quarta-feira, 22 de julho de 2009

Sobre Cartas

Bombinhas SC, Terça-Feira, 21 de Julho de 2009

Hello Stranger...

Te escrevo com tantas finalidades que nem devo enumerá-las, mas basicamente quero dizer-te como estou e te pedir desculpa.
Estou em uma casa de família como já deve saber, acho que contei isso no último recado que deixei em sua caixa postal. É como uma pensão. A senhora Silva aluga quartos e em uma época de baixa temporada essa cidade até se parece com um lugar normal. Se parece até uma cidade habitável. As roupas estão lavadas e passadas pela dona da pensão, a comida e a cama são feitas também pela Sr Silva. Ainda quero te trazer aqui. Isso se você ainda me quiser.

Escrevo pra dizer porque saí tão logo de Ribeirão Preto, escrevo porque sei que se eu disser todos os motivos você irá entender um recado tão seco em cima da mesa de centro e minha ausência na sua cama, sua casa, seu guarda-roupa e sua vida. Sim, a casa ainda é só sua, depois de três meses com você nessa casa, acordando e dormindo do seu lado, ocupando espaço com as minhas roupas e coisas, e ajudando nas tarefas de casa, ainda sinto que essa casa não tem nada de meu, nada que me faça sentir parte dela, ainda me sinto morando de favor com uma tia. Por isso saí daí. Acreditava que todos tinham um lugar que era seu e que uma vez fora dele a saudade e o desconforto eram tanto que lugar nenhum lugar os caberia, acreditava que casa era o que nos dava segurança e conforto e felicidade e proteção e naturalidade de gestos. Acreditava que depois desse um mês morando com a Sra. Silva eu ia me sentir verdadeiramente em casa aí no bairro do Planalto Verde.

Queria te dizer que a comida é excelente e que eu me senti quase que fazendo parte da família, me tratam tão bem, me desejam bom dia, se interessam pela pacata vida de um jornalista da cidade grande. A Sra. Silva tem dois filhos, uma garota de seus 20 anos ainda decidindo o que vai ser, o que com prova aquela sua velha teoria que nas cidades pequenas as pessoas podem ser nada se assim o quiserem, basta realmente se casarem com um homem que tenha uma renda que se comparada ao que nós almejamos se chamaria lamentável.

A menina é linda, cabelos lisos e pretos no Chanel mais perfeito que já vi, deve ter ido à cidade vizinha cortar (resquícios do meu velho preconceito com cidades pequenas). Corpo escultural, digno de canções como garota de Ipanema, ‘olha que coisa mais linda, mais cheia de graça’, peitos pequenos, e bunda simétrica ao seu porte. Seduz um homem como ninguém, ela é a graciosidade desse lugar, os garotos daqui são assanhados por ela. Mas não se preocupe, ela não desperta o meu interesse.

O outro filho tem 15 anos, é ele o meu companheiro, fica deitado comigo na praia sobre uma toalha nas noites tão estreladas que fazem aqui. Você ia adorar o guri, é cheio de espinhas, alto, faz natação, tem um preparo físico de dar inveja e se prepara pra um dia ser bombeiro. A beleza é coisa freqüente na família, mas a inteligência e a vontade de crescer e aprender ficou só pra ele. Acho que por isso ele grudou em mim desde que cheguei. Quer saber de tudo, como é a redação, imparcialidades, direita esquerda, prometi um estágio pra ele aí. Ficamos filosofando sobre mulheres e relacionamentos o tempo em que ele não está me perguntando sobre as pessoas e coisas e profissões, impressionante o quanto já aprendi com ele.

Eu descobri que precisava mais do que eu sabia de sair daí, de mudar de ares, de mudar de rotina, de círculo de amizades, de convívio social por gentileza. Não sinto vontade de voltar, nem de trabalhar na redação, se eu pudesse ficaria o resto da vida assim, sabendo das notícias pelos jornais televisionados e impressos e sempre contando com a internet, escrevendo minhas colunas de um lugar bem longe do tumultuo que é conhecer o tumultuo dessa cidade. Acho que é por isso que gosto tanto de São Paulo, não me sinto parte daquela bagunça, não estou inserido naquele contexto por isso aquilo não me afeta, por isso só me encanta. Imagina se esses meninos aqui vissem a loucura que é São Paulo.
Eu só mudaria uma coisa aqui, eu traria você.

