segunda-feira, 27 de abril de 2009

Sobre Cuidado

100ª Postagem. :)

Um cacto morto por excesso de água, foi o que sobrou. Mas quem dera tivesse sobrado dos amores antigos só um cacto morto. Esses espinhos eram o que de mais brado havia ficado. Mais dolorido, ela pensava, era a única coisa boa que havia ficado: as lembranças. Dos amores que teve sempre fora deixada; terrível, mas verdade, ela sabia, havia reparado nisso nas últimas semanas. As últimas pessoas foram tão clichês, pediram tempo, terminaram, sentiram saudade, quiseram voltar depois de dois meses. Disse não, tentou, mentalmente, articular algumas verdades, as quais achava extremamente necessárias serem ditas, como: “eu fiz tanto por você”, “o meu orgulho não me permite dizer que sim”, ou “o que faltou?”.
A verdade, ninguém percebia, mas todos sabiam, ela, elas, não faltou, nunca faltou nada, nem pra essa última, nem pras outras ela’s que passaram por sua vida. Era cuidadosa, cuidava de si; estava sempre bonita, tinha sempre um cheiro bom, um cheiro que remetia a boa noite de sexo, velas, incenso, cuidava da casa; casa limpa, obsessão por lençóis brancos e limpos, cuidava do relacionamento; romantismo, aprendeu a gostar da rotina. E disso tudo; três amores, incontáveis sorrisos, noites sem dormir, alguns whiskys 20 anos, e milhares de vodka-nacional-barata, só ficaram coisas dolorosas: lembranças boas e os espinhos do cacto Caio morrendo na casa silenciosa. Era tanto amor, era tanta paixão, tanto cuidado. E foi quando ela percebeu ali, parada do lado do telefone, de pé olhando a janela (havia acabado de dizer que “não, porque não quero mais, você tinha razão em ter terminado” quando na verdade só queria ter dito que “não, porque eu sou orgulhosa, mas me liga amanhã quem sabe tenha passado”) percebeu que era isso, foi isso, na verdade os amores morreram pelo mesmo motivo de Caio-o-cacto. O excesso de cuidado, constatou, às vezes mata.


Obs: Tentando aprender o equilíbrio.

sábado, 18 de abril de 2009

Sobre Deus


E ele me dizia o tempo todo, converse com Deus irmã. Eu olho no fundo dos olhos dele querendo que ele entenda o que eu não consigo explicar com palavras, será que ele não entende? Taí ele não entenderia, primeiro porque eu pediria pra ele não me chamar de irmã, não quero, não gosto de intimidade com estranhos, estranhos me servem pra uma foda e nada mais, não posso foder com padres, isso é pecado mortal, nunca mais ganho o perdão de Deus, ta sabendo?
Não posso conversar com Deus, eu disse. Ele tentou argumentar que era só eu falar que ele me escutaria e quem sabe me apontaria uma direção. Achou que eu talvez não soubesse daquela antiga história de que Deus é onipresente, onipotente, achou que eu tivesse uma comum deficiência dos tolos em não conseguir entender essa coisa de alma, cosmos, conversas espirituais. Não é isso seu padre idiota, se a minha alma já conversou com a alma de vários amigos, inimigos e até estranhos porque eu não conseguiria me comunicar com Deus? Como é que eu vou explicar? Não expliquei, ele não entenderia, chamaria de capricho, mimo de burguesinha, tenho pra mim que todos os padres são originários de classe operária. Mas o caso é que, VAI QUE ELE ME APONTA MESMO A TAL DIREÇÃO, aí eu to fudida entende? Nunca fui boa em cumprir ordens, não é atoa que eu trabalho como autônoma. Vai que esse bendito coordenador do universo, aquele que dizem que faz as ligações entre um acaso e outro acaso e transforma em destino, porque claro dizem que o destino é traçado por Deus não é? Então se ele me manda seguir uma direção eu vou completamente o contrário, vai dar merda! Com certeza. Quando eles me diziam que esse era o método certo, eu ia pelo errado, não era proposital, mas eu sempre achei que as coisas deveriam correr pelo meu método, pela minha escolha, não gosto de opiniões, não me venha dar pitáco. Já me chamaram de cabeça dura, outros de ingrata. Ah, ingrata eu não sou, me defendia logo, não pedi opinião, não perguntei o que era melhor, na minha vida eu mando, na minha vida eu escolho quais caminhos percorro. Por isso eu falo...
Às vezes peço colo pra Deus, ele me dá, acreditem se quiser; me deixa deitar no colo dele e me abraça como um amante nas noites em que sinto mais frio e carência. Agora me diz se aquele cara que nasceu em 1930, serviu o seminário como suposta vocação, vai entender que trepo sem compromisso com estranhos, durmo com Deus de conchinha e não posso ouvir o que ele me fala pra não desgraçar minha vida. Parece até ironia do destino. Ou seja: do próprio Deus?


Obs: [ ]

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Sobre Afetação

Sabe quando você quer se fechar? Sim, eu queria muito isso agora. Não, não falo de desligar o telefone e ficar debaixo das cobertas chorando litros de lágrimas que acabam aliviando as dores que você sente. Não, não falo de ficar trancada no seu quartinho gritando com qualquer um que ameace entrar ou derrubar a porta porque, aliás, faz dias que você não come, não bebe, não toma banho e seu quarto deve estar cheirando pior do que roupa mofada. Não, também não falo de largar o vício da internet e perder sua importantíssima popularidade. Eu falo de continuar normalmente sua rotina, ir á faculdade, ir a festas de amigos, fazer tudo que você normalmente faz. Não, não estou falando de me fechar para o mundo. Estou falando de me fechar pras pessoas. É que pra mim, hoje, existem dois tipos de pessoas, as que estão aí pelos cantos de coração aberto e as que estão pelo mundo de coração fechado. Cansei de andar pelos cantos. Quero andar pelo mundo e não me afetar com mais ninguém.


Obs: Quase uma síndrome de Greta Garbo.
Obs2: Prometo que durante a semana eu comento com calma nos blogues.