sábado, 27 de setembro de 2008

Sobre Dependência

*Sabe? Eu sei o que é que você está pensando agora. Eu conheço você melhor que qualquer um.
Você se lembra? Eu conheço tanto você a ponto de saber que mesmo pensando em sair daqui,
mesmo pensando em fugir, você não vai. É algo que você não tem; isso que chamamos de impulso-burro.
*O que é que há amorzinho? Eu conheço você melhor do que ninguém, Melhor do que os teus
amigos, E que amigos são os seus? Se eles nem sabem das noites em que você chorou até que
amanhecesse no chão frio no escuro do teu banheiro. Se eles nem sabem das noites em que você
ficou enjoada e eu fiquei do teu lado, se eles nem sabem dos cortes no teu corpo. Se é pra mim
que você liga nas madrugadas quando chorando bêbada em algum telefone de alguma esquina da
cidade me pede pra te buscar.
*É baby eu te conheço, mais do que todos os outros e sei, você vai ficar, vai ficar aqui e comigo,
porque eu sei o que dizer, eu sei o que fazer nas horas mais certas, sem que você precise pedir,
então fique amor. Que eu também preciso de você.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Porque amor de verdade tem que ser o que enlouquece, o que destrói? Que besteira. Amor de verdade é calmo, paciente. O que enlouquece é a paixão. Ando cansada de me ferir e nesse ritmo um dia me canso até de ti.
Ah, como é doce abandonar quem se ama! Não acha? Não? Pois eu pensei que achasse, pois é isso que tens feito comigo todos os dias, não achei outra explicação senão a doçura que isso pudesse ter.
Amargo? Não, isso não é amargo pra você, a não ser que goste de coisas amargas e não, eu sei que não. Eu pensei que gostasse disso tudo, eu pensei que tivesse um prazer incrível nisso, o prazer do abandono.
É engraçado isso sabe? Eu já senti prazer em abandonar alguém e eu te digo, é viciante e enquanto eu quase tinha espasmos de prazer alguém me dizia “Um dia você vai amar loucamente alguém que vai viver escapando entre seus dedos, e vai ser tão escorregadio quanto puder ser”.
Não, meu bem, não ria, não é que eu acredite em pragas rogadas ou coisas assim, só comecei a acreditar, a pouco tempo eu posso dizer, que tudo o que vai um dia volta e pode voltar em igual proporção, ou pior eu acredito.
É incrível como você me faz sentir insegura, você destrói todo o muro do meu imenso castelo, põe ao chão em segundos toda a minha segurança e com toda a sua astúcia desmancha todas as minhas armadilhas indestrutíveis.
É, eu sei que você não queria fazer isso, mas você faz, mas vai fazer com qualquer pessoa que se atreva a te tocar fundo demais a ponto de querer o seu castelo também a baixo, a ponto de não querer mais sua segurança ou suas armadilhas.
Você vai destruir todas as pessoas que te tocarem, tão fundo quanto eu toquei, e pedirem, como eu pedi, pra que você se dispa de armaduras e quando você perceber que está dentro demais de uma coisa quente confusa e sem regras (é baby, mesmo as previamente estabelecidas, nem sempre são cumpridas), eu sei, eu também tive medo quando vi que era algo que não tinha uma finalidade, um objetivo uma meta a ser cumprida e fim. Não tem fim.
Eu pensei “obedecemos todas as regras e seremos felizes até o fim”, mas depois eu já não queria mais o fim, e pensei que se pudéssemos obedecer as regras, poderíamos reformulá-las quando ficassem obsoletas. e depois eu me desesperei, acho que ainda me sinto assim, quando vi que estava dentro dessa coisa viscosa, pegajosa, e viciante que faz mal, mas todos insistimos em por um nome doce e bom como amor para apaziguar os corações e insistimos em buscar pelos sexos e festas e madrugadas e vodkas como uma meta de vida e felicidade e finalidade. Procurar a destruição, procurar a perturbação, procuramos uma coisa sem fim como finalidade, confuso.
E me desesperei porque eu percebi que não havia regras naturais e inerentes a serem seguidas e quando vi que nós teríamos que nos impor regras e mesmo essas regras não nos importávamos em não serem cumpridas, se até outras bocas nos perdoamos, se até outras juras nos desculpamos.
E quando você perceber que está dentro demais dessa coisa quente e confusa e sem regras com alguém despido de todas as armadilhas e armaduras querendo que você se dispa também você vai ficar apavorado, como eu ti vi há um tempo atrás, e você vai tentar impor regras, que nem mesmo você irá cumprir, e vai mostrar toda a sua insegurança e seu carinho e como você é doce inseguro, mas você não vai se manter assim, você sabe o que é manter?
Não, não falo de dinheiro no banco, ou inflação controlada, ou índice BOVESPA, também não falo se contas pagas e independencia financeira, falo de estabilidade espiritual sabe? Não como ser sempre feliz ou sempre triste, mas ser sempre amor, ser sempre bem, ser sempre presença como você é agora, você não entende não é? Entende? Ótimo, pelo menos vejo que você presta atenção...
(e ele sentado de frente pra ela na mesinha de centro e ela no sofá, a olhando atento, prestativo e atencioso, fazendo que sim com a cabeça, com as mãos nos joelhos dela quase que segurando ela ali pra que ela falasse tudo o que tem vontade HOJE, porque hoje era o dia de balancear a relação e se perdesse hoje só na próxima semana, porque aí viriam os dias das contas, das ações da bolsa, do banco, da empresa, e os de nada, os dias de pensar em nada. Inclinado em direção a ela era todo ouvidos.)
Você não vai se manter inseguro porque você vai de novo se fechar e perceber que pode ferir a outra pessoa antes que ela te fira e mesmo que eu ainda ache que você sente prazer, você jura que não, e você fere, e como sabe ferir as pessoas. E eu te toquei, tão fundo quanto nenhuma outra pessoa e me despi pra você, e você desfez as minhas armadilhas e agora com sua armadura grosseira me fere me deixando sem chance nenhuma de revidar e eu nada posso fazer a não ser escancarar o peito e te mostrar certeiro onde acertar pra me ferir mais rápido.
Mas agora me pego pensando que eu ainda tenho um trunfo sobre você!
(ele faz cara de quem pergunta qual e deseja fortemente saber a resposta, mas sabe que quando ela se pega a falar não para e nem precisa fazer perguntas, só fazer indicadores de respostas)
É, eu tenho. O meu abandono é doce. Eu não sinto amargo, ou nada ruim em abandonar quem eu amo.
(ela se levantou, acabado seu discurso e ele olhava pro sofá abandonado, assim como ele, no meio do que era pra ser uma discussão, mas ela parou de falar, e se levantou, ele queria que ela continuasse, mas nem ao menos estava ali na sala com ele agora. Então ele perguntou, preocupado e pensando em tudo o que ela disse e que iria latejar durante o resto de toda aquela coisa sem fim, meio que gritando pra que ela ouvisse.)

- E agora, O que é que a gente faz?

Você? Me faz uma dose de Martini.
- Com cerejas?

E ela pensou “se é pra parar de me ferir, que o abandono comece assim, você sozinho na sala...” Pensou também que não precisaria das cerejas para adocicar a bebida porque ela mesma já tinha um gosto doce na boca. “mas eu gosto de cerejas”

- Com cerejas, por favor, querido!