.
E quando você perceber que está dentro demais dessa coisa quente e confusa e sem regras com alguém despido de todas as armadilhas e armaduras querendo que você se dispa também você vai ficar apavorado, como eu ti vi há um tempo atrás, e você vai tentar impor regras, que nem mesmo você irá cumprir, e vai mostrar toda a sua insegurança e seu carinho e como você é doce inseguro, mas você não vai se manter assim, você sabe o que é manter?
Não, não falo de dinheiro no banco, ou inflação controlada, ou índice BOVESPA, também não falo se contas pagas e independencia financeira, falo de estabilidade espiritual sabe? Não como ser sempre feliz ou sempre triste, mas ser sempre amor, ser sempre bem, ser sempre presença como você é agora, você não entende não é? Entende? Ótimo, pelo menos vejo que você presta atenção...
(e ele sentado de frente pra ela na mesinha de centro e ela no sofá, a olhando atento, prestativo e atencioso, fazendo que sim com a cabeça, com as mãos nos joelhos dela quase que segurando ela ali pra que ela falasse tudo o que tem vontade HOJE, porque hoje era o dia de balancear a relação e se perdesse hoje só na próxima semana, porque aí viriam os dias das contas, das ações da bolsa, do banco, da empresa, e os de nada, os dias de pensar em nada. Inclinado em direção a ela era todo ouvidos.)
Você não vai se manter inseguro porque você vai de novo se fechar e perceber que pode ferir a outra pessoa antes que ela te fira e mesmo que eu ainda ache que você sente prazer, você jura que não, e você fere, e como sabe ferir as pessoas. E eu te toquei, tão fundo quanto nenhuma outra pessoa e me despi pra você, e você desfez as minhas armadilhas e agora com sua armadura grosseira me fere me deixando sem chance nenhuma de revidar e eu nada posso fazer a não ser escancarar o peito e te mostrar certeiro onde acertar pra me ferir mais rápido.
Mas agora me pego pensando que eu ainda tenho um trunfo sobre você!
(ele faz cara de quem pergunta qual e deseja fortemente saber a resposta, mas sabe que quando ela se pega a falar não para e nem precisa fazer perguntas, só fazer indicadores de respostas)
É, eu tenho. O meu abandono é doce. Eu não sinto amargo, ou nada ruim em abandonar quem eu amo.
(ela se levantou, acabado seu discurso e ele olhava pro sofá abandonado, assim como ele, no meio do que era pra ser uma discussão, mas ela parou de falar, e se levantou, ele queria que ela continuasse, mas nem ao menos estava ali na sala com ele agora. Então ele perguntou, preocupado e pensando em tudo o que ela disse e que iria latejar durante o resto de toda aquela coisa sem fim, meio que gritando pra que ela ouvisse.)

- E agora, O que é que a gente faz?

Você? Me faz uma dose de Martini.
- Com cerejas?

E ela pensou “se é pra parar de me ferir, que o abandono comece assim, você sozinho na sala...” Pensou também que não precisaria das cerejas para adocicar a bebida porque ela mesma já tinha um gosto doce na boca. “mas eu gosto de cerejas”

- Com cerejas, por favor, querido!

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Sobre Lágrimas

As minhas lágrimas límpidas e secas estão molhando o papel no qual
escrevo, manchando as palavras que com ódio escrevo, na esperança
de que leias, de que sinta essa dor que pulsa mais que meu peito,
eu posso dizer. As minhas lágrimas transparentes e ralas que por
muito tempo estiveram na minha garganta, sem subir,sem descer,
sem desaparecer. Cada dia o que escrevo me parece pior e essas
lágrimas. Haa, essas lágrimas, me parecem cada vez mais secas.
As minhas lágrimas acumuladas e sentimentais que ressecam
a minha pele, queimam a minha face enquanto caem.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Sobre Frio.

Hoje se faz um dia chato. É um dia daqueles em nem o sol pode aquecer, porque chega um tempo em que o sol não aquece... Ele queima. A casa está toda em ordem, chega a ser ofensivo ver cada coisa em seu lugar e aqui dentro de mim tudo tão bagunçado que eu nem sei por onde começar.

Está tudo tão silencioso, tudo tão calmo, que andando pela casa eu ouço o barulho dos meus passos, e sentada aqui eu posso ouvir o barulho do vento entrando, como poucas vezes ouvi, até parece madrugada, até parece feriado. Não, não é feriado, passam tantos carros lá fora que pelo silencio da casa quase consigo contar quantos carros vão passar pelo semáforo hoje. Talvez eu conte pode ser útil em alguma pesquisa de transito.

Inútil, inútil tentar ocupar meu dia com mais coisas inúteis, eu queria era você. Agora, do meu lado, nessa casa vazia. Sentada comigo no sofá, quase sem roupa debaixo de um edredom, com as cortinas fechadas, a casa trancada, sem TV, nem som, nem barulho, nem carros mais haveria nas ruas, nem motos e o som da casa vizinha não conseguiria transpor a parede pra chegar aqui.

Eu queria era você pra no meio desse silencio todo pra me falar coisas oportunas, no meio do meu dia vazio ou no meio do vazio do meu dia, dizer alguma dessas coisas interessantes que você sabe dizer pra me fragilizar, pra me deixar de coração duro e com amor convicto. Alguma dessas coisas que você diz sussurrando perto do meu ouvido, que faça sentir sua respiração quente, que me faça arrepiar os pelos do corpo e sentir o tamanho do meu desejo por você.

Eu queria era você aqui, arrastando um cinzeiro pra sentar no comigo em qualquer lugar da casa, pra fumarmos meus cigarros mentolados. Daqueles quando você acendia e entregava pra mim pra depois acender o seu. Pra depois de um tempo eu dizer que você precisa fumar menos e que eu só fumo tanto quando estou com você.

Eu queria era você aqui, me explicando como é que as coisas vão dar certo, como vai ser o futuro, pra me convencer uma e mais uma e quem sabe mais outra de que o presente é o que interessa e de que o passado já não tem nenhuma importância.

E depois de pensar que o que eu queria era você, fazendo as coisas que naturalmente a gente faz, eu me peguei pensado que talvez fosse natural e espontâneo se eu te ligasse, mas não agora. Seria à uma hora atrás quando antes de pensar que o sol queima, eu olhava pro telefone fingindo não lembrar o seu número, fingindo não querer ligar, fingindo não ter assunto. Fingindo não ser suficiente (e melhor do que o silencio da casa inteira e a greve de palavras dos móveis e eletrodomésticos comigo) o seu silêncio do outro lado da linha, fingindo não ser suficiente te ouvir dizer que sentiu minha falta, e antes de desligar dizer um simplório eu te amo.

Naquela hora em que olhei pro telefone e desliguei antes de poder chamar, tudo seria naturalmente espontâneo, mas agora, qualquer coisa que eu disser terá sido previamente elaborada. Daí, percebi que não podia mais ligar, porque eu nunca gostei de jogos elaborados, sempre prezei e você também a naturalidade com que as coisas aconteciam.

Eu quis ligar o som pra acabar com todo o silêncio, quem sabe ouvir algo como “já que você não está aqui, o que posso fazer é cuidar de mim”, mas nem precisei, pois me veio na cabeça você cantando “porque você está comigo o tempo todo...” na mesma hora em que eu olhava seus olhos cheios d’água e eu te abraçava forte, evitando te olhar nos olhos pra você não sentir meu medo e minha alegria e foi quando você disse que eu te fazia feliz, e eu perguntei como, se você estava chorando e você me disse sorrindo, com os lábios molhados de lágrimas, que chorava de alegria, mas eu podia sentir a dor no seu sorriso afetado e no olhar calmo que ao mesmo tempo gritava.

E foi depois que eu te vi que passei a sentir a diferença das minhas noites sem e com você, foi depois disso que passei a sentir frio quando você não está, e passei a sentir frio nas minhas tardes vazias de pensamentos confusos sobre você e foi pensando nesse frio que voltei a perceber que hoje se faz um dia chato. Um dia daqueles em que nem o sol pode aquecer. Porque chega um tempo em que o sol não aquece mais. Ele queima.


Escrito pra Bruna Uesugui. :)

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

"Coisas assim, você sabe? Eu, sim: amar o mesmo de si no outro às vezes acorrenta, mas quando os corpos se tocam as mentes conseguem voar para bem mais longe que o horizonte, que não se vê nunca daqui. No entanto, é claro lá: quando os corpos se tocam depois de amar o mesmo de si no outro. Portanto, não se olham. E não sou eu quem decide, são eles. Não se deve olhar quando olhar significa debruçar-se sobre um espelho talvez rachado. Que pode ferir, com seus cacos deformantes." Caio Fernando Abreu, in O rapaz mais triste do mundo

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Carta à Clarice Lispector.

Carta à Clarice Lispector.

