terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Sobre SER Destruição.

O post a seguir é extenso. Portanto, prepare-se, respire.
(Gente saindo do blogue em 3, 2, 1. )


Sobre SER Destruição.

Era todo perfeito, chamava-o de príncipe.
Os cabelos negros do príncipe lembravam noites que foram para o outro tão dolorosas, os olhos verdes com amarelo do príncipe que faziam o outro lembrar daqueles sonhos tolos de ter um jardim só com girassóis em Paquetá, mãos macias de nobreza, corpo bonito que parecia de um cavaleiro nobre e era o melhor de todos que já haviam passado na vida do outro.

De todos aqueles que por acaso, ou não, passaram na vida do outro, o príncipe era o melhor. O único que o outro quisera pôr no colo e cuidar pra sempre, deixar chorar, deixar falar, deixar dormir soluçando no seu colo, no seu ombro, sentir sua respiração. Era um príncipe por que era tudo que alguém podia desejar e isso irrita, sabe? Como pode alguém ser tão desejável?

Era educado, gentil, tratava bem os pais que viviam tentando arranjar uma namorada à altura pra ele, filho único mas não era mimado, todo perfeitinho mas nada arrogante, inteligente, culto e gostava de Ben Harper. Sabia até surfar.

Era lindo ver ele dançando naquelas festas, bebendo com os amigos e ele sabia beber socialmente. Como podia ser tão perfeito? Era tão bonito e sua companhia tão gostosa que conquistava as pessoas ao seu redor em, no máximo, vinte minutos. Em vinte minutos ele estava rodeado de garotas e caras querendo ele das mais variadas formas possíveis.

E o outro, o outro se orgulhava de estar com o príncipe, de todos ficarem ao lado do príncipe querendo, porque querendo ele, e o príncipe sendo só seu, prometendo naqueles olhos verdes com amarelo que no fim da noite seria só seu e que no fim da vida estariam em um jardim só com girassóis em Paquetá.

Mas o outro não vai ficar pra esperar os jardins e girassóis de Paquetá, ele vai embora. Não queria ir embora, não queria mesmo, mas sabia que o príncipe não estava preparado para este furacão que ele era. Já havia deixado a vida de muitos outros homens de cabeça pra baixo, levado e destruído muita coisa da vida daqueles homens másculos e lindos. Se destruíra a vida de homens fortes e másculos, o que não faria com a vida daquele príncipe todo menino? Era um menino ainda, tinha tanta coisa pra fazer tanta coisa pra conquistar, tanta coisa pra aprender sobre o amor e sobre essa coisa estranha e que as pessoas têm asco só de pensar.

Quando chegaram em casa, o outro pegou um whisky, duas pedras de gelo, ofereceu, o príncipe disse que não. Estava tão lindo, tão desejável e tão feliz, que o outro gaguejava e tomava cada vez mais doses. O príncipe ligou o som, tocava Waiting For You do Ben Harper que ele tanto gostava, e ele foi tirando a roupa, deixando pelo chão, se aproximando cada vez mais do outro. Um beijo.

O Outro: Não faz isso.
Príncipe: O que foi?
O outro: Você sabe que eu quero conversar.
Príncipe: Não podemos conversar e fazer outras coisas ao mesmo tempo?
O Outro: eu vou embora, príncipe.
Príncipe: você já está na sua casa.
O Outro: eu vou sair daqui, ir embora da nossa casa.
Príncipe: não me deixa, não faz isso.
O outro: Eu queria ser uma brisa leve na vida das pessoas, porque eu cansei de ser tornado que passa destruindo tudo pela frente, que deixa destruído tudo pelo caminho.
Príncipe: Mas a gente pode ser os dois.
O Outro: não fala nada, me deixa falar?
Príncipe: não! Eu não vou te deixar falar. Eu não quero deixar que você me convença que é melhor te deixar ir, não quero que você me diga desculpas banais com as quais, quem sabe, eu até possa concordar, não vou te ouvir.

(O outro então começou a gritar. O príncipe a andar pela casa pra ficar longe do outro, sair de perto, não ouvir, e o outro ia atrás dele, em todos os cômodos, mas nem precisava tão alto que falava. )

Outro: Vem aqui ,vamos conversar! –gritava enquanto andava atrás do príncipe.

Por fim, o príncipe cansou da fuga, sentou, e escutou ele dizer tudo que queria.

