sábado, 27 de junho de 2009

Sobre a Sanidade.

- E ele terminou com você assim?
- Ué, foi.
- E o que ele disse?
- Ah, que ficou com medo de perder a SANIDADE.
- Nossa que idiota.
- Mas sabe, até que eu acho que ele tem razão.
- Sério? Para! Você não está perdendo a sanidade, porque ele perderia?
- Você há de convir comigo que nunca fui muito sã, não é? Mas a gente era um típico caso de a dama e o vagabundo.
- Não me diga!! Adoro homens vagabundos. Não sabia que o Rafael era assim.
- Não, ele não é. A vagabunda sou eu. O Rafael está mais pra dama.
- Ah como você é boba.
- Sério, eu enlouquecia ele! Tirava ele dos estudos fazia ele se dar mal em quase tudo. E eu não o fiz perder a roupa todo num strip-poker?
- Coitado.
- O pior você não sabe.
- O que?
- Eu contei que ele blefava. Ele perdeu a última jogada e teve que ir até o meu prédio nu. Hahahahaha. Agora imagina o porteiro. Haahahah. Queria chamar a polícia. Foram 40minutos pra convencer ele a não chamar a polícia e mais 40 minutos pra convencê-lo a nos deixar entrar no prédio. Maior cena. Precisava ver.
- Eu ia adorar ver isso, porque é que eu não estava nesse dia?
- Salvador.
- Ah semana de carnaval, certo! Que tudo, Salvador, Ivete, Araquetu e eu perdendo todos os limites nos becos das ladeiras. Só não ganha daquela nossa saída do ano passado.
- Nem me lembra. Sinto náuseas no estomago por aquela ressaca até hoje. Fora as dores de cabeça que ainda me causa aquela quarta-feira de cinzas na qual inclusive eu conheci o Rafael.
- Nosso destino é conhecer bons frutos no carnaval não é? Ah o Pelourinho.
- Nem tão bons frutos assim né? Vadia.
- Eu sou é esperta, meu amor.

- Ah, eu te contei do carioca?
- Ai, morro por aquele homem, o que tem ele?
- O Rafael me viu ficar com ele.
- Como assim?
- Eu transei com o carioca na frente de todo mundo no réveillon.
- Você não fez isso!
- Fiz. Eu fiz. Eu fui ao banheiro, ele foi atrás, me agarrou, fomos pro carpete da sala, daí por diante só lembro de acordar desnuda ali no meio da sala-de-estar da Fabi do lado dele meio desnudo.Fê, você tem noção da vergonha que eu fiquei? Do climão? Eu acordei o Rafael tinha ido embora, claro.
- Que fita!
- Pois é, e pra convencer o Rafael de que estávamos tontos e não tínhamos noção do que estávamos fazendo? O que não deixava de ser verdade, eu estava loucassa. Joguei a culpa no pó, que eu nem tinha cheirado, inclusive. Mas naquela altura do campeonato eu diria pra ele até que tinha mexido com pedra.
- E aí?
- Três semanas de término. Ligando todo dia, pedindo desculpas, e-mail, mensagens. Lembra quando eu fui pra Curitiba? Então! Ele pegando um monte de vadia aqui, transando na cama dele, que é só minha. Assim como ele deve estar fazendo agora, em um puta Sábado a noite enquanto eu bebo com você.
- Ah, então você está me chamando de má companhia?
- Não, claro que não. Mas eu não queria ver o meu homem com uma vadia qualquer recobrando a sanidade dele. Que ódio!
- Mas vem cá, e o clima entre vocês e o Carioca?
- Eu evito, sabe? Mas ele e o Ronaldo não se falam de jeito nenhum.
- Compreensível não é, meu bem? Você é uma vadia.
- Cala a boca. Bebe aí vai.
- Vamos brindar?
- Ao que? Ao meu relacionamento fracassado? Ao meu pé na bunda? A vida que eu surpreendentemente não sei levar sem ele? Ou a falta que aquele nerdsinho careta e ex-submisso me faz?
- Ah, não tem nenhuma idéia melhor não?
- Vamos brindar, aos carões que eu fiz ele passar, à vez que ele chegou sem roupa em casa, à vez que fomos presos por transarmos na praia, ao aniversário de namoro que eu passei no rancho com meu avô, e a sanidade que ele está recobrando com outra.
- Isso, é isso. Vamos brindar a sanidade. Que NÃO temos. TIM TIM.
- Isso, vamos brindar à sanidade...