Oi.
Sabe Clarice, eu estava lendo aquela frase sua e ela dizia:
"Suponho que me entender não é uma
questão de inteligência e sim de sentir,
de entrar em contato... Ou toca, ou não toca". ...
Gosto da tua sensibilidade sabe... Do teu toque, gostei inclusive dessa frase, mas sabe, a questão é a falta do toque. Eu me pergunto será que pelo toque você conseguiria sentir o tamanho da minha dor?
Não Clarice não. Você se lembra da Lore? Ela não sabia viver e eu sei Clarice, eu aprendi, eu aprendi a viver ou vivo sem saber que não sei estar viva. Isso me lembra uma frase do Caio,
‘só não saberás nunca que
nesse exato momento tens a
beleza insuportável da coisa
inteiramente viva. ’ .
Ou me lembra o título
“A Insustentável Leveza Do Ser”.
Não Clarice, a dor não é de estar viva e se saber estar, sabe a dor não é de viver como a Lore, querendo sem saber querer, sem estar pronta pra querer.
Não é tristeza essa dor Clarice.
A dor é de não suportar dentro de um só peito tanta paixão, tanta alegria.
Será que você saberia disso Clarice? Ou do quanto eu tenho certezas e nenhuma dúvida?
O meu caminho é claro, é assim que eu vejo, é como uma rodovia infinita, não tem retornos, mas não tem obstáculos, não tem outros rumos, mas tem cruzamentos onde deságuam as pessoas, que vêm de longe, ruas em que não posso seguir.
Essas ruas só me trazem e foi em uma dessas ruas que chegastes Clarice, junto com uma moça tão bonita de cabelos pretos e pequenos, que tanto me fascinou, que fez meus olhos descobrirem coisas, assim sem querer, sem ensinar.
Cheia de marcas e amores e ocupações.
Essa menina Clarice, não continuou contigo, nem comigo, mas ela volta, volta e meia, volta em meia, e completa.
Essa menina que não é sua, nem minha e que cruza sempre, pra sempre a minha rodovia.
Com todo o seu carinho num desses cruzamentos ela me trouxe a raiva, noutro a esperança, noutro a tristeza, noutro a beleza, noutro a leveza de vê-la completa e é essa que eu quero, a leveza, só ela. Noutro desses cruzamentos ela me trouxe Caio (o Fernando sabe?).
Caio, você e a leveza, as minhas maravilhas, os meus presentes. Dias atrás escrevi a Caio, dizia-lhe como gostaria de ter lhe visto como ele lhe viu, e como a descrição que ele fez de ti me assusta.
És bela Clarice, tens a melhor beleza, a de entender, ou fingir entender, os outros muito bem. Caio também tem essa coisa, eu acho que somos almas pares, eu e Caio, você e ela-de-cabelos-curtos-facinate. Somos todos amantes das letras, literatura, melodia e arte.
Somos amantes eu acho que é isso. Somo amantes entregues na nas mãos dos nossos amados (dos próprios amantes eu digo) e se sofremos é porque temos coragem de amar e entregar e arrebentar o peito com essa paixão que o preenche como se coubesse lá dentro e que insiste em tentar, em se alojar.
É isso, temos coragem. (queria te dizer que acho que a Lore é muito corajosa, ao se descobrir e combater seus medos. E dizer que a Lore veio junto com a tristeza, ou raiva (?), ou a leveza (?), eu não sei, mas veio com ela.)
Será que a agradeço pela leveza, por Caio, por você ou por Lore?
Um dia escrevo a Caio pra falar dela, ou um dia escrevo a ela pra falar sobre vocês. Ou a toco. Porque ela tem sua delicadeza Clarice. Se ela tocasse acho que sentiria.
E você Clarice o que sentiria se me tocasse? O tamanho da minha paixão, ou a dor que ela me causa?
Um abraço. Volto a lhe escrever.

Carinhosamente; Adrielly Soares de Castro.
Ps. Dedicado a Yandara.
[Também gosto do nome.]
.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Sobre Confusões.

- Eu... estou indo embora.
Laura estava ali; vulnerável, latente, irritantemente sensível a qualquer apelo que ele fizesse, a qualquer palavra, ou levantar de sobrancelhas.
Era angustiante deixar as coisas para que ele resolvesse, mas essa era a única maneira que ela encontrara para saber o que ele pensava, o que ele queria.
Laura de frente pra Thiago, com aquelas roupas mal-dobradas, enfiadas dentro de uma bolsa qualquer, que era dele, esperando que ele dissesse alguma coisa, atenta a cada expressão fácil, a cada mexer de dedos e tremor de pernas.
Esperando, sinceramente, que ele a pedisse pra ficar, que ele só uma vez, pedisse rapidamente e baixinho, para que ficasse e instantes depois descobriria que muitas das roupas ainda estão no armário, as maquiagens, a escova, as meias e algumas calcinhas. Descobriria toda a farsa que ela armara. Tiago só precisava dizer uma só vez e ela nem tripudiaria, nem exibiria sua vitória, nem se vangloriaria.
Eles se olhavam num silêncio que podia ferir os tímpanos, enquanto os carros e ônibus passavam por de trás das janelas embaçadas, poeira, partículas de pó e de vida. Vestido apertado, maquiagem borrada, salto alto, parecia ter se vestido para uma festa, uma festa que ele não compartilhava. Não tinha alegria nos olhos, nem no rosto, nem na boca de nenhum deles a não ser no brilho dos sapatos pretos dela. Cheiro de whisky, cheiro de whisky barato que ele odiava, copo na estante com cubos de gelo do lado da garrafa vazia de bebida nacional. O bebera inteiro? Não sabia. Não se lembrara, desconhecia a existência dessa garrafa de bebida em sua casa. Mas desde que ela viera morar com ele naquele cubículo, ele já desconhecia todo e qualquer objeto achado de repente pela casa. As coisas dele ela certamente abarrotou naquelas caixas do escritório, não, escritório não, aquilo agora era uma dispensa, como se pudessem ocupar um cômodo só com bobagens, que não faria falta a ninguém.
Ele sabia que era complicado pra ela, tanta mordomia e de repente... De repente o que? O apartamento apertado pra sustentar, contas pra pagar. Sabia que não podia viver de amor o tempo todo, e que aquela situação era diferente da vida que ela tinha antes, mas afinal, de quem foi a maldita idéia de ela sair de casa pra morar com ele? De quem foi a maldita idéia de juntar os trapos pra compartilhar problemas e dívidas e deixar que isso atrapalhasse o amor, o maldito sentimento [seja lá qual for o nome dele] que unia os dois. Tão diferentes. Tão inconstante, tão culta, um nível muito acima dele. Um nível, dois níveis, quem sabe três? Sabia que aquele momento um dia chegaria. Sabia que um dia ela se cansaria de brincar de vida real e voltaria pra sua casinha de bonecas, e não podia fazer nada. Não podia fazer nada que a fizesse ficar.
E ela ali, a sua frente chorando, borrada e derretida, quase ajoelhada, quase implorando um pouco mais de atenção. Um pouco mais de amor das palavras firmes que ele costumava dizer quando as coisas estavam fora de controle como agora. Ele dizia que tudo ia ficar bem, apertando-a ,e ela sabia que ia, porque ele dizia, porque ele a apertava e afirmava com tanta convicção, com tanta maturidade que ele tinha a mais que ela, com tanta coragem que ela sempre admirou. Ele sempre foi mais forte que ela, mais maduro, mais pé no chão, mais consciente de todos os problemas, ela era quem sonhava e ele colocava as vírgulas e pontos nos sonhos dela, o que ela adorava, ter quem a puxasse pra verdade, mas sem desmanchar, sem apagar os sonhos dela.Ela nunca ligou para os problemas, para as contas, só queria que ele fizesse como antes, a pedisse pra ficar calma e fizesse amor com ela no tapete da sala, no meio de cinzeiros e garrafas de vinhos e vodca. E depois abraçados falaria de como as coisas são difíceis, de como ele a ama, e de como nada do que acontecesse poderia interferir nos planos que tinham. Esses eram seus planos. Vinho, amor, cinzeiro.
Mas era ele quem colocava , era ele quem colocava os pontos.E foi o que ele fez, colocou um ponto, final, ele se calou dessa vez. Era assim que ele achava que deveria ser. Ela voltar pra sua casa, pra sua vidinha fácil. Ele realmente achou que o amor dela havia acabado em meio a tantos problemas. Sentou-se no sofá e olhou para a mala feita que ela deixara a seu pé. Levantou a mão e apontou a porta como quem diz, vá. Ela atordoada, foi obrigada a ir embora, virar as costas e a página e sair da casa e da vida dele como se fosse assim sua decisão, sua vontade, pelo menos por hoje. Que dessa vez Thiago preferiu não a pedir pra mudar de idéia, porque ele não a queria infeliz, e julgou-se incapaz de dar o que ela queria, incapaz de um dia a fazer verdadeiramente feliz.



