sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Sobre Lágrimas

As minhas lágrimas límpidas e secas estão molhando o papel no qual
escrevo, manchando as palavras que com ódio escrevo, na esperança
de que leias, de que sinta essa dor que pulsa mais que meu peito,
eu posso dizer. As minhas lágrimas transparentes e ralas que por
muito tempo estiveram na minha garganta, sem subir,sem descer,
sem desaparecer. Cada dia o que escrevo me parece pior e essas
lágrimas. Haa, essas lágrimas, me parecem cada vez mais secas.
As minhas lágrimas acumuladas e sentimentais que ressecam
a minha pele, queimam a minha face enquanto caem.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Sobre Frio.

Hoje se faz um dia chato. É um dia daqueles em nem o sol pode aquecer, porque chega um tempo em que o sol não aquece... Ele queima. A casa está toda em ordem, chega a ser ofensivo ver cada coisa em seu lugar e aqui dentro de mim tudo tão bagunçado que eu nem sei por onde começar.

Está tudo tão silencioso, tudo tão calmo, que andando pela casa eu ouço o barulho dos meus passos, e sentada aqui eu posso ouvir o barulho do vento entrando, como poucas vezes ouvi, até parece madrugada, até parece feriado. Não, não é feriado, passam tantos carros lá fora que pelo silencio da casa quase consigo contar quantos carros vão passar pelo semáforo hoje. Talvez eu conte pode ser útil em alguma pesquisa de transito.

Inútil, inútil tentar ocupar meu dia com mais coisas inúteis, eu queria era você. Agora, do meu lado, nessa casa vazia. Sentada comigo no sofá, quase sem roupa debaixo de um edredom, com as cortinas fechadas, a casa trancada, sem TV, nem som, nem barulho, nem carros mais haveria nas ruas, nem motos e o som da casa vizinha não conseguiria transpor a parede pra chegar aqui.

Eu queria era você pra no meio desse silencio todo pra me falar coisas oportunas, no meio do meu dia vazio ou no meio do vazio do meu dia, dizer alguma dessas coisas interessantes que você sabe dizer pra me fragilizar, pra me deixar de coração duro e com amor convicto. Alguma dessas coisas que você diz sussurrando perto do meu ouvido, que faça sentir sua respiração quente, que me faça arrepiar os pelos do corpo e sentir o tamanho do meu desejo por você.

Eu queria era você aqui, arrastando um cinzeiro pra sentar no comigo em qualquer lugar da casa, pra fumarmos meus cigarros mentolados. Daqueles quando você acendia e entregava pra mim pra depois acender o seu. Pra depois de um tempo eu dizer que você precisa fumar menos e que eu só fumo tanto quando estou com você.

Eu queria era você aqui, me explicando como é que as coisas vão dar certo, como vai ser o futuro, pra me convencer uma e mais uma e quem sabe mais outra de que o presente é o que interessa e de que o passado já não tem nenhuma importância.

E depois de pensar que o que eu queria era você, fazendo as coisas que naturalmente a gente faz, eu me peguei pensado que talvez fosse natural e espontâneo se eu te ligasse, mas não agora. Seria à uma hora atrás quando antes de pensar que o sol queima, eu olhava pro telefone fingindo não lembrar o seu número, fingindo não querer ligar, fingindo não ter assunto. Fingindo não ser suficiente (e melhor do que o silencio da casa inteira e a greve de palavras dos móveis e eletrodomésticos comigo) o seu silêncio do outro lado da linha, fingindo não ser suficiente te ouvir dizer que sentiu minha falta, e antes de desligar dizer um simplório eu te amo.

Naquela hora em que olhei pro telefone e desliguei antes de poder chamar, tudo seria naturalmente espontâneo, mas agora, qualquer coisa que eu disser terá sido previamente elaborada. Daí, percebi que não podia mais ligar, porque eu nunca gostei de jogos elaborados, sempre prezei e você também a naturalidade com que as coisas aconteciam.

Eu quis ligar o som pra acabar com todo o silêncio, quem sabe ouvir algo como “já que você não está aqui, o que posso fazer é cuidar de mim”, mas nem precisei, pois me veio na cabeça você cantando “porque você está comigo o tempo todo...” na mesma hora em que eu olhava seus olhos cheios d’água e eu te abraçava forte, evitando te olhar nos olhos pra você não sentir meu medo e minha alegria e foi quando você disse que eu te fazia feliz, e eu perguntei como, se você estava chorando e você me disse sorrindo, com os lábios molhados de lágrimas, que chorava de alegria, mas eu podia sentir a dor no seu sorriso afetado e no olhar calmo que ao mesmo tempo gritava.

E foi depois que eu te vi que passei a sentir a diferença das minhas noites sem e com você, foi depois disso que passei a sentir frio quando você não está, e passei a sentir frio nas minhas tardes vazias de pensamentos confusos sobre você e foi pensando nesse frio que voltei a perceber que hoje se faz um dia chato. Um dia daqueles em que nem o sol pode aquecer. Porque chega um tempo em que o sol não aquece mais. Ele queima.


Escrito pra Bruna Uesugui. :)

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

"Coisas assim, você sabe? Eu, sim: amar o mesmo de si no outro às vezes acorrenta, mas quando os corpos se tocam as mentes conseguem voar para bem mais longe que o horizonte, que não se vê nunca daqui. No entanto, é claro lá: quando os corpos se tocam depois de amar o mesmo de si no outro. Portanto, não se olham. E não sou eu quem decide, são eles. Não se deve olhar quando olhar significa debruçar-se sobre um espelho talvez rachado. Que pode ferir, com seus cacos deformantes." Caio Fernando Abreu, in O rapaz mais triste do mundo