O Outro: Eu vou embora! Vou sair por aquela porta e você vai ficar aí, sentado me vendo ir. Você é, sim, como eu já disse, a coisa mais surpreendente que me aconteceu em todos esses anos, você me trouxe de volta a luz depois de todos esses anos de escuridão. Você me trouxe abraço apertado, beijo com paixão, frases que doem quando a gente escuta olhando nos olhos, pêlos que arrepiam quando as mãos passam nas costas, você me trouxe o seu amor. E o seu amor é a coisa mais bonita e sincera que podia ter me acontecido nesse momento, mas eu sou um bosta, cara. eu vou destruir a tua vida, você entende? porque é isso que eu faço na vida das pessoas, é isso que eu causo nas pessoas. você sabe, você conhece a minha história, eu venho cortando o coração das pessoas, destruindo os sentimentos bons que elas tem por mim. não sei que necessidade é essa que eu tenho de ser odiado, de não ser tocado no fundo, de não ser afetado. recuso ainda qualquer tipo de aproximação, principalmente a sua. eu não quero fazer mal à você, meu querido, mas eu podia. podia mostrar pra você toda dor que se pode sentir numa relação tão suja e condenada por todo mundo à sua volta. todos à minha volta já estão acostumados com a minha sujeira mas o que os seus pais diriam se soubessem que bixinha que você é? não foi pra isso que eles te criaram, não é meu príncipe. olha, você é educado, é bonito, é gentil, é desejado, você não precisa sofrer por mim. você é tão bem resolvido e é tão procurado que não precisa sofrer, nem deixar eu causar tanto sofrimento, que eu sei que sou capaz e sei que, com o tempo, vai ser inevitável causar tanto dor em você, querido. vai príncipe, deixa teu pai arrumar uma princesa pra você, já que você diz que eu sou o teu único homem, que serei o único homem em sua vida, que se não for comigo não há de ser com mais nenhum, deixa ele te arrumar uma menina, uma menininha daquelas que vivem de unha feita, pintadas de vermelho, que só usam sandalhinhas, que demoram duas horas para escolher um vestido para a festa de aniversário da tua prima, que não beba, que não ria descontroladamente de alguma piada, que não seja desajeitado e meio torto, que seja fina, que saiba comer com quatrocentos e cinquenta talheres em cima da mesa, que saiba começar de fora para dentro, comer escargot, apreciar aquelas ovas de peixe que você gosta, aquelas meninas que vão passar um dia todo procurando teu presente de aniversário de namoro, que você terá prazer em apresentar pros amigos, pros seus pais. Que seja o contrário de mim, sabe? que não me lembre em nada, nada mesmo, que não saiba jogar com você, que não te leve pra tomar sorvete aos domingos, que não tenha pés quentes iguais os nossos. Eu sou todo torto, eu compro teus presentes por internet na data errada e acabam sempre chegando dois dias depois das datas mais importantes pra você,eu não sei dizer qual é o seu livro preferido, a sua banda preferida, o seu beatle preferido, você gosta de beatles?
Olha, e tem mais, os seus amigos, eles não gostam de bixinhas não viu, tome cuidado, eu não faço idéia do quanto doeria pra você ficar sem eles, porque faz tempo não sofro quase nada. Mas ando sentindo um aperto, um angústia que parece fome, mas quando vou comer não desce nada. eu não sei o que é isso. ando sentindo isso depois que pensei em ir embora, senti enquanto preparava o que falar e to sentindo agora ao te dizer tudo isso, uma coisa estranha que parece que vai esmagar meu estomago, parece que eu não consigo respirar sabe? quando eu penso que você é a melhor coisa que já me aconteceu e que eu tenho que te deixar antes de destruir tudo de lindo que tem em você, quando eu penso que minha escolha não é destruir você e assim consequentemente te causar muita dor, mas sim, deixar você lindo, bonito e inteiro pra cuidar de outra pessoa, meu ar some, eu fico sem ar, querendo muito respirar por uns vinte segundos e quando consigo, meu peito tem um trabalho grande demais pra segurar tanto ar que dói, tudo anda doendo e eu não sei o que é isso, só sei que isso veio com a felicidade insuportável que você me trouxe. acho que o medo de ficar sem você e essa felicidade que você me traz, me fez sentir essa angústia desde o começo, acho que deixar você anda tomando meu ar, príncipe.. Mas eu preciso fazer isso antes de destruir a sua vida como fiz com a de muitos outros. eu vou embora príncipe, me desculpa, mas eu vou embora. Guarde nos seus olhos essas promessas lindas que me entregas todos os dias e quem sabe um dia eu volto. Volto pra ser brisa no nosso jardim só de girassóis em Paquetá.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Sobre Ter a Cabeça nas Estrelas

Tinha doze anos, doze. Gostava de pensar que era uma pré-adolescente, e não uma criança como seu pai insistia em dizer quando não queria permitir que ela fizesse algo. Dizia: "mas meu bem, ela ainda é uma criança!" dizia o pai para a mãe na cozinha, ela gritava da sala num tom suave que não era afronta "uma pré-adolescente, pai", mas ele sempre findava com: "ok, pré-adolescente, você não vai, e ponto".

