sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Sobre Pedaços

Você é metade de mim, metade certa, metade igual, sabe? METADE !

Podem falar o que quiserem, mas uma metade de mim; é você!

Você é metade em mim que gosta de pizza de champignon.

Você é metade em mim que gosta daquele frio insosso de deixar os dedos das mãos frios e os dos pés roxinhos, de deixar o nariz gelado pra encostar no pescoço de alguém em baixo do edredom no meio do filme romântico-água-com-açúcar.

Você é a metade de mim que adora academia e adora correr na praça logo de manhã.

Você é a metade em mim que gosta de pratas, baleias e tecnologias.

É a metade em mim que quer ter muitos filhos, que quer casar cedo, que quer conhecer o mundo, que me quer mais bonita, disposta, preparada, em forma.

Você é aquela metade que programa viagens de férias a dois, pra um lugar distante, que tenha um parque que eu possa andar com você no frio e sentar em volta de um lago qualquer pra brincar de contar peixes, jogar comida pros patos, olhar o vento nas árvores.

Então não vá embora, porque você é a parte de mim que eu mais gosto.

Então fica, que eu faço o que você quiser.

Eu só quero continuar com esse pedaço significativo que é você, se quiser corto outros pedaços. Os pedaços que você não gostar, pode falar...

Eu corto aquele pedaço que despeja preguiça e gula no meu sistema circulatório.

Eu corto o pedaço que bloqueia o filtro entre pensar e falar, entre pensar e agir, entre sentir e pensar.

Eu corto o pedaço que me deixa extremamente enciumada quando você pega aquele seu violão e esquece que o resto do mundo existe; que eu tenho TPM; que há greve nos correios; que faltam vagas em hospitais.

Eu corto a parte do drama, do sentimentalismo, da carência, da produtividade, do egoísmo.

Eu corto a parte, se quiser eu corto até a parte que seria capaz de tudo só pra você ficar.

Então não vá embora, por favor.

Fica, porque eu perderia pedaços de mim, mas não perderia você. Você não! Porque metade já é demais.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Sobre VOCÊ

Estranho você não estar por aqui antes, nesse lugar chamado NECESSIDADES, pois, das minhas, você está entre as primeiras. Você que não era nada no meu coração, coração formado por nebulosidades e possibilidades, com 'talvez' e 'quem sabe', seguidos por infinitas reticências. Coração enganado, tolo, que acreditava que podia sair do peito e viver um sonho. Com você é realização, pé no chão, coração disparado.

Eu pedi tanto, pra todos os santos, então você chegou, atrasado, disfarçado, demorou pra eu te reconhecer, meu coração lembrar você. Talvez eu tenha te amado, estranho, desde o primeiro instante, mas até então sem saber de amor, não pude entender. Com você tudo tem tempo errado, fora de hora, descompassado.

Compasso de quatro tempos fazendo seis meses, pausas que não fazem nem dois dias, acordes ritmados no seu tom, sol de uma canção de amor. E a partitura dessa vida sendo escrita a cada soar do despertador, sem ensaio, improviso. Eu improvisando no seu palco, e você ensaiando uma junção do seu palco no meu.

E eu abri a porta pra você, furacão. E você, furacão, invadindo minha vida, já de cabeça pra baixo. Você, furacão, colocando tudo em seu devido lugar, trouxe flores, abajur e adubo, multiplicou não só as flores, mas os sonhos e os sorrisos.

Você que não existia pra mim, escreveu seu nome na linha pontilhada, formada por tantas reticências, no meu coração.


Obs: Existe uma lista de e-mails que são comunicados quando postamos um texto no blog.. Caso queira incluir seu e-mail, me avise.

sábado, 18 de junho de 2011

Sobre O Que Não Fomos.

Me peguei rindo ontem porque, de repente, me lembrei daquele dia em que conversávamos tarde da noite na sala da casa do seu irmão. Deveríamos estar dormindo aquela hora, mas estávamos acordados, tínhamos acabado de transar, você disse que me queria antes, disse eu te amo durante, e nós rimos tanto por qualquer motivo depois. E nós rimos tanto porque você me contou aquela piada idiota. Você tapava minha boca e me pedia pra rir mais baixo, você dizia sem parar: xiu! Mas nem você conseguia se conter, você ria de eu rir da sua piada idiota. Me peguei rindo ontem daquela nossa madrugada.