Obs: estava pronto, mas achei que alguns retoques eram válidos.



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terça-feira, 22 de julho de 2008

Sobre Angústia.

"Ando angustiada demais, meu amigo, palavrinha antiga essa, angústia...". E assim me angustiam as coisas que acontecem e as que deixam de acontecer. Chato isso, chato aquilo e isso também me deixa angustiada. Cacos de vidro, bonecas de porcelana, feridas abertas, relacionamentos à distância. Distância, a distância me angustia. Porque na distância não existe o toque, não existe o cheiro, na distancia se perde o que se construiu, se perdem as lembranças, na distancia se PERDE e tudo beira a tristeza, melancolia. A minha angústia maor sempre foi a distância. O meu desejo maior sempre foi sair daqui. E viajar. O mundo inteiro? Quem sabe? Um tempo pra cada lugar, longe de tudo e perto de alguma coisa que me faça falta, e assim pra sempre. Em cada porto uma vontade, uma saudade sanada, em cada porto uma saudade acumulada.

14/06/2008

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Sobre Precisões. [ ? ]

Tenho pensado muito e escrito pouco. Quando eu penso em escrever não me vem nenhuma história na cabeça. Nem quando eu penso em situações, nem quando eu vejo elas acontecendo na minha frente, no meu nariz.

Quando eu consigo pensar em algo, a primeira palavra que me vem à cabeça é PRECISO. E eu tendo começar um texto com a palavra PRECISO, mas acho que já tenho tantos textos que demonstram precisões, “querências”. Acho que todos os meus personagens QUEREM, antes de tudo, eles querem saciar alguma coisa, alguma vontade, ou desejo, ou algum tipo de tesão reprimido.

“Preciso-de-algo-uma-razão-pra-viver-e-sei-que-só-está-dentro-de-mim” *. Já cheguei a pensar assim, é um bom discurso para algumas espécies de livro de auto-ajuda, e talvez até funcione bem, eu juro que um dia cheguei a acreditar e me desesperar por ter escondido tão bem essa espécie de luz interior em algum lugar do corpo tão improvável que nem eu mesma consigo achar ou me lembrar.

Mas acho que sou do tipo, da espécie de gente que sabe, que no fundo sabe, que as coisas não são tão límpidas e puras e românticas assim .
Eu não queria dizer isso, assim pra você. Aqui, sem nenhuma preparação. Até porque eu não sei que espécie de pessoas é você. Isso não era pra ser chocante, mas talvez você ache, e me chingue. “Idiota, do que ela está falando?”, “Que essa vadia pensa que está dizendo?”. Essa vadia está dizendo que no fundo, não no fundo onde existe aquela tal luz em você, porque ela não serve pra você, no fundo, todo mundo, o mundo todo, “ouça” bem, têm necessidades, o mundo todo precisa de alguém.

Eu fui crua? Respire, conte até dez. Sim, foi isso mesmo que eu disse. Essa ilusão de ser feliz sozinho um dia passa. “Necessitamos uns dos outros para sermos nós mesmos" **. As pessoas precisam de algo que elas mesmas não podem saciar, só outro pode ter (é aí que entra aquela tal luz me entende?) ninguém é completo em si, se não beiraria a perfeição.

Essas pessoas auto-suficientes (aparentemente) se acham assim porque na verdade são estagnadas, elas não saem do lugar, elas não têm sonhos, nem desejos, nem ambições e por isso se satisfazem, por não saberem o que querem, não saberem o que precisam. Assim que essas pessoas se moverem verão que precisam de alguma coisa, algo que eles não têm.

O que eu ia dizendo é que, eu sou da espécie de pessoas que sabe do seu vazio interior, entende? E que consome tudo e todos ao seu redor pra preencher essa vasta necessidade. Eu sou da espécie de pessoas que precisa de alguém, não que eu não saiba, ou não queria, ou não precise de solidão... vez em quando e somente vez em quando.

E eu sou do tipo de pessoa que sabe, embora no fundo todos nós saibamos que essa espécie de luz interior só faz sentido no alheio. A minha tal luz-inteior-escondida só servirá para dar razão a outro. Sim, eu quero dizer que vivemos sim da luz dos outros, que a real razão de vivermos é que encontramos todos os dias os raios da luz de alguém que vão irremediavelmente irradiando a vida da gente.

E eu sou da espécie de pessoas que precisa demais, de mais do que se é dado, eu não quero beijos quero corpos, não quero companhia quero um corpo sendo o outro, não quero complacência que padecência mútua, eu não quero um amor que uma vida entregue em minhas mãos, não quero uma porção de acatos, mas uma porção de discussões, e não quero uma marionete quero um corpo , coração, e cérebro que viva por mim sabendo o que quer e não esperando que eu o diga.

Eu queria terminar o texto com algo como, “doces inocentes que conseguem viver da auto-consumação, da auto-precisão, mesmo que por tempo determinado” porque eles são felizes assim, nessa ignorância, mas infelizmente, tenho que expor a minha impressão pessoal... A minha triste experiência pessoal.

Desculpe, eu te assustei? Dizendo que você vive de alguma ilusão provisória? Não sei se você acreditou, aliás, todo mundo tem uma teoria não é? Essa é a minha. Desculpe, você pode ignorar o que eu vou dizer, ou pensar “O que essa louca insiste em dizer?” A louca ta dizendo agora que odeia essa espécie de pessoas que são auto-suficientes. É elas são felizes, mas fazem dos outros menos felizes. Talvez até mais felizes do que eu, mas têm uma incapacidade, têm um defeito, uma frustração que eu não tenho. Essas pessoas não sabem ganhar, e eu vivo de caridade. Essas pessoas não sabem se dar. E eu? Eu me dou por inteira.

* Caio Fernando Abreu

** Santo Agostinho

terça-feira, 8 de julho de 2008

Sobre Prazeres Momentâneos.

- Espera. Fica mais um pouco. Será que podemos ficar sem sentir coisa alguma?

Tinha medo de como aquilo soasse, não queria que parecesse algo como “Sabe, até que você é interessante, mas eu não me interesso.” Embora fosse aquilo mesmo que sentisse. Não é que não se interessasse, apenas não se interessava em se interessar.

- Será que você pode ficar mais um pouco, e não pensar em nada? Só... Ficar?

Não queria que parecesse. “Eu gosto da sua companhia” embora fosse aquilo mesmo que dissesse, que sentisse. Mas gostava de muitas companhias e isso não fazia dela especial. Naquele dia, hora e lugar era ela que ele queria, inteira, para si. Sem esperar sem sentir. Queria por querer. Por capricho. Por prazer.




Obs: Isso aqui anda às moscas. Será que moscas sabem ler ? oO

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Conto de Verão Nº8 A separação:

O nome dela era Ada Zácaro e o dele Zeno Adams e foi isso que os aproximou.
Não importava se a chamada fosse feita pelo primeiro nome ou pelo último, estavam sempre em extremidades opostas.
Um dia comentaram isso no pátio da escola, nem sonhando que em pouco tempo ela estaria no altar ao lado dele, dizendo sim,
sim eu quero, sim, ser Adam Adams, primeira em qualquer chamada, e foi a primeira vez que se falaram.
O alfabeto inteiro os separava, mas tudo o mais os unia, principalmente os hormônios.. Estudaram juntos para o vestibular.
Estudaram juntos para o vestibular. Português, física, química e - numa tarde especialmente primaveril, sim, sim, eu quero,
sim- anatomia. Casaram-se, e não me lembro de um casal mais apaixonado. Dele lamber o braço dela em público, como aconteceu um dia na nossa frente.
Em casa, depois minha mulher disse "você nunca lambeu meu braço em público", mas depois completou, sensatamente, "graças a deus".
Com eles não tinha o sensatamente. Viviam se agarrando em qualquer lugar e contavam a história do alfabeto que os separava como se o
amor deles fosse uma vitória sobre o destino, e sua paixão uma forma de insubordinação aos deuses.
Deviam ter dado mais atenção ao alfabeto do que à química, no entanto, porque depois do casamento foram aos poucos descobrindo o que,
além da paixão, se se beijassem menos e conversassem mais, já saberiam. Ela, por exemplo, detestava o Schwarzenegger,
ele não agüentava o Caetano. Divergiam em tudo. Comidas (ele embutidos, ela saladas). Pavores (ela barata e cigana, ele aranha e mímica).
Mas, principalmente, divergiam no clima. Ela adorava o calor, ele preferia o frio. No verão, ela, que já era morena, ficava preta.
Passava os dias no sol. Ele considerava o sol um tirano e vivia na sombra como quem vive em clandestinidade.
Se emocionava quando falava em ar-condicionado. No fim do verão estava mais branco do que no começo.
Na cama eram qualhada com pato laqueado. Depois não era nem mais isso. Começaram a se afastar. Camas separadas, depois quartos separados,
depois ela no apartamento e ele num apart-hotel, depois ela no Rio e ele em Buenos Aires, depois ela em Manaus ele na patagônia,
e agora me contaram que ela está vivendo na áfrica Equatorial, e ele numa ilha lá aquela ponta onde Chile e Argentina disputam a custódia dos pingüins.
E o curioso é isto: não se divorciaram. Ela foi à África fazer alguma coisa ligada à educação, mas hoje não faz mais nada e vive numa praia,
e dizem que está uma passa. E pede: “contem pra ele, contem pra ele”. Ele diz que foi pra tal ilha fazer pesquisa - mas dizem que sua única
ocupação é evitar que o vento o arraste para o mar. Ele parece um palhaço com a cara muito branca, o nariz vermelho e as extremidades
da boca puxadas para baixo numa eterna expressão de desgosto com a vida. E pergunta "ela está sabendo? ela está sabendo?”.
Só falam m no outro. Minha mulher comentou que eles se separaram ardentemente, que a deles é uma separação mais apaixonada
do que o casamento, e disse "Ainda bem que a gente combina em tudo, né bem?". Mas ficou com o olhar perdido, pensando na Ada
e no Zeno. Ada e Zeno, com o mundo entre eles, incapazes de se desligar. Mulher tem essa coisa romântica um pouco doentia, acha não?