Como uma pré-adolescente achava que morreria por não ir aonde todo mundo ia, por não ter as roupas que queria, por não usar o tênis da moda, por não conhecer a banda do momento e achava, coisa linda e irritante em pré-adolescente, que tudo é pra sempre. O amor pela banda que conheceu há dois dias, o amor pela amiga que fez esse ano, o amor pelo garoto mais popular do colégio.

A única coisa que ela tinha, naquela época, que na verdade perduraria pro resto da vida, era o amor, fascinação pelas estrelas. Olhava as estrelas todas as noites, o seu pai lhe ensinou. ‘Só não conte, nasce verruga na ponta do nariz’. Nunca se atreveu. Adolescente que era custava a tolerar aquela espinha que havia saído acima do canto esquerdo da boca. Alguma coisa lá em cima chamava por ela, no céu, entre as estrelas. Ela mesma tinha a cabeça entre elas.

O menino popular, o qual citei um pouco antes, se chamava Danilo. E ele parecia ter saído de um comercial de margarina, vistoso que era. Cabelos caindo na testa que ele nem precisava usar nas mãos para tirar, era só mexer pro lado, tão liso, ia sozinho. Olhos que mais pareciam o mar, tão claros que eram, vontade de mergulhar, pra não sair, pra se afogar. Boca desenhada, bochechas rosadas, parecia estar sempre com vergonha. E tudo isso ela pode ver melhor quando ele se aproximou, perguntou seu nome, sua idade, sua série, perguntou também porque andava com a menina da oitava D, se ela ainda estava na Sexta A. ‘Eu me chamo Bianca, fiz 12 anos, dois dias depois do seu aniversário. ’ ‘É, aquela menina é minha prima, ela faltou hoje.’ , respondeu.

Ele ficou sentado ainda do lado dela, esperando ela comer o sanduíche natural, vegetariana? Não, tem frango, aceita? Não, já comi alguma coisa. Era tão lindo que nem queria mais comer, só queria olhar pra ele, quando ele olhava, ela desviava, só um pouco depois de olhar no fundo daqueles olhos cor de mar, queria sair da areia, dar um mergulho, mas se sentia tão patinho feio perto dele. Bateu o sinal, vontade de brigar com a professora que insistia em apertar a campainha três vezes para que todos voltassem pra sala, matar aula quem sabe? Não, preservaria seus 92 no boletim, preservaria seu 100% de presença, seu histórico impecável de menina inteligente. Inteligente era, mas muito avoada também. Tinha a cabeça nas estrelas, nem percebeu.

Voltou pra casa se sentindo um patinho enturmado, mas era o patinho feio ainda, um dia voaria pra encontrar seus cisnes, mas ainda não era tempo, ainda não. Ligou pra prima: você não acredita o que me aconteceu hoje, o menino do primeiro ano, é, lógico, o Danilo, ele mesmo, veio falar comigo, como falar o que? Falar oras, já não é um bom sinal? Disse que já tinha me visto andar pela escola antes, perguntou algumas coisas, o sinal bateu. Eu? O que eu podia fazer além de responder o que ele perguntava? Eu sei, mas conversamos bem. Você acha que o cumprimento amanhã? É? você tem razão, não falte amanhã, beijo.

No outro dia no colégio, ele veio conversar, estavam as duas, ele veio falar, perguntou algumas coisas para a prima, respondeu, eles riam... Ela nem tanto. Às vezes vinha falar com ela sem a prima perto, mas a prima estava sempre presente nos assuntos. Tão avoada nem percebeu.

Festa junina, coisa de escola, ela tomou coragem, depois de se revirar a noite toda na cama sem dormir, só pensando em convidá-lo ou não para ser seu par, rei da pipoca, rainha da pipoca, vamos disputar, juntos, quem sabe? Ela criou coragem, disse meio ensaiado e mesmo assim embolado: quero ser sua... Seu... par... Quer seu meu? Par, rei da pipoca? Vamos disputar? Prometo, me esforço.

Ele disse que não dava... Já tinha par. O coração dela podia se ver desmanchando no chão, espalhando, como bexiga que se enche de água em brincadeira e cai, estourando no chão, molhando todo chão da sala, fazendo bagunça. Vaso quebrado, impossível juntar os pedaços, deixa no chão, alguém um dia junta, voltar como era quase impossível.

