sábado, 29 de novembro de 2008

Sobre Contabilidade.

Me diz, você que é tão boa com números, quanto tempo mais eu ainda tenho que ficar angustiada com esse peso nas coisas e essa bigorna no coração? Quanto tempo essa bigorna vai ocupar tanto espaço, esmagando e expulsando o meu amor aqui de dentro? Quanto tempo mais ela vai ocupar quase todo espaço e sufocar tudo e todos aqui dentro?
Você que é tão boa com números pode me dizer até quando isso dura? Esse amor, essa paixão? Toda essa emoção que nós sentimos quando estamos ou mesmo quando não estamos perto, todas essa querência, essa decadência, essa precisão, me diz qual é a fórmula que eu uso pra calcular o tempo de cada uma dessas variáveis?
Você que é tão boa com números pode me dizer quanto tempo mais eu vou levar pra decidir, e com qual intensidade eu vou decidir, que é melhor deixar você e tentar viver esquecendo esse amor que dilacera tanto, que empobrece tanto, porque suga todas as minhas forças vitais e faz minhas necessidades aflorarem todas perto de você e sugar de você tudo que eu preciso, tudo o que eu decido precisar, tudo que é capricho, tudo que é para meu passa-tempo. Calcula pra mim vai? Tempo e intensidade.
Você que é tão boa com números pode me dizer quanto tempo depois de deixar você eu gastaria para me apaixonar por outra pessoa? Para parar de ver nos rosto de outra pessoa o seu? Para parar de querer em outros beijos o seu? Calcula aí, por favor, quanto tempo eu vou demorar para parar de sussurrar seu nome enquanto eu faço amor, quanto tempo demora para eu parar de querer o seu abraço a sua anatomia nessas madrugadas frias, quanto tempo eu demoraria pra não ver mais seu rosto nos meus sonhos?
Você que é tão boa com números pode me contar quanto tempo eu gastaria com todo esse processo? Entre decidir deixar você, meu coração perceber que é realmente o melhor, eu deixar você, ficar com outro alguém, me apaixonar por esse outro alguém e parar de querer você nesse outro alguém? Vai calcula aí, você que é tão boa com números pode fragmentar essa equação e calcular pra mim?
Com a fórmula intensidade vezes o tempo, em qual processo eu sofreria mais? Tentando viver sem você? Ou ficando aqui e inutilmente lutando por tudo sozinha?
Vai Diz pra mim!!
Ohh, I’m sorry, honey. Eu me esqueci.
Você não é tão boa em administrar emoções, não é? Você sempre foi simplesmente um fracasso nisso. É melhor esquecer.



Obs: Sentimental demais pra você, racional demais pra mim.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Sobre Datas Comemorativas.

- Escuta
- O que?
- Coisas que eu vim planejando pelo caminho pra dizer. Coisas que eu pensava enquanto a água e os carros e as esquinas passavam por mim.
- Entra, nós ganhamos presentes, toma um banho veste roupas limpas.
- Não, me escuta, a sua casa está cheia de gente e eu não quero ver ninguém.
- Todos estão aqui por nós, estão perguntando de você, eles ficaram constrangidos, não sabiam que você tinha se mudado, eu falei pra eles ficarem. Entra pela cozinha, estamos jogando pôquer na sala, veste minhas roupas como você fazia nas manhãs de Domingo.
- Eu não vou entrar, eu preciso falar só com você. Acontece que eu saí a duas horas da minha casa e vim caminhando até aqui. Porque hoje é nosso dia e eu não consegui pensar em outra coisa durante o dia todo, o mês todo, senão que eu não estaria com você hoje, que eu não beberia com você, que eu não estaria aqui pra receber os seus, os nossos, os meus amigos. Então eu passei o dia todo me contendo, levei todo serviço pra casa, escutei todos os discos que comprei e tentei ler cada livro da estante e três horas atrás na janela da sala aberta eu sentia o cheiro da grama molhada invadir a casa toda e lembrei que se tivesse com você, você ia me abraçar e dizer que esse era o cheiro mais gostoso do mundo porque te lembrava nosso primeiro beijo no gramado do clube há uns cinco anos atrás e foi quando eu desejei que você tivesse me abraçando que eu saí de casa sem me tocar que chovia, entende?
- Não. O que é que você quer me dizer?
- Que foi besteira nós termos morado juntos, eu queria sair de casa você também... Foi só isso. Foi besteira desgastar tudo só pra satisfazer caprichos bobos.
- O que você quer Tami? Você já saiu de casa faz seis meses e quando saiu me disse essas mesmas coisas e sabe o quanto doeu? Para de falar besteira, você está molhada, entra, toma um banho dorme na sala com o pessoal, você está sendo repetitiva.
- Você também. Eu já disse que preciso te falar umas coisas e eu ainda não disse o mais importante...
- Então fala Tami!
- Faz seis meses que eu tento me acostumar com seu espaço vazio na cama, com o café fraco e doce que não é o seu, com a ausência das horas que você chega em casa do trabalho falando mal do chefe e do transito e de São Paulo e do cachorro que não te deixa em paz até que você faça carinho nele. Faz seis meses que eu sinto falta da sua boca e do seu abraço e das suas palavras bonitas e dos sorrisos e do seu corpo quente no meu e dos sussurros ordinários de madrugada. Foi um erro grande vir morar com você, mas foi um erro maior ainda ter saído daqui. Hoje eu vim pra te entregar o que eu te ofereço todo ano, na mesma data, do mesmo jeito...