Tentei te ligar de madrugada, mas eu tenho mania de me sabotar, abortei a ligação antes que chamasse. Antes que o meu nome ficasse registrado no identificador de chamadas do seu telefone. Acho que seria confuso e reviraria seu estômago mesmo eu não tendo mais a importância que um dia eu tive. Será que voltariam algumas das sensações que um dia eu te fiz sentir? Aquele velho frio na espinha de ouvir minha voz e tudo que eu tinha pra falar? Aquele velho pensamento de me achar doce pra dizer coisas tão pesadas? Eu queria ter ligado, queria ter escutado você dizer que estava tudo bem, que a vida andava boa, que continuava fazendo as velhas coisas ou talvez não, me contasse novos hábitos, nova rotina, novo amor, me dissesse como está feliz, como está amando. Seria bom ter de novo aquele velho hábito de dividir confidências com você. Mas desliguei antes de chamar.

Como já disse, eu tenho mania de me sabotar. Fico me proibindo pensar em você, fico me proibindo ver você nas coisas em que eu via antes, fico me proibindo você. Porque, sabe, pensar em você traz à tona sentimentos que eu escondo lá no fundo, naquele pedaço de ferida aberta do meu coração. A saudade nem me atrevo a reclamar, essa sempre foi constante, mesmo quando escutar seu nome pela rua me fazia sorrir instantânea e involuntariamente. Agora, ouvir seu nome me faz sentir de novo incapacidade. Não só incapacidade, mas fracasso. Eu sinto gosto de fracasso na boca, acredita? Fracasso por pensar em tudo que podíamos ter sido e não fomos, não somos, não seremos. Tristeza, uma pontada de tristeza, como fisgada de dor na cabeça.

Por tudo isso e por vários sentimentos que ainda não disse a ninguém, porque não consigo traduzir, por tudo isso eu queria te ligar. Pra dizer e fazer passar. Assim como passar sentimentos pro papel os tira de mim, eu queria passar tudo que sinto pra você, naquela linha, por aquele aparelho eletrônico. Te mostrar, te contar, como se escreve num quadro negro e apaga, como se rasga a folha de papel antes de jogá-la no lixo.

Se eu conseguisse te ligar qualquer dia, perguntaria a você como foi que você escolheu saltar da minha vida, em que ponto da viagem você decidiu que já não era mais confortável ficar nesses assentos almofadados que eu reservei pra você no lugar mais arejado que havia em mim. Em que ponto foi? Você diz que o amor se perdeu aos poucos, e que foi se perdendo até não restar mais nada. Ah meu amor, sua distração sempre me atraiu muito. Meu menino distraído, como foi que você não percebeu seu amor minguando aos poucos? Como foi que algo tão grande se perdeu tão rápido entre os meus dedos se a fresta pra saírem era pequena demais? A gente só perde aquilo que não tem cuidado suficiente pra guardar em segurança, meu menino.

Um dia eu te ligo, quando o seu nome não me causar mais revertério no estômago, quando eu parar de sentir meu estômago se contraindo e querendo expulsar tudo lá dentro. Quando aquele velho pedaço de ferida aberta do meu coração cicatrizar. Quando eu não mais sentir gosto de fracasso ao lembrar o que não fomos, porque o que não fomos sempre foi uma fantasia minha. Fantasia que vou readaptar, reformular, aumentar aqui, cortar alí e vestir em uma outra pessoa. Quando qualquer coisa que me lembre você não me deixar mais triste por achar que foi tudo em vão. Quando eu esquecer que você me dizia que amar na vida é uma vez, e depois saiu amando várias outras pessoas e entender que você não fez por mal, entender que era o que você realmente pensava naquele instante, mas que você se enganou, que isso é normal, não foi por mal. Quando eu perceber que também me enganei quando concordei com você.

Um dia te ligo, quando eu perceber que também não foi por mal quando eu disse que nunca amaria ninguém como você e acabei amando depois. Não foi por mal. Eu espero um dia perceber o quão enganada eu estava. Por enquanto, continuo tendo amado você do jeito que não fui capaz de amar qualquer outra pessoa até hoje. Mas se você se enganou, porque não posso me enganar também não é? Te ligo quando perceber meu grande engano, quando não sentir mais nenhuma necessidade vital de você, quando eu não mais sentir aquela imensa vontade de abrir os olhos e ser você, quando eu não mais achar você tão fraco, quando não mais ter a impressão de abraçar você, ao invés do travesseiro, no meio da noite.