Antes de seus olhos encherem completamente de água e sal, ainda teve forças de perguntar com quem ele iria, ele sorriu, o sorriso mais bonito que ela já tinha visto até aquele dia:

- Tua prima, ele disse.
Ela olhou pro lado, procurou, disse: - onde?
- Não! Eu vou com tua prima.
- Sejam Felizes!- ainda saiu da boca molhada de uma lágrima que acabava de chegar ao canto superior esquerdo do lábio inferior.

Trancou-se no banheiro, danem-se os 92 no boletim, danem-se os 100% de freqüência, não sairia de lá por nada, enquanto não chorasse todas as lágrimas entaladas na garganta. Toda vez que alguém entrava no banheiro, chorava baixinho, choro desgovernado, mas silencioso. Jurou que ainda acharia seus companheiros cisnes e que, quando achasse, não se lembraria mais de nada. Sabia que havia algum motivo pra gostar tanto do céu, não fora feita pra coisas terrenas, não gostava mais de praia, cansou de ficar na areia esperando sua vez de mergulhar, nunca chegava, alguém tinha que vigiar de longe, tinha medo de se afogar.

Na festa junina então, ele todo bonito, ficaria lindo de cavanhaque quando crescesse, a prima de noivinha, segurando o braço dele, riam tanto que parecia deboche, parecia que riam do engano dela, da confusão que ela fez por ter achado que, por um instante, podia ser ela, que podia ser por ela tanto cuidado na aproximação, mas não, ele fora ainda mais cuidadoso com a prima, foi sondando, rodeando, até chegar mais perto dela.

Depois de dançarem ele se separou da prima por um instante, foi comprar pipoca, e ela na fila, na frente dele, ele a cutucou no ombro, ela olhou, se assustou, ele disse: “ Você está tão bonita, como eu nunca vi! Quando crescer, será uma linda garota.” Falou isso com o sorriso mais bonito que ela já tinha visto nele até aquele dia. Ela agradeceu, pediu uma pipoca, ele completou: “Eu ainda nem te agradeci por ter me aproximado da tua prima, obrigado, se não fosse por você!” “Não há de que.” Ele pediu duas pipocas, ela saiu, tinha cansado de festa junina, sempre a mesma coisa, semana que vem teria outra, resolveu ir embora.

Em verdade achou sim, naqueles primeiros dias e depois no sorriso mais bonito que ele deu, que poderia ser ela a rainha dele. Magoou-se, enganou-se... Mas, ela ficaria bem, afinal, sonhar demais é coisa freqüente pra quem vive com a cabeça nas estrelas.

"Ai, que saudades que eu tenho
dos meus doze anos.
Que saudade ingrata!"


Obs: www.twitter.com/des_amor

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Sobre o Último Adeus.

O último adeus.

Engraçado como este texto começa. Porque você leitor, de antemão, já fica sabendo de um fato que eu só viria a constatar no final. Final, último, adeus. Porque constatação implica codificação, entendimento e entendê-lo era uma coisa em que eu não tinha muita prática. Aliás, era uma coisa que eu vinha tentando há um bom tempo, sem conseguir sucesso algum. Hoje talvez eu possa dizer que entendo, superficialmente. Não os meios, os motivos, mas os fins, finais, últimos.

Dissemos adeus. E eu odiava dar adeus, odiava também o até logo e quase chegava a odiar o até breve. Todos eles eram sinônimos de dor. Mas o Até breve era uma dor sempre necessária e por causa de o fim dessa dor ser em breve, dizia mais, por necessidade. Então ele disse 'isso não precisa ser uma despedida', mas era. Em todos os 'adeus' que eu dissera pra ele, nenhum tinha sido tão conscientemente a última despedida.

Odiava dizer Adeus, ainda mais pra ele, que queria tão perto. E de alguma forma esse Adeus, significava também o fim da distância, que me impedia tanto de ser feliz. E ser feliz era o que eu mais queria, aliás, era a única coisa que pedia aos céus, porque todo o resto eu tinha a certeza de que seria feito por minhas próprias mãos. Mas tinha medo de aquela pessoa que seria tão amada por mim, que dividiria um destino comigo, não chegasse, tinha medo de o destino a estar levando agora pra nunca mais. E tinha medo de nunca mais, tanto quanto tinha medo de dizer Adeus.

Era superar meus medos dizer Adeus, o medo de ficar sozinha. E dessa vez fui tão corajosa, que só por isso chegava a estar um pouco feliz. Dizem que felicidade não é uma coisa que se possa possuir, mas um estado de espírito finito e totalmente instável. Acreditei. Claro! Ser feliz é um mito que vem sido implantado na cabeça da gente desde que somos pequenos, com todos aqueles programas e novelas e minisséries.

