terça-feira, 24 de março de 2009

Sobre o Contador de Histórias

Acabaram as histórias. Acabou a imaginação. E o velho contador de histórias já não sabe o que falar. Chapeuzinho Vermelho há muito tempo ficou para trás, depois Pinóquio, e todas as princesas. Feiurinha, gato de botas, esses aí então já não sabia nem mais contar. Depois que as crianças começaram a ir para escola cada vez mais cedo, os avós perderam a utilidade de contar histórias de contos de fadas às crianças. E ele que sempre fora o irmão mais velho, desde pequeno contava histórias aos irmãos menores, foi quando desenvolveu um enorme dom, o de mentir, ops, de sonhar. Contava histórias fascinantes, que nem mesmo haviam existido, a não ser, algumas que saiam quase prontas de seus sonhos. E sonhava toda noite, e ficava o dia todo remoendo, reinventando, recontando aquela história consigo mesmo, para contar aos irmãos mais novos, que aliás adoravam e só dormiam depois da "sessão histórias". Histórias lindas de princesas, donzelas, borralheiras, perseverança, força de vontade, compaixão, paixão e AMOR. Porque toda história bonita é movida pelo AMOR, pela PAIXÃO.
Tinha 4 irmãos mais novos, e todos eles cresceram com as histórias que ele não revelava para ninguém de onde vieram, histórias que sempre começavam com “num reino distante, bem distante”, ou “há muito tempo atrás”, ou “um amigo da prima da tia da vizinha do meu colega de classe, disse”, de tantas histórias bonitas, aprendeu a mentir como ninguém, mas nunca aprendeu a acreditar ele mesmo nas suas mentiras (às vezes isso dá mais credibilidade) e nas mentiras alheias (se acreditasse nas mentiras alheias a vida teria sido melhor).
Seu irmão mais novo, hoje com 44 anos, formado e doutor em educação física, o de 47 anos um dos maiores produtores de comercial para TV, o de 40 anos médico, o de 51; advogado. Pessoas que acreditavam que as histórias eram reais, que acreditavam em sonhos e que correr atrás os faz realizar, pessoas que acreditam em amor em pleno século XXI.
Lançou um livro ainda com 21 anos cheio de histórias, sonhadas e imaginadas por ele mesmo, já havia inventado tantas histórias que começava a sentir que todas eram iguais, foi se entristecendo se fechando mal falava com medo de desperdiçar alguma boa frase para suas histórias. Casou-se, teve 3 filhos, foi quando voltou a sonhar, a se lembrar como se contava uma boa história, lançou o 2º livro, 30 anos. O tempo, a calma, as crianças crescidas, a família, isso lhe rendeu mais histórias, 3º livro, fim, 43 anos, acabou. Foi enlouquecendo, se isolando, não falava, o dia todo rodando a cidade; nenhuma história, o dia todo dormindo e nada de sonhos, enlouqueceu aos 45, sem esperança, sem o “amor” das histórias de reis e fadas, sem medo ou compaixão ou bravura, porque ele sabia, só ele, que essas histórias eram apenas mentiras bem contadas, contadas com carinho, apenas sonhos enfeitados com margaridas bem perfumadas. Só ele sabia que grande fingidor era ele..
E ele hoje com 60 anos, mal se formou em letras, lançou 3 livros quase-sucessos-quase-fracassos, hoje mora aqui nessa clínica ao lado da minha casa (a família internou, não sabia o que fazer), onde em raros momentos de sanidade grita pelo buraco do muro a sua história. Hoje ele é só mais um velho de 60 anos. Sem histórias pra contar e sem imaginação o velho contador de histórias já não sabe o que falar.


Obs: A fase ruim tá que passa. ;)

domingo, 15 de março de 2009

Sobre O Meu Carnaval.