E que ela nunca nos faça falta.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Sobre Angústia

- Oi, ainda bem que você atendeu, eu estava quase desligando. Você estava dormindo, não é?

- É, eu estava.

- Bom desculpa, eu precisava falar com você.

- Que horas são, Renato?

- 03h45min.

- Você estava chorando?

(e aquele silêncio do outro lado da linha, e claro, só podia estar chorando, dava pra ouvir os soluços, e respirava mais fundo e silêncio.)

- Não.

- Eu conheço você, o que foi?

- Sabe, já faz uma semana Paulo.

- Eu sei, eu senti sua falta.

- Não, cala a boca, EU te liguei, quem fala sou eu!

(entre engasgos, soluços e respirações fundas ele pensava no que dizer)

- Faz uma semana que você disse que ia pensar e me ligava, e desde lá eu não como direito, não durmo direito, tenho medo de dormir e com tanto sono acumulado não ouvir se você me ligar, porque você disse que ligaria, você disse! Eu não saio mais, não! Tenho medo de quando você resolver aparecer e eu não estar aqui e deixar o momento passar como passaria se você não tivesse atendido ao telefone.

- Que bom que eu atendi, que bom que era você!

- Não vou admitir a hipótese de você não ter se decidido a passar por cima, ou não, disso tudo até hoje, eu não admito (por uma questão pessoal, de ego, auto-estima, de me sentir muito pequeno, de não me dar a importância devida, e eu sei que eu não sou tão 'nada' assim pra você), então não admito a hipótese de você não ter sentido saudade, e então...

- Claro que eu senti amor! Eu já me decidi.

- Então, de acordo com o meu ponto de vista, você é um SACANA, e só não me ligou por uma questão de me deixar agoniado, o que deu muito certo durante a semana toda, em que eu fiquei alerta a qualquer meio de comunicação que me afetava, até aquele programa de rádio brega-onde-sua-dor-é-compartilhada-na-madrugada eu ouvia e pensava se você ligaria ou se me ouviria se eu ligasse. E como uma cobra pronta para o ataque eu me frustrava em cada bote, porque você sabe, você me deixou de molho a semana toda não é?

- Eu amo você, eu não te liguei por orgulho.

- E como eu disse, (ele dizia tudo como se lesse um discurso, monólogo sem improviso, sem direito nenhum de intervenção da platéia, parecia nem ouvir o que Paulo dizia, desde o “você estava chorando?”) eu não ia te ligar, ia te dar um dias pra pensar e esperar você me procurar, e foi o que fiz, não te mandei nenhuma mensagem, poxa, eu te dei um tempo, “porque você sempre estraga tudo?”; eu pensava, e hoje eu pensei tanto, para ser sincero, desde a noite passada eu andei pensando que...

- Você ouviu quando eu disse que te amo? Eu vou passar por cima de tudo e o amor sempre vai ser maior.

- ... Não está dando certo. (e o discurso continuava)

- Eu te amo.

- Você me deixa tão aflito e com você eu estou sempre tenso e...

- Renato?

- Não dá mais, eu te liguei pra dizer que não dá mais, eu estou sempre no limite da minha razão, eu estou sempre naquela linha tênue entre a fragilidade e a insanidade, às vezes desequilibro e piso lá e volto cá, e depois piso na linha de novo. Você não me faz bem, pode ser tudo perfeito quando eu estou com você, mas o inferno não vai compensar esse seu amor estranho, os meus gozos, seus gemidos, e... Não funciona mais. Eu não quero mais conversar. Não é que eu queira dar o troco, se quiser me ligar em uma noite fria pra desabafar, eu serei sempre seu amigo, mas agora você vai passar um bocado do que eu passei essa semana. Olha é melhor não me ligar mesmo, o telefone vai estar desligado. Só há uma pessoa que eu ame mais do que você; EU, e eu estou um caco, preciso de mais cuidados. Bom era isso. Vou desligar.

- Espera!

- Desculpe, agora eu vou dormir... Como um anjo! E você sonhe com os anjos, que Deus te proteja, durma bem... Se conseguir dormir.