Luis Fernando Verissimo.



Obs: Eu não tenho escrito nada que se valha a pena ler. Então, fiquem com verissimo e eu fico com os rascunhos mal elaborados. Divisão justa, acreditem.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Sobre Cartas

~~Tem tantas coisas que eu achei que você precisasse saber... E eu queria que você soubesse pelo menos algumas dessas coisas.
~~Eu sei que você sabe que eu nunca durmo quando você vem. Mas você tinha que saber que, não meu bem, você não me incomoda, mas é que você me vem tão pouco que eu não quero perder nenhum segundo quando estou do seu lado, que eu passo essas duas noites da semana acordado, olhando você dormir, enquanto respira. Eu queria tanto saber o que você sonha quando no meio da noite você suspira e sorri aquele sorriso doce de quando você vê o mar. E nas noites frias como você se encolhe fazendo caretas até que eu lhe coloque um cobertor. Eu sei que você ouve nos seus sonhos as canções que eu escuto nas madrugadas: Caetano, Marisa, Chico, Elis... E quando você vai embora antes de entra no ônibus você diz: - Procure dormir, meu bem.
~~Essa noite eu pensei que você deveria saber que o meu passado talvez não tenha passado. Você entende? Eu não queria que ficasse com medo, eu não queria que ficasse insegura, eu sou toda tua, meu bem, só tua. Sabe quando alguém se torna importante pra você? Eu não saberia te explicar, se não já teria dito antes. O que eu queria que soubesse é que eu me importo com você, você é especial pra mim, como uma outra pessoa já foi um dia, mas meu coração carrega mágoas, promessas não cumpridas, amores platônicos, sentimentos abafados e é preciso compreender, é preciso conviver. Eu não quero brigar por isso.
~~Essa noite, pensei em te dizer que, muitas vezes, quando eu descansava em seu pescoço, eu fechava meus olhos e sentia teu cheiro só pra conseguir te imaginar quando não está aqui. E que quando abraço o travesseiro sentindo o seu perfume é como se você estivesse aqui, é quando eu consigo dormir melhor.
~~Essa noite, quando me peguei te olhando e querendo te dizer tanta coisa, quis dizer que eu gosto de te escrever, de te ler, te descrever e que eu gosto quando me lê, mesmo que eu nunca te pessa, e mesmo que eu vá escrevendo e jogando todos esses pedaços de papéis rabiscados nessa gaveta abarrotada, bagunçada. E queria te dizer que me dispo inteiramente nesses bilhetes colocados estrategicamente nas suas coisas e que essas frases, poemas e versinhos de música são o que realmente sinto, sinceramente sinto por ti amor.
~~E essa noite eu pensei que talvez pudesse te contar como eu me sinto. E eu quis sussurrar no seu ouvido canções de amor pra você sonhar com a cena que melhor lhe convir enquanto eu canto. Não seria perfeito, amor? Você poderia me imaginar como quisesse e eu nem saberia a quem você está vendo, mas você saberia que era eu, por trás de toda aquela falsa materialização e você acordaria distribuindo sorrisos a todas as flores do jardim. Eu quis dizer como era, quis dizer coisas belas, revelar meus sentimentos. Mas amor, escrevi-te uma carta, que fala sobre coisas, coisas que eu sinto, coisas que existem além do que você sabe. Amor, eu te escrevi uma carta, á tinta, papel reciclado. Uma carta que talvez não chegue até você. Mas é sua. E ficará nessa gaveta. E mesmo que você não leia, tudo que eu achei que deveria te dizer essa noite, eu já disse. Eu fui honesta, eu fui sincera, escrevi o que você precisava saber e eu já não tenho mais necessidade de contar. Abro a gaveta e deixo sua carta, aberta, mexida. Nessa gaveta é como se você já soubesse.

sábado, 7 de junho de 2008

Sobre Dificuldades.

Era difícil ser ela... Falava tanto dos seus sentimentos das horas vagas dos barulhos, das histórias e às vezes com a mesma intensidade esperava ouvir; histórias de um dia cansativo, besteiras do cotidiano profissional, confissões, qualquer coisa.
Era difícil ser ela... Com toda aquela beleza extravagante, aquelas formas tão ainda juvenis que encantava a todos que a viam, até mesmo pessoas do mesmo sexo. Pois sabia se portar, se vestir sem toda aquela vulgaridade que às vezes via e não entendia. Mas tanta formosura a obrigava a duvidar várias vezes das intenções alheias, para o seu próprio bem.
Era difícil ser ela.... Trabalhar com tanta gente, ter que saber o nome de cada funcionário ali. Organizar-se, esforçar-se dedicar-se pra no fim levar um culpa em suas costas que não lhe pertencia.
Era difícil ser ela... Desavenças com a família que não entendia o caminho que ela queria seguir, não entendia que ela amava a todos, mas não podia em hipótese alguma abdicar de suas vontades para as vontades alheias, não podia abdicar de sua alegria para a alegria alheia, como vira sua mãe fazer várias vezes enquanto em silêncio, no canto, sozinha, a condenava por isso.
Era difícil ser ela... Os dias eram cansativos, pesados, entendiantes, duradouros...

Era difícil ser ele... Aceitar que ela ganhasse mais e por isso também pagasse mais das despesas da casa, arrancava fortemente o brio de todo aquele machismo antiquado cravado nele, herdado do pai. Vivia esperando alguma grande promoção que aumentasse o ordenado, mandava currículo para firmas novas e não demoraria para que subisse na vida, ele, sua competência, sua determinação e seu machismo.
Era difícil ser ele... Tão inseguro, tentando agradar a todos, o máximo que conseguia, sentindo perder ela a cada manhã que acordava, pois o tempo passava... E não há nada pior do que o tempo, que desgasta, que corrói, deteriora, enferruja. E isso abrange não só os relacionamentos, inclui também os sonhos que aos poucos se tornam menos viáveis.
Era difícil ser ele... Querer falar explicar o que ela não entendia, o que ela não sabia, mas gostava tanto da voz dela, de como ela sorria docilmente quando falava de como estavam bonitas as rosas que plantaram juntos, então ele nessas horas se esquecia do que queria falar e ficava olhando pra ela a contar como depois por o adubo regariam as plantas no Domingo.
Era difícil ser ele... Que às vezes queria jogar tudo pro alto e fugir com ela, pra qualquer lugar que ela quisesse, que às vezes queria chorar no colo dela como fazia quando eram pirralhos e ele contava pra ela desilusões das namoradas de colegial.
Era difícil ser ele... Aceitar tanta independência tanta precisão, tanta inversão de papéis a falta que ela fazia a falta que fazia um filho dela e que sua mãe lhes cobrava tanto nos almoços de família.

Mas no fim do dia, quando se deitavam, juntos, cansados de mais um dia banal de trabalho, se equilibravam entre o calor das mãos quentes dele e o gelado dos pés frios dela.
E por se completarem, por se entenderem, se aceitarem, se quererem agradeciam todos os dias em uma qualquer oração que faziam fielmente, todas as noites, depois daquele cordial "Boa noite, meu bem.”.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Sobre Reações.