É, sim, eu ando sem inspiração, eu confesso. Uma semana do seu lado e você arranca facilmente todas as minhas feridas e aflições com a mão, sem eu ao menos sentir.A minha falta de inspiração tem nome, sobrenome, tem um metro e setenta e dois, cabelos negros e olhos puxados. E cresce de uma maneira totalmente previsível dentro de mim. É eu cheguei ontem a noite, queria ter chegado durante a manhã sabe como é, a noite é sempre mais depressiva. Fui direto pra cama, talvez pra descansar, talvez pra dormir, mas não fiz nenhum dos dois... eu chorei a noite toda. Quando eu começava a pegar no sono sentia sua mão na minha cabeça, me fazendo carinho, e quando eu ia abraçar você, sentia o pano frio do travesseiro. Injusto a minha mente me trair tanto assim, injusto ficar imaginando você comigo durante a noite toda, injusto ter a sensação EXATA dos seus carinhos e abraços enquanto eu durmo.Eu sinto sua falta, my dear. Falta dos cigarros de menta, falta das risadas abafadas no silencio da madrugada, falta dos gemidos sussurrados ao pé do meu ouvido, falta do toque, sinto tanta falta sua que sou quase toda falta [ como aquela menina de alguns posts atrás, e eu sentia pena dela]. Hoje eu acordei com o rosto inchado, olhos vermelhos, olheira funda. E lá fui eu, tomei um banho quente e quando voltei pro quarto fui logo tirando meu roupão de costas pra cama como eu fazia de costas pra você, quando virei quase te vi deitada ali com a sua cara de quem quer mais ( e você diria; “vem aqui, vem!”) e eu iria... iria me deitar com você e deixar você fazer o que quisesse de mim, mas você não estava não é? Então me deitei na cama abraçando o travesseiro, meu velho companheiro de noites afio, e chorei. Não faria diferença nenhuma mesmo, pra quem já estava com o rosto inchado e olhos afundados, chorar mais dez minutos não causaria mal nenhum. Mas resolvi levantar, sabe, REAGIR. Me vesti, saí, queria comprar alguma coisa pra me distrair, você sabe comprar sempre é um bom passa-tempo. Eu comprei um peixe. Um betta, ele se parece tanto com você meu amor... Quando o dono da loja me descreveu ele, eu nem perguntei o preço, peguei logo o azul (que é a cor da saudade, da tristeza e melancolia), escolhi um aquário e trouxe. Ele me faz companhia agora. Um peixe anti-social, que não sabe viver com seus semelhantes, muito menos com os diferentes, disseram que ele mata outro peixe, e se juntarmos dois bettas eles brigam até a morte. Gosto do temperamento forte dele assim como gosto do seu. Depois de dias com companhia agradável agora eu tenho a companhia de um peixe, mudo, brigão, que implica quando eu encosto meu dedo no aquário. Eu tenho saudade de você, não pense que eu te esqueci, não pense que não ligo pra ti, eu não vou sumir, não se preocupe, mas agora tenho que parar de escrever, tenho que arrumar meu peixe azul no aquário novo dele. Você pode me escrever pra aliviar a dor? Ligar na madrugada como quem se virasse na cama e me abraçasse? Você pode ligar no meio de uma tarde quente como se aparecesse pra me levar pra sair? Porque eu ainda espero que quando a campainha toque seja você chegando e eu faço aquela mesma cara de indiferença fingida que eu fazia antes de abrir a porta, o meu teatro tem sido mais inútil agora que ninguém entende os meus porquês. O peixe vai se chamar Zuza, de Cazuza sabe? Eu precisava de alguém pra cuidar, pra ocupar o meu tempo, ocupar minha mente, mas eu sei que o Zuza não vai substituir você [e os seus lábios nos meus, seu espaço vazio na cama].

Só uma pessoa sem criatividade e sem o objeto amado pode comprar um peixe e achar que ele substitui o ser amante. Eu confesso que ele tem sido minha única companhia nos últimos dias. Eu queria te contar que a minha vontade de escrever se foi junto com você e seu ar de inconfessável melancolia. A inspiração deixou um espaço vazio na cama, e um espaço maior ainda aqui dentro, e esse vazio dói e pesa.

Eu só espero que um dia você possa me entender, mas enquanto isso... vivamos da maneira como se deve viver.

Finalização com ajuda do meu querido amigo; Heitor Zanoni.

Obs: Totalmente auto-biográfico!