sábado, 27 de dezembro de 2008

Sobre Coisas Que Não Se Diz

Te escrevo para dizer coisas que por convenção ficou determinado que não seriam ditas. Porque ferem, porque abalam, porque fazem fraquejar, fazem duvidar um do outro.
Te escrevo para dizer que sinto falta “dessa coisa de pele”. Não sei há algumas noites em que eu não consigo dormir, não brigue comigo eu não tomo remédios todas as noites. Só nessas em que me corpo fica quente mesmo depois de uma ducha fria e eu me viro sem parar nessa cama espaçosa onde, já perdi a conta de quantas vezes, te imaginei me abraçando, me apertando, me acolhendo, me envolvendo , me amando, deixando cada gota de suor do seu corpo escorrer no meu.
Te escrevo pra contar que as coisas banais me fazem muita falta, que passear com você na orla da praia em uma dessas tardes, em um desses fins de semana era tudo o que eu queria. E estender minha canga amarela e grande pra gente deitar um do lado do outro nesse tempo frio e poder sentir o sol fraco quase aquecer a areia da praia ao nosso redor. Poder sentir a inveja de quem observa a vivacidade de um amor que irradia tanta luz.
Te escrevo pra ver se você se convence, pra ver se você compreende que não há nada mais que importe nesse momento a não ser ficarmos bem, ficarmos juntos.
Te escrevo pra dizer que a caminhada é longa, mas que o destino é um só, te escrevo pra dizer coisas que das quais não se falam, coisas das quais se tem vergonha de sentir. E normalmente todos sentem. Eu sinto muito* ! Eu sinto muito**.

* Intensidade.
** Me desculpa.


Obs: Espero que entendam a legenda. ;S

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Sobre Papéis.

Você perdeu. O que? Você deixou as coisas na minha mão, baby. Deixou que eu retomasse o controle. Vulnerabilidade é uma coisa que eu não suporto. Vamos, levante, tire os joelhos do chão, olhe reto, enxugue seus olhos, faça uma cara de macho, vamos, macho de verdade. Ordene, grite comigo, me dê uma ordem, quem sabe assim você volte a me fascinar. Vai... dá uma de machão. Seja insensível aos meus "eu te amo"s e aos meus apelos melodramáticos. Você sabe, eu faço como ninguém o papel de menina incompreendida. Venha, e me faça voltar ao meu melhor papel.


Obs: Férias.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Sobre Convites

E qual não foi a surpresa dela quando chegou lá? Alguns poucos amigos daquela pessoa que aniversariava. Alguns, aliás, conhecia [quase todos?]. E no começo Fabi se sentia estranha em ver que fora convidada para um ato de iniciação de amizade. O convite para ir à casa de Manu aquela noite, comer da mesma comida que ela, tomar da mesma bebida que ela, tomar cerveja no bico sem cerimônias, era mais que convite para uma festa, era um convite para um ritual que dizia; “Agora você faz parte do meu círculo de amizades”. E sentiu o peso do convite assim que o recebeu: “Você vai ao meu aniversário, não vai?", o que mais queria dizer "Se você não for ao meu aniversário estará jogando fora a minha amizade que te ofereço com um banquete.". Para os deuses um banquete seria cheio de comidas variadas e iguarias próprias da tribo, para os jovens são carne assada e cerveja. E o banquete que ela oferecia estava a nível de igualdade com qualquer banquete juvenil, cerveja gelada e carne assada. Assim foi andando o caminho todo, com as costas pesadas de entrar num círculo de importância a qual não sabia que queria mesmo pertencer... Nem falara com ela por conta própria... No meio de uma conversa com uma amiga que se chamava Cris, as duas foram apresentadas. E daí por diante os cordiais "bom dia", como é que vai? , "e o fim de semana?", "me dá um cigarro?", "você parou?". Depois já gostavam uma da companhia da outra porque juntas se faziam absurdamente divertidas.
Fora apresentada aos amigos de Manu, a aniversariante, em algumas outras ocasiões de encontros ocasionais em lugares comuns de faculdade.
Manu se divertia com o jeito de Fabi, gostava da risada dela, do jeito impulsivo dela, do jeito meio criança que deseja crescer e precisa de ajuda a todo tempo pra lançar vôo, Manu gostava de ser útil a Fabi sempre que ela precisava e foi assim que surgiu nela a vontade de convidar Fabi para um rito de entrega de importância, da qual ela sairia com direito a certificado em um quadro de exposição.
As costas de Fabi pesavam tanto que teve vontade de ligar e dizer: "Manu, não posso ir ao teu encontro, me desculpe, mas minhas costas doem!", mas já estava no meio do caminho e vontade nenhuma tinha de levar esse peso até o próximo convite, porque também se tem o peso de se recusar um convite desses, claro. Então seguiu... Assim que chegou, Manu tratou logo de abraçar Fabi e dizer: "Eu não achei que você viesse, me sinto tão feliz por estar aqui."
Estava consumado, Fabi fora convidada a ter importância e agora recebia o certificado em quadro pra exposição. Foi quando sentiu que o peso que levava lá ficara. Cumprimentou a todos com direito a ouvir: Essa é a Fabi que eu havia lhe falado! Que diferença faz se falara bem ou não? Agora ela tinha importância num quadro e era lembrada. Há tanto tempo não sabia o que era ser lembrada.
E assim seguiu a noite, Fabi não podia ficar por muito tempo, mas se divertiu demais com a companhia da Manu e dos amigos dela, que ficavam cada vez mais amigos de Fabi também. Era tudo muito novo pra Fabi, a diferença entre eles era evidente, e eram tantas. Se Manu gostava de carne, Fabi achava que gostar tanto de carne é ser meio sanguinária. Havia quase uma explícita razão pra se implicarem e por isso se gostavam... Podiam se criticar abertamente e isso as espantava. E espantava a Fabi o respeito que de repente aprendeu a ter quando Manu não queria falar de determinados assuntos, e quando Manu dizia que a entendia por ser parecida com ela, no fundo, no fundo. Acontece que haviam sim coisas em comum, como a possessividade de ambas, o ciúme de ambas, a vontade de estar uma perto da outra.


E era nisso que Fabi pensava agora, três meses depois do aniversário, vendo uma foto que tinha no mural da Manu, Manu, Fabi e Luca [amigo de Manu há mais de 8 anos]. Pensava Que se sentia a mais privilegiada por ter entrado na vida da Manu assim, uma das poucas amigas novas que Manu tinha, uma das duas. Manu não é de fazer amizades, mas gostou tanto de Fabi, e demonstra tanto que isso faz com que Fabi goste cada dia mais dela, das piadas dela, do jeito mal-humorado de quando fica com TPM, da sinceridade dela.
Ela pensa que ela só ganhou lugar no mural de fotos porque ela também ganhou lugar no coração, na vida. E aquele mural com poucas pessoas é só a representação disso tudo.
Sente que uma amizade dessas desinteressadas, não nasce assim no colo de quem não sabe o que fazer com ela, de quem não sabe cuidar. E Manu sabe. Fabi não. Fabi só espera que ela fique tão perto que não a deixe descuidar da amizade.
E é nisso que ela pensa também olhando a foto. "Não pise na bola, por favor."
E pensa um monte de coisas que nem eu mesmo saberia descrever. Mas ela se sente especial, entende?
Ela se sente E-S-P-E-C-I-A-L.


Obs: Para Hinuany B. de Melo.