Então, se você for embora, eu ficarei aqui, livre, mas presa aos meus sentimentos, às lembranças que você esqueceu. Esqueceu sim, porque você nunca me deixaria algo bom de você, ou do que existe.
Então, se você for embora, eu ficarei aqui, olhando para o tempo, enquanto ele espera que você volte, enquanto penso como tudo poderia ter sido diferente, mas não foi não é?
Então, se você for embora, eu vou guardar meus sonhos, sonhar outros, e caso você volte, eles estarão aqui, intactos, para serem novamente deixados de lado, passados para trás.
Então, se você for embora, eu ficarei aqui, tentando encontrar em cada pessoa as suas qualidades, que eu nunca elogiei, e os seus defeitos, que eu sempre critiquei.
Então, se você for embora, eu vou tentar me distrair, eu vou tentar sair daqui eu vou fazer coisas que você sempre odiou que eu fizesse, as quais nunca deixei de fazer.
Então, se você for embora, eu vou pensar porque, vou mudar meu jeito, eu vou ter mais respeito, por você, por mim, não vai me fazer bem te ver ir, eu sei, mas talvez seja melhor assim.
Então, se você for embora, o tempo fecha, a casa cai, a vida muda, eu vou à luta, bato com a cara na porta e aprendo a não me acomodar mais.
Então, se você for embora, eu ficarei aqui, tentando mudar o que vocÊ não gostava em mim, sem saber o porque, ainda me importo com isso. talvez pra que ninguém toque nesse assunto e me faça lembrar de você.
Então, se você for embora, eu ficarei aqui, trancada no quarto, ouvindo músicas românticas, lendo suas cartas, revendo fotos e se eu conseguir, quem sabe, dormir ?
Então, se você for embora, eu vou tomar um banho, sentindo a água cair de leve sob o meu corpo, como faziam os teus lábios.
Então, se você for embora, eu sigo em frente, sem me culpar pelos teus atos, sem tristezas, mas nostalgia, afinal, é isso que nos faz sentir um bom momento.
Então, se você for embora, eu vou estar aqui, sem saber o que fazer, mas com a certeza de que eu estarei feliz, sempre, com ou sem você, já que o termo correto para nomear o que nos une é AMOR e não dependência.

19/10/06
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Antigaço.
oO

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Sobre Pieguismo.

- E se você partir ?
- Você vai junto.
- E se eu não puder ir ?
- Um dia eu volto e não demoro.
- E se você demorar ?
- Eu escrevo pra falar de saudades.
- E se eu precisar de você ?
- Eu largo tudo e volto correndo.
- E se for só capricho ?
- Eu te ligo.
- e se for só carência ?
- Eu mando flores e bombons
- E se eu não sentir sua falta ?
- É porque eu nunca terei partido.


Uma dose a mais de pieguismo pra uma pessoa já tão piegas.

domingo, 4 de maio de 2008

Sobre o Silêncio.

.Vai está fácil pra você. Eu estou aqui na sua frente. Jogue as pedras que quiser, porque quando eu abrir essa porta, quando eu sair por esta porta eu não vou mais voltar, a não ser que você me convença de que eu estou errada.
.Eu sei de todos os seus erros e todas as suas injustiças e sei como foram grandes, e como doeram, mas eu não sei dos meus. E se você me convencer que eu errei ,e errei feio, eu fico. Fala o que você quiser, o que tiver vontade, e eu posso pensar em ficar. Mas se você se calar eu vou embora. Porque o seu silêncio já me machucou demais, já me falou demais, já me feriu demais.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Sobre Abandono

Não se preocupe, eu gosto de ficar sozinho às vezes, ficar na solidão entende? Curtir uma fossa como diria você!
Pra que companhia? Pra que querer contagiar alguém com essa loucura incessante, com essa mania doentia de tentar me expor? Pra que dizer tudo que se sente? Se fosse pra todo mundo saber a gente não teria aprendido a mentir (e tão bem, diga-se de passagem) não teríamos aprendido a fingir expressões e a conversar com Deus.
Escrever pra que? Se você sabe o que eu sinto, se as pessoas sabem o que eu vou dizer, porque é tudo tão repetitivo não é? Falar pra que? Se eu só fui entender depois de você que não adianta mais nada nossa cordialidade, não adianta mais nada nossa sentimentalidade!
Ha. Não chora amor. Não é que eu não queira saber o que você sente, só que se você disser que me ama eu não vou conseguir ir embora, e você sabe que eu preciso, que vai ser bom pra nós dois antecipar esse qualquer fim trágico que virá daqui a pouco.
Ha. Chora amor... Que a dor se dilui em lágrimas, não, não é sal, as lágrimas tem o gosto amargo de um coração afogado em dores qualquer..
Podes escorar no meu ombro que eu não espero a dor passar porque ela só dará lugar a mágoas e lembranças e saudosas, doloridas ,ainda assim, de nostalgia. Mas sim meu bem, eu espero você dormir, mas depois eu vou embora, vou te olhar dormindo mais uma vez, e pela última vez. Até que o nosso nunca mais possa acabar um dia, assim como o nosso pra sempre acaba aqui. Com uma garrafa vazia de vodka nacional, um cinzeiro cheio de bitucas e cinzas, um cheiro de sexo, roupas jogadas e os cacos dos copos e vasos que você vai quebrar quando acordar, quase imaginando na parede o meu desenho, desejando profundamente que o meu carro bata contra o muro da esquina ou caia daquela ponte antiga no meio da cidade.
Não responda a nenhuma carta que eu mandar querida. Cartas que estarão datadas de dias frios, nebulosos e alcoolizados. Dias em que vou estar sozinho em algum hotel, desejando alguma mulher que saiba fazer o que você faz, talvez depois de te escrever dizendo coisas melosas eu chame uma puta qualquer do hotel pra dar uma boa trepada.Você me conhece, sabe o quão sedutor e romântico eu posso ser com todo esse tesão reprimido.
Não responda as minhas cartas, se possível nem as leia, pense qualquer coisa ruim de mim e evite quebrar mais vasos, você sabe aquele papo de não-me-venha-com-arrependimentos-amor-já-é-tarde-demais. Engraçado que se você me dissesse isso agora, eu não precisaria tentar te convencer que isso é o certo, enquanto você bêbada e trôpega quase não me ouve.
Não me ligue querida, não me deixe te confundir outra vez. É claro que amanhã eu vou querer ouvir tua voz, amanhã eu vou querer me embebedar de você, mas eu preciso aproveitar esse súbito ataque de lucidez nessa noite embriagada pra fazer o que é certo, você sabe, bebidas me dão coragem, como quando bêbado eu fui pedir a tua mãe que te deixasse namorar comigo.
Não faça isso meu bem, não adianta se cortar, não adianta me bater, ou arranhar as paredes e rasgar os lençóis. Essa dor que não é só tua não vai sair, não vai doer como tuas cólicas e arranhões e volta e meia vai latejar doidamente em algum lugar entre o estomago, a bexiga e o pulmão, como se crescesse dentro de você e te impedisse de respirar.
Ha. Calma aí. Você já sentiu essa dor alguma vez, eu não fui, nem serei o único a quebrar seu coraçãozinho princesa. Vamos ser realistas, o que foi que eu te dei? Algumas brigas feias com teus pais, uma casa apertada, o trabalho cansativo pra ajudar a comer essa comida ruim de anteontem, um pouco de diversão, bebidas alcoólicas, enjôos, incompreensão, falta de carinho.
Oh meu bem, volta pra tua casa, volta pros teus pais, retoma um pouco da dignidade que brilhava nesse teu olhar, dedica-se mais aos teus estudos, retoma teu tempo.
Vem meu bem, eu te levo até o banheiro. Ta tudo bem, querida eu seguro teu cabelo. E enquanto você pensa se eu estou falando sério ou se só vai durar até amanha, eu cuido pra que você não suje mais nada além da privada, e cuido da ânsia que me dá de te ver assim, jogada no chão sujo e frio dessa casa que até ontem não nos incomodava.
Deixe estar que tudo vai passar, prenda teu cabelo, lave teu rosto, escove teus dentes que eu ponho aquele café forte e morno naqueles copos de requeijão pra você.Isso, toma um pouco!
Venha se deite aqui na cama, enquanto eu arrumo um pouco do que não vai pro lixo amanha, porque aí você só terá mesmo que jogar tudo fora, lavar as coisas sujas, passar tudo a limpo. Se cobre, eu tiro tua roupa com cheiro insuportável de álcool, guaranás baratos e queijos mofados, sem olhar pro teu corpo agora de calcinha.
Te faço uns cafunés, os últimos, te beijo a boca de hortelã, e assim que dormires, eu vou embora. Jogo as chaves de baixo da porta e deixo com você meus discos. A roupa alguém busca depois.
Deixo pra você também minha outra metade, só por garantia, que é pra não correr o risco de um dia eu voltar atrás.
Ha não se preocupe amor... Eu gosto de ficar sozinho às vezes, ficar na solidão entende? Ou curtir uma fossa como você diria..

Adrielly Soares ( 08/04/08 )

domingo, 20 de abril de 2008

Sobre Unilateralidade.