Dissemos adeus tantas vezes que a cada adeus, depois do terceiro, ficava um gosto de continuação. Como se fossemos cada um para um retiro espiritual pensarmos e refletirmos nossa precisão um do outro. Mas decodificação é uma coisa que fode com a cabeça da gente. E depois de todo esse tempo olhando pra aquele momento eu percebo que não havia mais amor no outro. O último eu te amo dele foi força do hábito em despedidas.

O modo como nos afastávamos decididamente, depois de cada despedida, como se só na total ausência pudéssemos nos esquecer denunciava quanto amor e quanto querer bem existiam entre nós. Mas dessa vez nos falamos nos dias que se seguiram àquele aceno de mão de um lado pro outro, que significava a impossibilidade de estarmos um do lado do outro como desejávamos. Nos falamos! Sorrimos complacentes e cúmplices da dor que existia mesmo nos sorrisos e nas conquistas que, enfim, ainda podíamos dividir. Como se o fato de termos nos distanciado não tirasse ele da minha vida e eu, consecutivamente, da dele..

Então aos poucos comecei a ter certeza de que ele não voltaria mais, estava nos seus olhos, no seu jeito. No seu jeito de me ligar pra contar como o seu chefe estava irritante e dizer “imagine só amor”, sem hesitar depois, sem pedir desculpas por me chamar ainda de amor, sem minutos de silêncio constrangedores que se seguiam. Era claro no seu jeito de me cumprimentar como se não houvéssemos tido uma história que houvera acabado há pouco tempo. E na verdade era isso, não acabou pra você, e falando isso eu deveria ficar feliz, “não acabou pra você, não é o fim pra você”. mas é triste. eu não aceito qualquer outra continuação que não seja no mesmo segmento, não aceito nenhuma continuação que não seja você ao meu lado, reivindicando seu lugar na minha rotina estressante de me negligenciar todos os dias, reivindicando o seu lugar na minha cama. E pra você continuamos. Mudamos apenas a direção. Isso não é deprimente?

Relacionamentos que terminam mal resolvidos não podem continuar a existir de nenhuma outra forma, ou pelo menos de nenhuma outra forma tão calma e satisfatória. Quando no fim ainda resta amor, mesmo que só de uma parte, fica totalmente infundada a possibilidade se relacionarem tão proximamente. Por isso meu estranhamento com a paz que ele tinha, porque em mim ainda existia um furacão que pedia incessantemente por ele do meu lado, como meu. O meu furacão que não conseguia ouvir a voz dele sem pensar que não o tinha, sem pensar que não era assim, que estava tudo errado, um quebra-cabeça desencaixado.

Ele me tratando como sua melhor amiga. Não que eu não fosse. Mas não era só isso, nunca foi, desde o início nunca foi só isso, entende? E voz calma dele, não parecia tremular, com nenhum resquício de dor, nenhum resquício de arrependimento tristeza ou falta. "Mas ora lá, você ainda tem que me amar, tem que me querer." Eu pensava. Como se a força do pensamento conseguisse remover montanhas.

E se meu pensamento fosse tão forte que pudesse remover montanhas? Você pergunta. Removeria as montanhas de mágoas que ele me deixou? Não! Deixaria todas elas. Mas removeria a pilha de sonhos e quere bem e coisas que me lembram ele e resquícios, que são grandes e tantos, espalhados pela casa em todos os cantos, atrás do sofá, debaixo do tapete, dentro das gavetas, resquícios de amor por ele. Resquícios não, resquícios são restos. Pedaços de amor.

Fosse o pensamento capaz de muito. Fosse minha fé em mim suficiente e inabalável, como era em nós, recolheria todos estes pedaços.

Esses nossos ciclos se tornaram tão intensos e estreitos e demorados que meus planos futuros são os meus dias de vê-lo outra vez me pedindo pra voltar pra sua vida, pra sua casa, pra sua cama, pra sua futura família. E ele que eu já nem sei. Mas não quero saber sobre o seu dia, então não peça ninguém pra me contar da sua vida. Amanheceu e eu preciso estar sóbria. Tanto tempo embriagada de amor e promessas de uma eternidade. E o eterno é sempre o fim.

O modo como a vida dele já estava refeita de mim, mesmo antes de eu sair dela, me fez ver como a minha ausência foi estritamente planejada e esperada. O modo como aos poucos foi me retirando do essencial para me colocar no superficial. Fui ficando nos limiares do seu cotidiano. Sem entender que tudo me levava a uma encruzilhada que me forçava a tomar todas as decisões por nós dois. Ele planejou tudo para que a bifurcação das nossas vidas fosse o nosso próximo passo juntos, fez com que essa bifurcação fosse inevitável, conjunta e doce. O meu último eu te amo, foi depois do adeus e tão verdadeiro quanto o primeiro. Tão maior que o último antes dele.