Vou te contar mais sobre a minha rotina aqui. Acordo às 5h (quando você imaginou me ver acordar à 5h?), leio o que escrevi antes de dormir, escrevo o que tenho que escrever, tomo meu café às 6h e vou correr... 5 km todos os dias, no começo não foi fácil, mas agora me acostumei. Paro no fim dos 5 km e fumo um cigarro tomando água de coco, depois volto passeando lá pelas 9h da manhã. Ficaria espantada ao ver tantos cachorros em um só lugar. A cidade é pequena e todo mundo que tem cachorro vem aqui pra praia passear com eles. Vi um Ruski Siberiano e acabei parando na frente dele, acredita? Acho que achei que você estava comigo e como de costume parei pra esperar você falar com o dono do cachorro pra procurar um parceiro pra doce Luna. Ela realmente já está na idade de conhecer os desprazeres de ser uma cadela fêmea. Sem prazer e ainda grávida.

Os Silva também tem um cachorro, um Doberman, lindo, manso, com o qual me identifiquei assim que cheguei por ter os mesmos olhos doces e pidões de Luna quando me olhou na vitrine do pet shop. Eu te dei ela pra que pudesse te acompanhar quando fosse dormir, já que ainda morávamos em casas diferentes. Te dei pra que pudesse te proteger quando eu não estava por perto e espero que ela esteja cuidando de você. A Luna é tão doce que não teve ciúmes de mim quando me mudei pra tua casa.
Aqui não me sinto mais preso, nem com dores no corpo, nem com vazio intelectual. Não sinto o meu coração esmagado pelo barulho das buzinas no transito, nem os meus olhos ardendo pelos dias vazios e nem o amargo da minha boca pela poeira que sai dos motores dos automóveis. Aqui a minha mãe não me liga, meu chefe não me irrita e minha sogra não diz que a filha dela merece alguém melhor (espero que a filha dela não a ouça, apesar de ela estar tão certa).
Sei que você entende como é que eu sentia, sei que vai entender o motivo da urgência da minha viagem, sei que vai entender o motivo de estar tão longe nas últimas três semanas e sei que vai entender aquele recado seco na mesinha de centro. Mas escrevo também para pedir-lhe desculpas. Sei o quanto já discutimos por isso e o quanto reconhecer os erros é importante pra você, pra nós.

Não pense que eu estava cansado de você ou que não sabia o quanto você é importante pra mim, ou que você não é capaz de me curar ou que você não é parte da minha cura, mas sair daí era uma parte essencial do meu processo, e um processo que é só meu, passar por tudo isso era uma necessidade só minha, passar por todo esse processo doloroso, porque sim dói, dói se reciclar, dói ficar longe de você, dói ter que ser recluso, dói aprender a olhar pra dentro, e por isso não te trouxe, por isso liguei sempre nos horários em que você não estava em casa. Acredito que o processo tenha chegado ao fim junto com o mês e em poucos dias estarei de volta a sua casa. Sim, insisto, a casa é sua, porque descobri que aquele meu lugar, do qual eu falei no começo da carta, que nos dá segurança e proteção, esse meu lugar é VOCÊ. Seja em Ribeirão Preto, em São Paulo ou em qualquer lugar que seja, eu só quero estar com você.

Preciso que saiba que pensei em você todos os momentos, que desejei você por todos os lugares, tanto que ás vezes até via você com seu vestido de babados, ou seu biquíni verde. Volto agora por estar mais maduro, mais descançado, mais feliz e curado.

Volto porque sei que hoje consigo ser melhor pra mim e pra você, porque sei que era tudo o que você queria; não ver mais eu me destruindo cada dia mais.

Volto porque a única coisa da qual senti falta foi você, com seus tons de lilás e grená, com sua oscilação entre dó e mi bemol, suas intempéries e suas particularidades.

Volto com a certeza de que me esperas ansiosa com o seu pijama rosa, ao lado da doce Luna, com duas xícaras de café.

Eu te amo, com toda saudade.
Do sempre, sempre seu
Renato Alvarês.