.Não esse não vai ser mais um conto, um conto desses meus normais. Não, por favor, não confunda não-normal, com algo especial, eu não teria essa pretensão. O que eu quero dizer com “não-normal” é que ele é, só, diferente, sem ser excepcional... Me compliquei, não foi? Tudo bem. Acontece que ele não vai ser igual ao outros, em que a narradora (ou quem quer que seja) brincando de Deus, em sua clarividência, sabe de tudo que se passa em todos os lugares e pensamentos. Sabe o que “Ela” e “Ele” pensam ao mesmo tempo.
.Dessa vez eu serei, um tanto quanto, mais realista na minha unilateralidade. ! Não é assim que você chama? Unilateral. Eu até que gosto dessa palavra... Talvez gostasse mais se você não tentasse me ofender, dizendo que eu sou unilateral em excesso na tal da “vida real” como você chama. Mas o que você talvez não saiba que SIM realmente “a arte imita a vida” ou vice-versa... Eu só sei que as duas são tão interligadas em mim, que às vezes é difícil saber o que imitou o que, o que veio primeiro, se a idéia, ou a inspiração. Você me entende?
.Talvez toda essa omnipresença ou omnipotência, sei lá, desses narradores ou personagens, sejam só uma maneira de eu tentar entender o porquê de determinadas reações, talvez seja um jeito de eu tentar adquirir um pouco dessa bilateralidade toda. Mas talvez toda essa tentativa só esgote a minha bilateralidade em algo que não seja você, você não, (olha a unilateralidade de novo) nós dois. Você me entende?
.Ta tudo bem, eu também não entendo você às vezes, mas porque tanta necessidade de entender? Não dá pra aceitar-mos sem entender? Como a maioria das pessoas faz com a filosofia? Ou algumas mulheres com o futebol? Será que não podemos pular essa parte do entendimento e irmos direto para a aceitação? Algo como engolir sem mastigar? Aceitar sem reclamar?
.Acho (unilateralmente) que a única coisa que devemos entender é afinal, o que, nesse turbilhão de coisas é que nos faz querer tanto um ao outro. E destrinchar, desmanchar tudo, jogando fora a precisão, o medo, a solidão, até acharmos o que sobra. Sabe, eu queria que sobrasse amor. Eu queria muito que sobrasse amor.
.Mas e o conto? Sim, o meu conto. É sobre uma menina, sim uma menina sim. E o que tem essa menina? Ela está no quarto, trancada, no escuro. No teto algumas figuras estranhas dançam no ar penduradas por um fio bastante fino de linha branca. E eu consigo vê-las, ela consegue, (sim eu, ela) porque a luz do som que está ligado dá um tom de quase escuridão.
.Alguma música que toca, que ela mesma colocou, aquela que ela, eu, acha, que ele, você, gosta, sabe?

“And I'll always be waiting for you...”

.E suspira de olhos fechados… Sentindo devagar algum sentimento que sobe a cintura e sentindo um arrepio que da cintura desce, enquanto alguma coisa quente e salgada sai em fio dos seus olhos, escorrendo até molhar o lençol em que ela se deita.
.Você saber por que ela chora? Eu sei. Ela chora porque ela quer muito alguém. Ela chora porque ela ama alguém mais do que a ela mesma. “Sem personalidade” diriam alguns... “Sem amor próprio” ou até “Coitada, tão tola”. Egoístas. Todos. Não sabem o sacrifício que é abdicar pelo outro, sabe esse negócio de amar exige esforço. Ela é generosa e não egoísta.
.Mas fundamentalmente não era por isso que ela chorava. O relacionamento dela não ia muito bem há algum tempo. Eles se desentendiam tanto, brigavam tanto, mas se amavam tanto. Às vezes nessas noites de sentimentos cintura acima, cintura abaixo, olhos afora, narinas adentro, ela queria tanto que ele dissesse que tudo ia ficar bem, queria que ele dissesse o que ele pensava, sentia, vivia, fazia. Ela queria saber dele, dos tormentos e dos medos dele. Ela estava tão cansada de saber dela, ser dela e ter só a ela. .
.Não, eu não vou me estender! Meu conto é sobre uma menina que chora sozinha, no escuro do seu quarto, por querer saber do namorado, ser do namorado, ter o namorado.
.E sabe, eu não posso mudar o rumo dessa história, não posso fazê-la sofrer menos, porque eu não sei o que Ele pensa, o que Ele quer. E eu não posso sequer prosseguir com essa história, porque nesse conto, eu, ela, a narradora, é, somos, não-omnipotentes, não-omnipresentes.
.Então, ela vai chorar ouvindo

“Oh, did you want me to change? Well, I’ve changed for good”

até conseguir pegar no sono.
.Sentiu a unilateralidade nisso tudo ? Então, é isso, eu estou tentando esgotá-la!

Adrielly
17/04/07

PS: Desilusões amorosas sempre ajudam. Que continue assim.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Sobre Suficiência.

De longe eu não sou quem você, ou sua mãe, sonhou pra você. Tampouco você é aquela pessoa a qual eu me referia de boca cheia em minhas orações. Eu odeio os seus vícios, odeio suas manias, os seus gostos, as suas músicas, as suas comidas preferidas. Eu odeio o jeito como não me ouve, odeio o seu orgulho, a sua independência, eu odeio a sua falta de consideração, eu odeio o jeito como me ama, eu odeio seu desapego, eu odeio tudo que em você se refere a mim. Mas e se eu te disser isso? E se você decidir e perceber que eu não sou alguém pra você? E se você decidir que eu não faço falta em sua vida? No seu dia-a-dia? Não importa. Eu só preciso que você saiba que mesmo com tudo isso é do seu lado que eu tenho os melhores momentos, os melhores sentimentos, os melhores sorrisos, as melhores alegrias.


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Escrevendo menos, lendo muito. Lendo muitas coisas que me traduzem e me tiram a necessidade de escrever. Desculpem o descaso aqui. Remexendo arquivos e postanto o que já senti, uma vez e mais uma vez e uma vez mais. Recomendo: Clarice Lispector e Caio Fernado Abreu ( Amo! ).

domingo, 6 de abril de 2008

Sobre Confusões.

Não que ela quisesse estar em algum lugar especial, ela só não queria estar ali. Naquela sala cheia de gente dispersa, onde se podia contar nos dedos as pessoas que realmente queriam saber da inserção da Economia nas Ciências Sociais. E enquanto o homem de cabelos quase calvos falava a frente de todos, alguns mexiam em seus celulares, mp5 e tecnologias do escambal a 4, outros simplesmente fingiam que ouviam e outros liam ou escreviam como ela. Talvez quem estivesse ali na frente nem percebesse ou nem ligasse, não faz mal.
Não que ela soubesse o que queria que ele dissesse, só não queria que ele tivesse dito aquilo ali. Aquilo que ela cabisbaixa e concentrada lia durante a palestra. Ela só esperava mais, e sabe como dói esperar mais do que se pode receber? Dói como rejeição, como esforço que se torna inútil por não ser reconhecido. Dói como pisar em pregos, dói como a incapacidade de se dar por inteiro, e dar sempre menos do que o outro precisa, mas isso ela não entendia porque ela era todo amor, ela era toda entregue.
Não que ela não entendia que existissem formas diferentes de amar, só não achava que esse fosse o caso. Não achava ser provável a hipótese de ele amá-la de um jeito diferente. Porque amor é amor. E de maneiras diferentes enlouquece, desmancha, destrói, enfraquece. E ela não via isso nele, não sentia isso nele. Mas isso , como ele dizia na carta, doía nele também e o enlouquecia, o desmanchava, o destruía, o enfraquecia.
Não que eles não se dessem bem, só não se entendiam.
Não que eles não se aceitassem, só que se esclareciam.
Não que eles não pudessem ficar juntos, só... Não nasceram para isso.

segunda-feira, 31 de março de 2008

Sobre DESobediência

Eu quero alguém pra mandar em mim. Eu quero alguém que me diga o que fazer com as minhas milhares de horas vagas por dia, eu quero alguém que me diga aonde ir aos fins de semana, quero alguém que me diga pra trocar de roupa por achá-la curta e me dizer que sou dele. Eu quero alguém que me diga o que escutar, que música dançar, de quem gostar, Eu quero alguém que mande em mim.
Eu quero alguém que me diga o que assistir, quero alguém que me mande ficar em casa, que me mande largar os meus sonhos e planos só pra poder seguir os seus passos. Eu quero alguém que me diga sobre o que escrever, alguém que me diga em que acreditar, alguém que me dia em quem confiar. Eu quero alguém pra mandar em mim.
Eu quero alguém que me diga o que é certo e o que é errado, alguém que me diga o que é ruim sem que eu tenha que de sofrer na pele. Alguém que me diga que direção tomar, com quem discutir, do que duvidar, alguém que me diga pra fugir, alguém que me diga pra desistir, pra chorar, pra andar, pra correr, alguém que me diga em que hora devo sorrir, gritar e me calar. Eu quero alguém que mande em mim. Eu quero é alguém pra DESobedecer.