Te ligo quando não mais pensar que seja necessário ligar pra você pra dizer qualquer coisa, quando a mágoa passar, quando eu não tiver que perguntar 'por que você saltou?' porque então já não vai mais fazer diferença o 'por que'. Os 'por que's. Então é isso, te ligo, te chamo pra sentar em uma sorveteria, quando mais nenhum 'por que' fizer diferença.

Sentaremos de frente um pro outro, daremos aquele nosso velho olhar cordial, faremos aquele semblante de ‘como é bom te ver’ e conversaremos coisas sem sentido, e teremos boas lembranças, e daremos boas risadas.

E então, quem sabe você não ri também de lembrar que um dia tarde da noite, na casa do seu irmão, nós rimos incontrolavelmente de uma piada idiota que você contou, sobre a centopéia, seu marido ciumento e seus incontáveis pés.



Obs: passou!

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Sobre a Bailarina

Não fazia questão de ser amada. O que? Como assim? Todo mundo faz questão de ser amado, e mais ainda, todo mundo faz questão dessa coisa que chamam de re-ci-pro-ci-da-de. Que graça tem amar sem receber ao mesmo? Pra ela tinha.

Não é que não queria ser amada de volta, queria sim, mas isso pra ela não era o de mais importante, [cochichando] se quer saber, nem fazia falta. Já fora tão amada pelos pais, pelos amigos. Era uma dessas pessoas que é difícil achar quem não goste, mas ele não gostava.

Era miudinha demais para ser amada como mulher, ainda mais por ele que era tão... Grande! Desmedido! Em proporções e atos
.
Uma bailarina que nunca amou ninguém. Não se espera tanta frieza de um coração de bailarina, mas não era fria, era doce, quente, amiga, era perfeita, as bailarinas são sempre perfeitas não é? Com exceção daquela gordinha que a mãe tenta colocar no balé pra ver se fica mais feminina e preocupada com a beleza.Estou falando das meninas que nasceram para serem bailarinas.

Ela nunca havia amado, e só pelo fato de amar alguém já se fazia satisfeita, satisfeita até demais, eu digo. Não conhecia se quer o amor, imagina então a reciprocidade do mesmo? Achava que era mito, lenda, conto infantil,

Amava... E por amar já se sentia satisfeita, feliz, e podia ter sido assim pra sempre, mesmo que pela eternidade João não a tivesse amado. Mas amou!

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Sobre Abnegação.

Como é que eu posso te dizer todas essas coisas que eu sinto sem magoar você? Sabe, tem muitos aspectos meus que você ainda não conhece, porque a gente não se mostra tão fraca assim pras pessoas, mesmo as pessoas mais próximas. Minto, você consegue fazer isso e é lindo, mas eu não. E é por isso que você não me vê dizendo todas as coisas que eu escrevo.


É por isso que você não me vê chorando no seu colo, embora sangrando por dentro eu queira muito. Você não vai me ver pedindo seu colo, porque mesmo eu querendo muito uma coisa, depois que eu peço eu não me sinto muito confortável em ter, como se ganhar voluntariamente fosse mais digno do que pedir, e é assim em tudo pra mim, e é por isso que não reclamei sua presença, nem seu colo. Dei alguns sinais, mas acho que você perdeu o jeito de me decodificar.


Sabe, você é do tipo de pessoa que todo mundo se apaixona quando chega perto, você cativa, você conquista. A gente tem impressão de já conhecer você desde criança, porque você passa uma segurança incrível, uma confiança que faz a gente se lançar no picadeiro sem saber fazer nenhuma mágica, andar na corda bamba sem rede lá embaixo pra remediar uma possível queda.


A gente ama demais, sabe? A gente se joga demais, a gente sonha demais, a gente acredita. E é por isso que a gente se identifica. Somo assim, fazer o que? Quando se trata de sentimentos eu sei que você pode me entender com um olhar. É só te contar qualquer coisa e você já sabe como eu me sinto, só de ver como eu te olho. E você é assim com todo mundo. E isso é lindo. Você que acompanhou várias quedas minhas, não estava lá na última queda, justo você, que já havia caído igual, que podia me mostrar o caminho pra reerguer, que podia me ensinar a andar novamente. Pé após pé. Você que me entendia com o olhar, você que me abraçava dando o seu refúgio, você que sorria me mostrando dias melhores.


Você não estava lá, não estava lá pra saber como eu caí, não estava lá pra me olhar e entender como eu me sentia. Não estava lá pra fazer com que eu me sentisse melhor só por você me entender, não estava pra me ensinar a caminhar novamente, e você era a única capaz de... Me senti como se tivesse entrado no picadeiro, a platéia me olhando, esperando o meu melhor, esperando que eu arrancasse várias risadas deles e eu... Eu corri.