E ele não deixou espaço para mágoas, porque ficar magoada é remoer, repensar e pensar nele todos os dias, e ele não quer mais amor em mim.

Não me restam mágoas, porque a mágoa é uma maneira de continuar amando pelos seus defeitos. E ele não quer mais amor em mim, assim como não queria mais o nele. Ele sufocou o amor que sentia por mim, até que ele definhasse, até que ele morresse, até que se calasse de vez. O amor somente se calou, ou morreu de vez?

Eu evito as dúvidas, porque ainda me interesso pelas respostas. E eu sei que uma resposta dele mudaria toda a minha vida, a faria entrar no eixo de rotação com 'nós' no centro. Se ele me amou? Se ele me quis? Se ele vai voltar? A sua linguagem corporal é uma das pequenas coisas que aprendi a entender nesse tempo. E por mais que ele não queira, eu sei, nesse momento o seu corpo diz que este foi o seu último adeus.

E agora enquanto escrevo esse texto que já tem o final anunciado na primeira frase, ele deve estar bem, feliz, amedrontado com a minha falta, mas bem. Pode ser que bata nele uma tristeza, mas não será de arrependimento. É só dó, pena, de uma história tão bonita e próspera virar roteiro de uma história engavetada na escrivaninha de uma menina que amou demais. E que se pecou, pecou por excesso de amor, amor de verdade.


Obs:

“Iaiá, se eu peco é na vontade de ter um amor de verdade,

Pois é, que assim em ti eu me atirei. E fui te encontrar,

Pra ver que eu me enganei”

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Sobre Mudanças

Acho, sim, que com o tempo você acaba desenvolvendo algumas habilidades, e conseqüentemente se especializando, e algumas outras habilidades vão atrofiando, às vezes lentamente, às vezes mais rápido.

Você me ensinou a dizer a verdade, e me ensinou a querer que aquilo que eu pretendia dizer fosse verdade, assim eu não precisaria mentir.

Antes de tudo preciso te agradecer, tenho vivido a verdade e dito verdades, tenho aprendido a sentir o que expresso e tenho tido ótimos resultados. Quando pretendo dizer à alguém que gosto, me esforço pra gostar e assim não faço mal à mais ninguém. Quando pretendo dizer que sinto saudade, digo pra mim mesmo que tenho saudade até me convencer, me esforço pra pensar em todos os aspectos da pessoa que eu queria por perto, assim não preciso mentir pra ninguém.

Mas só agora entendi que você ensina o que não consegue aprender, você sabe todos os passos, todas as etapas, mas não consegue chegar a nenhum resultado satisfatório.

Por você aos poucos fui atrofiando minha capacidade de ser convincente. Depois que você disse odiar como eu argumentava esperando que a segunda, terceira resposta fosse sempre diferente da resposta anterior, então eu resolvi que falaria uma vez só sobre cada assunto e não repetiria perguntas. Porque você disse que sua resposta sempre seria a mesma, para a mesma pergunta, em tão curto espaço de tempo, e disse que odiava quem fazia charminho, dizendo uma coisa e querendo outra. Não argumento, não insisto, e você diz que é porque eu não faço questão, por isso me contento sempre com a primeira resposta.

Não sei mais inventar desculpas pra não dizer os meus reais motivos, porque você disse que é mais digno dizer o real e mais forte motivo. Então você pergunta se eu acho que ficaremos mais um ano juntos e eu digo que acho difícil, porque você está cada dia mais me afastando de você. Então você diz que me falta romantismo, ou que não tenho medo de te magoar.

Você sempre disse gostar de gente honesta, sincera, que não se esconde por trás de coisas que não sente, gente simples, mas ainda não conseguiu fazer isso se tornar verdade pra você, nem repetindo várias vezes. A verdade é que você gosta de tramas envolventes e de mentiras convincentes, complicação. Eu não sou mais assim.

Então, façamos um trato, ou você começa a falar a verdade, ou eu reaprendo a mentir, porque se hoje eu sou algo que você não quer, a culpa é sua por me tornar tão detestável.