terça-feira, 25 de março de 2008

Sobre verdades

Era tudo uma questão de se falar a verdade. Não, minto, agora era uma questão de se acreditar no que era dito. Ele não contava tudo sempre, às vezes omitia algo que pudesse causar brigas, mas mentir ele não faria. Ele sempre foi sincero e isso talvez ela não saiba. Tão sincero que em sua ingenuidade de lhe contar os erros passados, lhe revelava as mentiras que contara a outras pessoas. Talvez por agora ela saber dos erros que ele cometera, talvez por agora ela saber que no passado ele não fora tão honesto, ela não acreditava nele agora. Talvez por não ser como ele e ter necessidades, vontades, sonhos e futuros diferentes ela não entendia os motivos dele, ou por egoísmo, autodefesa, prepotência, porque ele agora tomava as decisões não acertadas e indecisas dizendo que a culpa era dela, a culpa era do que ela fazia com aqueles milhares de defeitos que ela deixava na estante como livros empoeirados e sem querer admitir qualquer tipo de culpa, sem se lembrar dos livros na estante e sem querer livrá-los da poeira acumulada, ela só não entendia, não acreditava no que ele dizia, e seria assim que ela o veria ir embora. E ela ficaria ali, sentada no sofá, pensando no que havia pro trás das mentiras que ele contava, mas que revelaria para outra pessoa, que não ela. Outra pessoa que iria ouvir as verdades dele, as tragédias diárias dele e a história dela, de como ela foi injusta ou injustiçada, outra pessoa que um dia vai tomar o lugar dela. Um dia, talvez não tão longe. Mas agora, enquanto ele em pé discursava seus motivos... Agora, era uma questão de se acreditar no que era dito.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Sobre Mentiras.

O Telefone DELE toca. Ela pega. Mensagem. Ela lê.

"“ Oi, eu estava com saudade,
você sumiu, me liga, beijos.
Ass.: Denise. ""

Ele toma o telefone da mão dela, (Afinal o telefone lhe pertencia e não a ela) lê e pensa.
Pensa em algo pra falar assim que ela lhe perguntar, talvez não a verdade, nem a completa mentira,
só algo que a convença, já fizera isso mais vezes, sabia em qual tipo de história ela acreditaria.
Ele a conhece tão bem!! Afinal fazia 1 ano que namoravam. [pensava ele]

Seguiram-se minutos de silêncio. Ele queria explicar e ela... ela já nem sabia se queria mesmo saber.
Ele estava inquieto, como quem mente ao contar uma história absurda, afinal, as historias absurdas são sempre assim,
como um all-in numa partida de Pôquer, ou se ganha ou se perde tudo, mas a historia dele nada tinha de absurda,
era simplesmente... uma historia, ou mais uma história.
Ela sabia que ele queria explicar, então, ela fazia de conta que não queria saber.
Ela também o conhecia... e sabia que mesmo sem ela perguntar ele acabaria contando, ou se explicando.
Ela não daria uma de namorada ciumenta agora, embora por dentro se roesse de curiosidade e.... ciúmes.

-E então, não vai me perguntar quem é??
-Não, não vou.
[ela falou serena e fingida]
-Ué, mas eu quero te dizer!
-Então não precisa de eu perguntar!

Ela estava meio nervosa, ali na porta da casa dela ela poderia resolver tudo tão fácil,
era só dizer boa noite e entrar, no caso de uma discussão, mas mesmo assim decidiu não ouvi-lo,
não queria ficar com aquela velha sensação de estar sendo enganada.

-Não precisa falar nada, deixa eu evitar que você conte uma nova mentira na qual eu sempre acabo acreditando,
mesmo me achando uma idiota por confiar em você e sabendo que estou acreditando em mais uma de suas histórias,
eu sempre acabo acreditando.
-Amor?!
-ME beija?!

Enquanto se beijavam ele pensava que talvez não a conhecesse tão bem quanto pensava
e ela pensava se era pior não ser enganada descaradamente,
ou se seria pior ouvir dele mentiras e ela ter que fingir que acreditava.
Então ela resolveu mais uma vez passar por cima disso tudo,
não queria ficar sem ele, ou não queria ficar só,
mas afinal, não continuou a mesma coisa?
Ela fingindo que não tinha nada a incomodando?
Mas ela se deixou levar pela covardia, porque ela sabia que daqui a algumas horas,
carinhos, palavras e juras de amor ela esqueceria de tudo que se passou.
Ela já não queria mais pensar... e tentou fazer daquele fim de noite algo mais agradável.

-Você me leva ao cinema amanhã?

Então ficaram ali fingindo um para o outro,
se beijando, conversando, até que a hora de ele ir embora chegasse,
porque cada um tinha seus afazeres na manha seguinte.
E ela foi dormir com incrivelmente nova e desagradável sensação de... estar sendo enganada.


9 de Julho de 2007.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Sobre Fraquezas.

Ela acordou meio jogada, ali na sala, naquele “maldito sofá de 300$, que não combinava com nada”, diria ele, com o braço dormente e com uma dor no pescoço pelo mau jeito.
Eram 16h, e porque diabos ela não havia ido trabalhar hoje? Porque era dia 23 de Maio, era um dia nublado, frio, triste, nostálgico, monótono. Por nada. Só porque havia acordado pensando nele. “Só porque queria um tempo pra ficar a sós com as suas idéias, as quais precisavam urgentemente de lapidação.”, diria ele, ou talvez dissesse “Diz que ficou para passar mais tempo comigo?” que era o que ele dizia quando ela acordava bastante atrasada.
Ela se sentou no sofá, mexendo as mãos, o braço dormente e um exercício qualquer para o pescoço. Ela ainda estava de roupão e como sempre nenhum chinelo por perto, “Por isso não sara essa tua tosse!”, diria ele.
Ela foi à cozinha e se lembrou dele ao pegar o café, ele sempre deixava a cafeteira aberta. Se ela tomasse tanto café quanto ele, talvez seu trabalho rendesse mais, ou as lamentações se multiplicassem mais e mais. Talvez um pouco mais de maracujá e ele ainda estaria ali, dizendo as coisas que ela era acostumada a ouvir; brigas, reclamações, cuidados, coisas as quais ela sentia falta.
Talvez esse tempo pudesse ser bom para eles, tempo pra ver que se precisam, pra ver que se aborrecem, pra ver que precisam se surpreender um com o outro, pra ver que se amam. E foi disso que ela acordou sentindo falta, do “você me irrita”, do “me deixe ver o jornal”, do “vou sentir sua falta”, do “eu te amo”.
Foi quando pensava no “eu te amo” que esqueceu a cafeteira aberta, deixou a xícara de café na cozinha e voltou correndo pra sofá, se encolhendo debaixo das cobertas, tentando evitar se quer olhar pro telefone. Porque o final dessa história ela também conhece; ela para com o café, corre pra sala, pega o telefone, liga pra ele e diz algo como “eu não sei o que fazer quando você não está comigo” e ele como se atendesse a um chamado dela por pena e não por precisão mútua, volta, como um super-herói tentando ajudar a mocinha.
E só por uma vez ela não queria ser a mocinha necessitada, ela não queria heróis nessa história. Mas será que dessa vez, só dessa vez, ambos poderiam assumir suas fraquezas?

Ela só queria que o super-herói tirasse a máscara, a fantasia e pudesse falar um pouco mais sobre criptonita. Mas isso ela também sabe; ele não fala de suas fraquezas.
“Falar de suas fraquezas é enfraquecer-se mais um pouco”, diria ele.

(24/01/08)

segunda-feira, 3 de março de 2008

Sobre Indecisão.