Ela pega a mão dele e conduz até seu seio.

- Só pra te entregar uma coisa que é e sempre vai ser sua... O meu coração.

E, como todo ano, na mesma data, do mesmo jeito ele sentia agora o coração dela bater levemente descompassado sob os pedaços de pano molhados que ela insistia em não tirar.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Sobre Agir.

- E aí eu me vi aqui.
- Aqui? Normal! Você não sabe como chegou aqui?
- Não aqui. Aqui eu sei que você me trouxe.
- Onde então?
- Eu não sei porra. Nesse espaço-tempo-lugar em que eu estou em que minhas pernas não tremem mais, meu coração não dispara mais e meu corpo não suspira mais. Até ontem nós tínhamos tantos planos e eu os levava tão a sério. Sim, eu ainda continuo querendo que eles aconteçam, mas eu não penso mais, não desenvolvo mais, cartas de amor eu não escrevo mais e pra que tantos presentes?
- Pra me agradar? Pra mostrar que você me ama?
- Mas eu sou tão boa com as palavras, o que aconteceu? Eu sempre te escrevi cartas, e depois comecei a copiar poemas, hoje eu já não acho mais nenhum que se encaixe. Isso não é estranho? Deixamos que todos os sinais passassem sem olharmos pra nós mesmos, sem lhes dar importância, precisamos fazer alguma coisa quanto a isso.
- As suas pernas ainda tremem.
- Você ainda está nas pernas? Quantas coisas eu disse depois disso?
- Mas elas tremem.
- Tremem porque eu ainda sinto tesão. Você sabe que sexo é uma coisa que você bem, meu bem. Mas eu estava falando sobre sinais.
- O que tem os sinais?
- Não acha que deveríamos prestar mais atenção neles?
- Já fizemos. E depois?
- Fizemos?
- Ta. Você fez. E agora?
- Agora a gente pensa bastante e decide como vai agir perante eles pra evitar que as coisas acabem. O que você acha?
- Eu acho que isso é sinal de que o amor já está acabando.
- E o que a gente faz?
- Esperamos pra ver.
- Nada que a gente já não tenho feito. Não percebeu que esperar é o mesmo que não fazer nada?
- É?
- É. Você realmente ouviu o que eu te disse até agora?



Obs : Diachatohoje.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Sobre Mofo

- Mãe porque as coisas mofam?
- Excesso de água, talvez.
- Só por isso mãe?
- Aquela parede ali é por isso.
- Mas, em geral mãe.
- Ué minha filha, acho que resumindo é só por isso, por exemplo, aquele pãozinho que a mamãe traz pro café da manha, coloca fermento com bacteriazinhas na massa e ele cresce, depois que fica guardado durante um tempo ele mofa porque às vezes sobra umidade dentro dele.
- A gente come bactérias mãe?
- O tempo todo, filha.
- E elas não fazem mal?
- Algumas são mais fracas que o nosso organismo, mas as que não são, fazem mal sim.
- O que mais mãe?
- O mais o que, filha?
- O que mais mofa mãe?
- Vamos lá, as roupas mofam.
- Por quê?
- Por causa da água também, se você guardar ela molhada ou úmida.
- Mas a sua blusa não estava molhada e você disse que ela cheirava mofo.
- É verdade. Mas essas coisas que ficam guardadas em lugares quentes e escuros, sem serem usadas durante muito, muito tempo; elas mofam.
- Ah sim, agora faz sentido.
- O que?
- Você precisa de um novo namorado!
- Ah é? E por quê?
- Andam dizendo por aí que o seu coração está mofado demais.

[silêncio]

- Vem cá vem, minha criança, vem dormir!

domingo, 2 de novembro de 2008

Sobre Promessas

Foi uma promessa dessas que eu sabia que não cumpriria, nem agora talvez nem depois. Mas eu faria qualquer coisa pra ver aquele brilho nos olhos, faria qualquer coisa pra vê-la sorrir daquele jeito gentil que ela sorri quando ganha o que quer, quando tira de mim qualquer coisa que tenha precisado insistir.
Havia muitas coisas que ela queria que eu dissesse, mas eu não a culpo, também há tantas coisas que eu gostaria de ouvir. E ela sabe o tempo se encarrega dessas coisas, ou de satisfazer os nossos ouvidos, ou de cumprir nossas promessas ou de nos fazer decepcionar a quem amamos.
Eu particularmente acho que o tempo nos dá tempo só pra mostrar que não somos, mesmo, capazes de cumprir com todas as coisas que prometemos.