Obs: @des_amor

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Vai acabar acontecendo, a gente vai se separar, eu estou até vendo... E quando isso acontecer, eu vou virar puta. Sim, puta. Bom, depende do ponto de vista... Se vender o corpo mesmo não precisando de grana for coisa de puta, então vou virar puta. Tudo na vida tem um preço, meu amor, e por que não a minha buceta também? Não quero pagar pra ter você, ou qualquer outra pessoa, quero receber. Sua posição é cômoda, eu quase pago pra você me comer, qual a sua parte nisso tudo? Me dar prazer? Só? Oh, não, darling, isso muita gente é capaz de fazer. Os seus esforços estão pequenos ultimamente, aumente o lance, antes que outro leve.

Porque vai acabar acontecendo, a gente vai se separar e quando isso acontecer eu viro puta, das caras, ou melhor, puta das de luxo, não é assim como se diz?

Vou dar pra quem me levar nos melhores lugares, chupar quem me der as roupas mais caras e rebolar no pau de quem me der as jóias mais bonitas. Que o amor vá pro caralho à quatro. “O amor não enche barriga de ninguém, minha filha”, já dizia meu pai e eu nunca achei que isso fosse servir.

Mas quando você me deixar, sim, é você quem vai me deixar, porque eu, eu afundo com o barco por não deixar de remar e você o que faz? Enquanto eu remo você põe o colete salva-vidas e... Já pulou? Já abandonou o barco? Você sempre foi um covardefilhodaputa.

Eu amo você e isso é o de mais latente em mim e você sabe, eu passaria anos te amando mesmo sem você do meu lado. Eu vou passar um bocado assim que você me deixar e quando eu chegar no fundo do poço, aí vou virar puta.

Porque eu sei fingir um sorriso, você sabe, eu sou uma lady. Vou sair pros melhores lugares, com os figurões empresários que um dia podem até te contratar para alguma das filiais numa pequena cidade no interior do nordeste, te contratar como contador, depois que você se formar nessa sua faculdadezinha de merda. E eu, vou sorrir, comendo caviar ou paeja ou camarão frito e petit gateau, enquanto vocês discutem problemas como falta de subsídios do governo ou política comercial para atingir o público alvo da empresa, na mesa do restaurante do Copacabana Palace.

Depois do jantar eu vou subir com ele, como uma gueixa, quase chupando o velho idiota, que me banca, no elevador. Quase agarrando ele, sussurrando no ouvido dele o quanto eu gostaria de poder tirar a minha roupa ali mesmo e cavalgar no colo dele, porque assim como você, ele também se excita ao ouvir essas putarias que eu digo como ninguém. Vou trepar a noite inteira, ou até ele agüentar, como uma cadela bem paga, agradecendo e fazendo valer o investimento.

Depois, quem sabe, vou chorar no banheiro pensando em ligar pra você, me sentindo usada, suja, vendida, infeliz e tomar um banho demorado tentando me livrar das digitais cravadas na minha pele como as suas unhas, tirando esperma da minha boca, do meu rosto e das minhas pernas. Mas eu vou voltar pra cama, tomar um calmante e sentir o abraço acolhedor que não é o seu e ouvir o roncar do velho daí uns 20minutos.

Meu futuro vai ser brilhantes... Esmeraldas , rubis e marfins, mas vai me faltar algo, é claro, porque você sabe, eu passaria anos te amando, mesmo sem você do meu lado.



Obs: eu estava com saudades daqui.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Sobre Nina



Sentia uma vontade incontrolável de deitá-la no meu colo. Porque niná-la era só o que importava. Mostrar pra ela que um pedacinho ínfimo do mundo se importava, se deliciava, se dilacerava, se prestava a ela. Mas era tão difícil... Nesses tempos em que amor grátis era tão incompreendido, tinha medo de que confundisse, de que todos confundissem as coisas. A menina que me conquistou com o carinho de palavras apenas escritas. Palavras escritas com tanto carinho pra mim, e outras com cuidado, mas sem receio, pra outros.

Queria mostrar que o meu colo, ouvidos e braços eram dela também, por mais que já tivesse outras donas, eu reservava sempre o pedaço e tempo dela. Assim como ela sempre tivera tempo pras minhas palavras, também escritas, com tanto desleixo. Mas era tão difícil... E como fazer? Ir até a Bahia, aparecer na porta daquela menina e dizer "Eu estou aqui por você"? Se já estive aqui pra tantas outras, já apareci "aqui por você" pra tantas e, no mais, o tempo sempre levou os mais 'aqui's pro passado, pra uma foto no fundo de um baú que ficou empoeirado embaixo da cama. O tempo, velho amigo. Tão incompreendido e amável. Apaga as mágoas e com ela as pessoas. Somos injustos uns com os outros esquecendo os afetos que as pessoas têm por nós.