Ela estava muda esta noite. Justo essa noite, a qual ela tinha esperado tanto, pra poder dizer, gritar, soar, chorar todas as decepções gota a gota até expeli-las totalmente. Ela aguentara por tanto tempo esse engasgamento. Tanto, que agora isso a deixara muda, sem voz. Todas aquelas decepções e problemas acumulados, agora não saiam, pelo nó na garganta. E cada vez que ele lhe pedia respostas (que ela não podia dar agora) uma dor no peito apertava ainda mais o nó na garganta.
- Será que você pode desculpar as coisas que eu fiz?
“O que? Todas as vezes que fez sentir culpada sem ao menos ter feito nada? Todas as vezes que amei sozinha, sofri sozinha, chorei sozinha? Se você assumisse suas culpas até seria mais fácil.” Ela pensou, mas não o disse. E murmurou.
- Eu não sei se consigo! Não sei se consigo de novo.
- Eu amo você.
Aquela frase era tão sincera como nunca teria sido talvez por isso doesse, e doía, ah. como doía. Ela sentia uma dor a cada vez que ele pedia pra voltar, a cada vez que ela pensava que não, a cada vez que ele pedia perdão, a cada som, tom, letras e frases de toda aquela declaração. Era tanta dor que ela sinceramente queria dizer que não, que ela ficou com medo de ser um sinal, de ser pra sempre assim, essas dores, essas cores, essa repetição. Era como se ele soubesse enfraquecê-la, ela estava fraca por tentar resistir, por tentar controlar, por tentar entender toda aquela dor. O “eu te amo” dele agora era um peso, que ela teria de carregar estando ou não com ele. Não era prazeroso ouvir nem sentir, era doloroso.
Por tantos dias teria esperado pra poder dizer tudo o que queria o que tinha vontade e o que era apenas frases de efeito que ela teria planejado. Nada, não saia nada.
Ela sabia o que fazer como fazer, e à hora de se fazer. E dizia coisas tão sinceras que a ela só restavam as possíveis mentiras. Era como se ele soubesse enfraquece-la. E de tão fraca ela disse mesmo que sim, tendo a certeza de um não.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Sobre Diferenças

Fazia alguns dias que ela que ela não dormia bem. Dormia tarde, acordava cedo e os sonhos dela quase sempre eram interrompidos.

Eram 03h27minh e ela acordara, assustada, não com o sonho que tivesse tido, mas com aquele sonho que ela vivia, o sonho do qual jamais poderia acordar. Pessoas como ela, quando tem problemas pensam demais, mas a única coisa que seus pensamentos lhe trariam aquela noite seria uma maldita insônia. Pense bem às 03h27minh da manhã você não vai achar nenhuma solução racional, pra nenhum problema urgente. A não ser que seja uma dor enorme na bexiga, daí você levanta, vai ao banheiro e faz xixi e volta a dormir. Ela com aqueles problemas todos e pra completar; insônia. Amanha estaria com um mal-humor tremendo.

Ela continuou pensando, pensando naqueles problemas pros quais ela não tinha solução, ela percebeu que não poderia resolver esses problemas, sozinha, não esses que a incomodavam tanto e não envolviam só a ela. Então ela chorou. Ela gostava de ter tudo a sua mão, planejar antecipadamente, resolver, controlar, ta aí ela era controladora. Por isso ela chorou.

03h31minh na sua cama, deitada no escuro, debaixo das cobertas, encolhida; ela chorou porque tinha medo, porque sentia o peso da incerteza do futuro, porque ela sabia que apesar de estar ali ao lado dele, amanhã seria um outro dia e ela tinha medo das cores, dos ventos, dos sons e dos sentimentos que pudessem afastá-lo dela. Ela chorou porque enfim pode ser dona de alguma coisa, mas uma coisa que ela perderia. Ela chorou porque ele a abraçava forte agora, sem entender o porquê daquele choro. Ela chorou porque ela seria sempre dele e porque isso a mataria isso a corroeria todos os dias e todas as noites em que ele não estivesse lá. Ela chorou porque esse era mais um fim de semana em que ela teria de dizer " eu te espero ", ou " até mais ", ou " não se perca ", ela chorou porque ela queria explicar tudo isso a ele sem que ele pudesse achá-la ridícula, ou ingrata, ou profunda, ou exagerada como sempre.

O jeito de demonstrar os sentimentos era o que mais diferia ele, dela. Ela nunca o vira chorar, nem lastimar, nem desabar, mesmo com aqueles problemas todos, mesmo com a distância, com a insegurança, mesmo com as complicações, com a falta de esperança. Mas o fato é que, sim, ele a amava, a seu modo claro, mas amava. A verdade é que eles viviam, amavam e sofriam em intensidades diferentes. E não se pode dizer quem é que ama mais que o outro. Mas nesse momento ele a abraça forte e ela chora, também, por achar que esse alguém; é ela.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Sobre Interpretação.



_Ela é infeliz ?

* Te digo que é. Ela é movida pela paixão.

_ E o que de mal há nisso? Somos todos movidos pelas paixões.

* Ouça bem, eu disse; Ela é movida pela paixão. No singular! Acontece que a paixão por alguém a move em todo e qualquer segmento; amoroso, social, profissional, acadêmico.

_ E o que de mal há nisso?

* É que sozinha ela é infeliz.

_ Mas ela está sozinha agora?

* Ela acha que está.

_ E porque ela é tão quieta? Porque ela não grita, se dilacera, pede ajuda? Porque ela não assume que precisa de alguém?

* Ela espera que não percebam. Ela espera que não vejam o quão vazia, oca e desinteressante ela é. Porque deve ser horrível se sentir vazia como ela se sente. Alguém que precisa incessantemente de algo que a complete. Ela espera que não percebam.

_ Deve ser um tédio ser ela não é? Alguém que ostenta o tempo todo, uma casa de fachada tão bonita, tendo que esconder a estrutura podre com madeiras corroídas por cupins. E o que ela faz?

* Ela enfeita os jardins da casa, mas não leva nenhum jarro de flores pra dentro. Pinta as paredes, ilumina com luzes brancas por fora, escondendo o interior sujo, escuro e cheirando a mofo.

_ E o que ela espera com isso?

* Alguém que não tenha tempo de olhar pra dentro. Que olhe aquela casa por fora e se apaixone por ela antes de entrar e remexer lá dentro, onde só ela sabe o que tem. Onde só ela sabe o que cheira mal, o que é podre e o que é fraco.

_ Mas que bobagem. Deve haver mais alguém que precise de paixões. Ela não precisa se esconder.

* Não, ela não precisa. Mas ela não quer que saibam o quão podre é a sua existência. Ela só não quer que saibam que ela veio ao mundo para amar inutilmente tudo aquilo que a faz bem. Ela não quer que saibam da precisão desesperada que ela tem de prender, guardar, reter tudo o que lhe causa prazer, alegria ou dor. Afinal, as pessoas não entendem porque tanta precisão. Ela não quer que saibam que ela é incompleta, e só.

_ Mas que bobagem! Como é que você pode tirar isso de uma foto? Isso tudo é uma bobagem Rafael. Será que agora você pode parar de olhar pra ela, tirar a sua roupa e tomar uma ducha ou ir pra banheira comigo?

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Sobre Destino

Você já olhou pra vida de alguém e pensou: Essa era pra ser a minha vida? Não que aquela vida seja melhor, ou mais luxuosa, ou mais gostosa, ou mais fácil, simplesmente era pra ser sua, se você tivesse tomado às atitudes necessárias. Quando você muda suas escolhas isso influencia diretamente no seu futuro. E as minhas escolhas me levaram `a lugares bem longe e diferentes dessa vida.
Eu conheci um cara, que tinha tanto brilho nos olhos ao falar de seus sonhos, que ele seria capaz de chegar a qualquer lugar, seria um presidente, um ator, um diretor renomado, ou um médico. Não, ele não queria ir tão longe, ele só queria estudar, um diploma, se formar, talvez elétrica, ou mecânica, algo que tinha a ver com o seu trabalho na época. Hoje os olhos dele brilham quando fala da mulher, ou da filha, ou dos poucos móveis sendo pagos aos pouco em prolongadas prestações, daquela casa alugada, ou da programação de Domingo, do filme alugado de Sábado. Deve haver um pouco de dignidade nisso tudo!
Ele quis namorar comigo. Eu me casaria com ele. Se o tempo não tivesse passado, se os sentimentos ainda fossem os mesmos, se não aparecessem outras oportunidades, se as minhas escolhas não tivessem mudado.
Hoje eu vi naquela vida algo que era pra ser meu. Aquela menina de 16 anos, que tem uma filha de seis meses, que pode ver na filha dela a sua herança para o mundo, que mora em uma colônia onde todo mundo sabe da vida de todo mundo, perto de uma usina de cana, que não corta o cabelo porque o marido não deixa, que não fura a orelha da filha porque o marido não quer, que fica em casa cuidando da filha, da casa, das coisas do marido, cuidando pra que os vizinhos não tenham o que falar dela, ou se quer da vida deles. Deve haver alguma dignidade nisso tudo!
Porque no fim os meios são mesmo justificáveis. E se ela mora lá, naquele mundo afastado da cidade, da correria, se ela parou de estudar pra morar com alguém e ter filhos, naquelas ruas não asfaltadas, empoeiradas, onde um caminhão pipa da usina vai jogar água nas ruas pra abaixar a poeira, onde ela não faz nada sem a permissão dele, se ela foi morar lá é porque ela o ama. E no fundo sabe que ele a ama também.
Deve haver um pouco de dignidade nisso tudo, mas eu não vejo, não consigo ver, porque fomos criadas diferentes, estudamos com finalidades diferentes, nossos pais se importavam com coisas diferentes. E que me desculpem as donas de casa, mas eu não nasci pra ser Amélia.