Corri como eu sempre faço, me escondi e escondi a minha dor como eu sempre faço, pois você não estava lá pra dizer que era normal sentir dor, pra dizer que não era feio sofrer, você não estava lá pra me dizer que eu ficaria bem. Não estava pra me acolher no seu abraço maternal, não estava pra dizer o que eu sabia que diria. E você faz tanta falta, com seu andar desengonçado e seu meio sorriso suave, sua risada boa de ouvir, seus clichês, seus abraços maternais, seu violão, seus elogios.


Tentei tanto escrever um texto pra você, mas você merece um texto grandioso, daqueles que falam de amor e girassóis, daqueles que soam como Buarque e Jobim, daqueles que vibram como samba, e não desses que sangram rubro, desses escuros, rubro-negro. Não consegui. Saiu esse, meio torto, meio desengonçado como seu andar, dá pra combinar.


Acho que a doçura se perdeu em meio à luta, a doçura de ser sempre mais amor. De saber que cada um que anda ao teu lado, independente da luta, da causa, das crenças, cada um deles é tão importante quanto à causa, qualquer causa. Porque a causa muda e se perde de vez. As pessoas mudam e nem por isso se perdem.


Você perdeu sua doçura em meio à militância pra reivindicar amor? Pois que venha o amor, mais amor, sempre mais amor! Ser amado novamente como se foi um dia, como não se deu valor um dia, ou só ser amado como se amam, como os outros amam. Mas com a gente é tudo sempre tão diferente, tão mais complicado ou não, tão mais simples e o difícil é só aceitar, aceitar receber menos do que dá.


Tão difícil abrir mão do que se quer pro outro ser feliz, não é? Você, mais do que ninguém, sabe disso. Tão difícil abrir mão das próprias carências pra ver o semelhante feliz, tão fatidicamente semelhante. Abrir mão de receber e continuar sempre dando, dando, dando, dando, dando até esgotar.


Aprendi, vendo você, a não ser egoísta nas relações. Cheguei a querer exigir, cheguei a querer pedir, mas você não entenderia, você não entende mais isso, você é toda abnegação. Por isso não reivindico, não cobro, não espero, não exijo, e assim, se essa minha presença tão distante, tão deixada pra trás, tão nostálgica, se é assim que ela te faz feliz, eu aceito. Mas tão difícil abrir mão das próprias carências pra ver o semelhante feliz, tão fatidicamente semelhante.


Então, me desculpe, sem você eu me senti como se estivesse balançando no trapézio sem ninguém do outro lado pra segurar, sem você do outro lado pra dizer 'solta e vem que eu te seguro', sem ninguém pra segurar a minha mão quando escorreguei de lá de cima, o suor da mão, o trapézio escorregou, sem rede em baixo pra me amparar, eu caí. E não quero ser injusta, nem egoísta, nem nada parecido, mas eu preciso que você saiba que você não estava lá pra me segurar quando eu caí.



Obs: vem se enxergar, de novo, aqui.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Sobre Peito Aberto

O bom de ter poder de argumentação é que você pode convencer os outros de qualquer coisa. O bom de ter um ótimo poder de argumentação é que você pode convencer a si mesmo de qualquer coisa.

Eu exercitei isso comigo hoje a noite inteira, enquanto sentado nesse bar queria em vários rompantes ligar para ela, pra dizer que eu sentia a falta dela, ou pra dizer que eu me surpreendo pensando dela, ou talvez algo bem mais impessoal e que dissesse menos de mim, como, sei lá, talvez, um 'Oi!'.

Exercitei também quando fiquei pensando que deixei as coisas irem longe demais com todas as outras pessoas com quem ando saindo, além dela, e que não se pode ter compromisso sem estar compromissado.

Gostar de alguém é pisar em terreno até então estranho, onde tudo é novidade e tudo me assusta me faz querer recuar e desistir como tenho feito em quase tudo na vida.

Mas quando pensei que poderia magoar ela se eu fugisse dela, ou do sentimento, ou da situação, e mais ainda, me magoar, coisa que venho tentando evitar a todo e qualquer custo, foi quando pensei em mágoa que repeti, e convenci a mim mesmo que mal não pode haver em deixar as pessoas se entregarem sem responsabilidade, afinal, as pessoas sabem se defender.