Obs: Nada de compactar textos, sorry. ;D

terça-feira, 7 de julho de 2009

Sobre Jogo de Azar

Amor é jogo de azar, você sabe que as chances de ganhar são mínimas, mas e daí? Você quer correr o risco de ganhar, de acertar. Engraçado como ele acredita em tudo que eu digo... Se eu dissesse: Eu não gosto de sexo. Ele acreditaria. Mas eu não disse, claro. Você sabe que eu adoro um bom sexo, sexo selvagem, sem essas frescuras de menininhas, eu sou tua cachorra e você meu macho, não vejo nada de delicado no sexo. Um entrando dentro do outro. "É feio, violento e é bagunçado. E se Deus não tivesse feito ser tão divertido, a raça humana já estaria extinta há anos." você lembra? nosso episódio favorito, da série favorita. Eu me finjo de recatada, não pra fazer charme, é porque eu não estou afim, você entende? Você conseguiu ir pra cama com a primeira que pegou depois de mim? Ou ainda mesmo quando estava comigo? Você conseguiu fechar os olhos e beijar ela sem lembrar de como eu fazia? Você pediu pra ela ficar de quatro como me pedia? É engraçado, eu e ele aqui no quarto, sozinhos. Ele faz trabalhos pra mim, ele me leva pra sair, ele me chama de amor, ele me liga durante a tarde, ele programa saídas comigo, ele me apresenta pra família, mas no fim, quando estamos sozinhos é como se fossemos primos. Se fosse você aqui, você acha que estariamos fazendo trabalho de faculdade? Se fosse você aqui, você já teria me atacado, me deitado nessa cama ou então iria querer sentir meu sexo na sua boca. Seu grande sacana, você fez tudo certo não foi? Tudo bem, eu vou tentar... Encosto no ombro dele enquanto ele digita o título do meu trabalho que eu fiz questão de nem opinar. Casaco de frio de preto, cheiro bom, fexo os olhos e me lembro que ele tem seu cheiro, seu mesmo perfume, o mesmo, acredita? Eu digo que ele cheira bem e ele agradece dizendo que é o cheiro dele, eu rio, sem explicar, que é pra não constranger, que é pra não embaraçar, que é pra não dizer que me lembrou você, porque dizer faz tudo se tornar verdade. O que você pensa, não é real, mas o que você diz, pode se tornar, as palavras ecoam no universo e tem sempre aquelas teorias de conspiração, que por via das dúvidas você prefere evitar que é pra colaborar com seu futuro. Repito cinco vezes toda noite, eu vou ser feliz, eu vou ser feliz, eu vou ser feliz... e eu nunca sou, preciso dizer que sou, que é pra um dia realmente ser feliz; eu sou feliz, eu sou feliz, eu sou feliz... ahahaha, que grande piada. Você consegue ser feliz com outra? Consegue dizer eu te amo pra outra? Vamos lá, eu tenho ainda essa vantagem sobre você, você vai se remoer com a incapacidade de dizer "eu te amo", pra quem diz que te ama. Porque no fundo, nós dois sabemos que amar, esse amor de almas que se completam, só nós dois. Só você comigo, eu com você. Mas eu, eu sei dizer eu te amo sem que isso seja necessariamente uma verdade, não é ótimo? Sem meias mentiras, com meias verdades. Os canalhas também sofrem. Não sofrem por ser canalhas, são canalhas porque já sofreram, demais até! Não, eu ainda não disse eu te amo pra ele. Ele é especial, sabe? ele é educado, ele é inteligente, engomadinho, tem um futuro brilhante e o melhor disso tudo, vai me puxar com ele. Mesmo que eu esteja nas margens de um buraco negro e grande que insiste em me seguir, em me acompanhar ele vai me levar com ele. Tem uma vida já traçada e você ainda tem um caminho todo pra trilhar, eu trilharia com você, sem problemas nenhum, se achasse ainda que era possível, mas não acho. Então repito também cinco vezes que eu sou feliz, sem você. Não sou não, não se entristeça, é que é aquela história da teoria de que tudo um dia volta pra você. Você lembra que me falava isso? Acho que era só pra eu acreditar que eu não tinha culpa do que acontecia, que tudo era uma espécie de pré-destinação. Fizemos um pacto inconscientemente, de sofrermos um pelo outro, você lembra?. Eu cumpro minha parte, mas e você que nunca foi bom em cumprir promessas, como faz?


Obs: Prometo que a partir do fim de semana (fim do semestre) comento em todos os blogs que estão por aqui, vontade/saudade de ler vocês. :D