Às vezes digo o que sinto quando estou mais aberto, mas nem sempre esse sentimento de gostar perdura até a manhã seguinte. E não há nada mais perigoso que mentiras sinceras ditas com carinho e irresponsabilidade.

Não vou dizer que estou confuso, não estou, só que ando sentindo o suficiente, para estar perto, por todas as pessoas que ando saindo, por pessoas demais e a soma desse suficiente é cada vez mais insuportável em mim.

Voltei a ter essência de crianças, tão sinceras e... Sinceras. Dizem o que sentem, o que incomodam, fazem críticas que a gente se quer ousaria comentar, falam de sentimentos que a gente tem medo de decodificar.

Ando sentindo coisa bonita, e não quero pensar no que fazer com isso como os adultos fazem, cheios de suas preocupações e planos pro futuro. Eu quero só sentir, quero só viver, quero só experimentar, deixar crescer.

E gente assim, isso é um perigo. Então vistam suas armaduras e recarreguem suas armas porque aí vou eu, e mais do que sempre, eu estou indo de peito aberto...



Obs: dia bom de chuva!

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Sobre Amores Imperfeitos

Ele atrás de mim a me abraçar, com seu corpo nu quase dentro do meu sussurrou baixinho em minha orelha: - Eu quero tirar você daqui!



Por um minuto me pareceu tão sincero, tão bonito e tão tentador. Pensa bem, uma boca bonita como aquela pra beijar antes de dormir. Pra beijar depois de acordar, pra beijar antes ou depois de qualquer coisa que der vontade. Pra beijar a qualquer hora, durante também, por que não? E ele era o único que eu beijava por prazer e beijaria por prazer até o resto da minha vida aquela boca tão tentadora, tão delícia. Eu o conheci na puberdade e agora ele era um homem, um homem com aura de menino. Ele Era o meu menino. Ele aflorava todos os sentimentos do mundo em mim, me dava um puta tesão, mas ao mesmo tempo ele despertava até o meu instinto maternal. Queria cuidar dele, queria ele pra sempre do meu lado, queria cuidar do futuro dele, queria ver ele se formar e estar lá na colação de grau, na formatura, sentada na mesa junto com a família dele. Queria tanto fugir com ele, pra qualquer lugar que fosse, pra de baixo da ponte se preciso fosse, mas de baixo da ponte não era tentador.

E continuou - Você não gosta daqui, eu te levo embora, eu cuido de você.

Palavra dada implica cumpri-la, então isso era uma promessa. Promessa igual me fez o aquele primeiro, o primeiro que colocou os genitais dentro de mim, o primeiro que despejou seu sémen na minha boca, o primeiro que colocou um feto dentro de mim. Prometeu o céu, as estrelas e um pouco mais, me prometeu a diversão pecaminosa antes do nosso sincero arrependimento, antes da redenção. Sumiu no primeiro enjoo. Com o exame na mão eu nunca mais o vi. Fui àquela clínica sozinha, depois quase morri na mesa de operação pela hemorragia. Promessas... Promessas são feitas para não serem cumpridas. Quem quer fazer faz sem prometer. E não posso sair daqui, mesmo que seja só essa sua boca que eu queira beijar todas as manhãs. É só você que me abraça antes de dormir, só você que me diz palavras pesadas sussurradas no ouvido, só você que me excita, só você que faz o meu mundo girar tão rápido e devagar ao mesmo tempo, isso tudo não é tão louco, menino?

Já tive isso uma vez na vida e me levou tudo, inclusive amor-próprio. Demora pra se ter de volta tudo aquilo que te roubam, sabe? Me levaram dignidade, coisa essa que eu ainda não consegui reaver. Não ainda. Me levaram honestidade, simplicidade, me levaram tanta coisa, menino. Se soubesses onde e como me acharam, você ficaria enojado. Você não me conhece, não sabe metade das coisas que eu fiz pra sobreviver, e não falo de sobrevivência no sentido físico, de pão e água, falo de coração. Por que sobreviver é importante, não só viver, mas sobreviver. Não se pode dizer que não gosto de estar aqui, até gosto. Tenho cama com lençóis de cetim, edredom confortável, uma cama que não se dá vontade de sair, ostento ouro no pescoço, como com quatrocentos e cinquenta talheres, posso ir ao salão todos os dias, ao shopping, tenho um vestido Dior, tenho uma bolsa Prada, tenho uma sandália Louis Vuitton, vou ao Lee Stanford uma vez por ano, viajo quando eu quiser, pra onde quiser, e no fim, tenho você sempre por perto. Eu não poderia querer mais. Eu não quero mais. Fui comprada sim, mas dessa vez não por amor, fazer o que, é a falta daquela dignidade que levaram! Me levaram esperança também, coragem também menino. Me levaram muitas coisas, e algumas delas o seu pai não conseguiu me devolver. Vai doer muito mais em mim cortar o coração da única pessoa que me amou de verdade, mas já fiz tudo que tinha que fazer na vida, agora é sua vez, vai e ganhe o mundo meu menino, ele será todo seu. A sua vida vai ser bem melhor se as coisas continuarem no mesmo lugar em que estão. Vai passar. Em você e com certeza também em mim. Deixo de fugir com você não por lealdade, por amor ou gratidão. Não vou porque tenho medo, e quis dizer também ‘me falta coragem’. Não tenho mais nada a conquistar, cheguei ao pico, garoto, cheguei ao alto, daqui pra frente se eu mover, é só ladeira a baixo. Não espero que me entenda, não espero que não me odeie, eu só quero que fique tudo bem.

- isso já foi muito longe, eu sou tua madrasta, nunca se esqueça. Agora pegue suas roupas e não me procure mais. Ok?



Se eu disse que não chorei, estaria mentindo. Se eu disse que não quis ir atrás dele, mentiria mais ainda. Mas na verdade, fiquei na cama, chorando e sussurrando baixinho, palavras pesadas como: eu amo tanto você, amo tanto você, amo tanto você, meu menino.




Obs: me desculpem os erros de ortografia, vai sem revisão mesmo. se eu revisar corto ele por inteiro.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Sobre estar na estante



e você ouvindo aquela música de novo. aquela música que quando você canta, parece se preparar para fim. o fim de nós. parece que você está sempre pensando que um dia vai acabar, como se quisesse que esse ‘um dia’ chegasse, como se quisesse estar preparada, como se fosse possível se preparar pra o fim de qualquer coisa.. queria que você acreditasse que podemos ficar assim pra sempre, como estamos, perfeitos. mas você se conhece, sabe como você é.

(você começa a dançar, enquanto canta mais alto)

você fica intolerável quando aumenta o volume do som e começa a cantar mais alto ainda, os vizinhos devem odiar você e consecutivamente a mim, porque todos que nos veem de fora nos veem como um só. só você, com as suas individualidades é que nos vê como dois. queria poder te mostrar todos os seus erros, mas eu aceito, aceito o que vem de você, engulo, sem mastigar, sem desfragmentar, digiro. é a maneira mais fácil que achei de nos fazer durar, entende? acho que entende, se você pudesse nos colocaria no formol, mas o que você não entende é que podemos ficar assim enquanto as mudanças do tempo e da ocasião vão agindo em nós.

(você põe a música pra repetir)

me dá uma dor no coração te ver assim, tão doída, sem conseguir derramar uma lágrima, uma palavra, dizendo coisas nas entrelinhas. se soubesses o quanto meu coração quer ouvir o que tens pra dizer, o quanto ele está receptivo até pra sua crítica mais dura... dá vontade de sacudir você, pedir pra parar, gritar pra você parar, até você chorar, até não conseguir mais sustentar essa máscara de menina sadia, menina feliz. chorar não quer dizer fraqueza, lindinha. chorar é coisa bonita e privilégio de quem sente, e você, já não sente coisa bonita faz tempo. queria que você entendesse que não é cantando alto aquela música que vai aprender a lidar com as situações... mas espero que quando ela tocar amanhã você aprenda a conviver com a minha falta, espero que de tanto ouvi-la tenha se preparado pra esse momento exato, de agora, de me ver saindo por aquela porta. não me leve a mal, mas eu preciso sair daqui antes que isso vire um inferno, porque é isso que você faz com as coisas...

(e você da sala cantando desvairadamente: 'tô aproveitando cada segundo antes que isso aqui vire uma tragédia')


e não vá atrás de mim, não faça escândalo, não me ligue bêbada, você sabe que pra ter sido bonito, pra depois lembrarmos com alegria e suavidade temos que abandonar tudo agora, se não você vai destruir tudo, deixar tudo arrasado e feio. por isso já aviso de antemão, não adianta me pedir pra voltar, eu não volto. porque 'eu estava aqui o tempo todo, só você viu'.


Obs: Um 2011 infinitamente melhor que 2010 pra todos nós.