E ela é tão linda, é uma pequenina boneca de pano. A menina magricela da escola, esquecida pelos garotos de sua geração. Garotos incapazes de enxergar a verdadeira beleza de uma menina, a verdadeira essência de uma menina tão cheia... Cheia de livros, de encantos, de tesouros e de futuro. Tão cheia da VIDA! Que nos promete tanto e nos tira os sonhos na mesma proporção.

Queria dizer pra ela quanto a vida podia lhe entregar nas mãos se ela apenas continuasse. Se continuasse sendo especial, sendo tão boa escritora, sendo tão boa pessoa, tão interessante, tão dedicada e tão amável e tão prestativa e tão minha. Mas continuar é tão difícil e eu mesma custava a continuar todos os dias e cada dia um pouco mais e cada dia um pouco menos. Colocar um tijolo e depois outro e mais um e depois destruir a parede inteira porque o projeto ficou grande demais pra tão fraco alicerce, ou porque sobraram espaços entre os tijolos, ou porque ficou torto.

E era tão visível o quanto a minha construção nunca ficava pronta, aliás, acho que a de ninguém fica pronta. Mas era tão visível o quanto a minha construção nunca realmente passava de algumas paredes e depois alguns tijolos quebrados no chão.

Mas era tão difícil chegar até ela e dizer tudo isso. O coração da boneca de pano sempre fora um pouco frágil e não suportava emoções fortes. Se ficava nervosa o coração teimava em desacelerar, batendo cada vez menos. E se tudo a ser dito fosse tão duro que a menina de pano não conseguisse segurar? E se aquela boneca de pano tão linda que eu queria tanto nos meus braços grandes tivesse o coração desacelerado? E se o coração dela que quase não aguentava alegrias e tristezas resolvesse parar?

Nem isso importava, desde que eu fosse a última pessoa que ela visse se importar, se preocupar, se prestar à ela... Porque eu ofereceria meu amor, meu colo, meus ouvidos e braços pra ela se esfacelar e por fim, ficar pra sempre em meus braços, mesmo que em memória, somente . Porque niná-la era só o que importava. Niná-la, nem que fosse por um instante, nem que fosse pra sempre.


Obs: Demorou, mas o texto pra você saiu, quando menos esperado... :)
Obs2: Muito obrigado por votarem. *-*

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Sobre Suicídio II

Como faziam noites lindas naquele Agosto.
E a brisa que vinha do mar andava tão atipicamente morna naquelas noites.
O cheiro do mar que entrava até encher o pulmão por completo, e preenchia tanto que nem parecia o pulmão de uma fumante inveterada.
Salto à mão, maquiagem borrada, sentada na areia molhada, toda encolhida abraçando as pernas dobradas, fitando o mar que parecia chamá-la.
Tinha medo, sim, de parecer o que não era, mas já haviam até lhe oferecido dinheiro por uma chupada... Quase aceitou, grana ruim!
Mas nesses desatinos de sair por aí nesses dias de maquiagem borrada, brisa quente, mar hipnotizante e solidão no fim da noite, tinha vontade de tentar algo nunca feito. Mesmo que fosse suicídio, uma vez na vida, quem sabe a última.
Quem sabe a última tentativa bem sucedida de fazer alguma coisa?


Ps: votem, por favor?

terça-feira, 4 de maio de 2010

Sobre Suicídio

 Oi,
 Isso era pra ser uma visita, mas espero que entenda, ao decorrer deste e-mail, os meus motivos de não tê-lo visitado ainda.
 Magnífico isso não é? Toda essa tecnologia à nossa disposição sendo desperdiçada e/ou utilizada com tanta má fé. Você e eu estamos na mesma cidade e se quer conseguimos nos ver, ao não ser pela webcam!
 Não quero que esse e-mail soe como um tapa na cara, mas acho que talvez isso seja impossível.

 Você me diz que toda a sua vida desandou sem ele. Nada ao seu redor desandou, foi você quem perdeu o jeito de lidar com todas as coisas. Talvez porque fizesse tudo de um jeito artificial que não era seu, mas eu entendo isso, o que eu não entendo é: como é que você deixou as coisas chegarem a esse ponto tão crítico? Suicídio não é a solução. Você deve estar pensando, 'olha ela aí tentando dar lição de moral sem moral nenhuma'. É exatamente por ter tentado que sei que não é a solução, mas serve de marco. Sabe, a minha última tentativa de suicídio foi o começo de uma vida nova pra mim. Eu vi que eu gostava demais de viver, que eu gostava demais de mandar em mim mesma, que eu gostava demais de ser dona do meu destino, do meu fim de semana, do meu horário, da minha vida; descobri o quanto eu sentia prazer em sentir a água quente cair no meu rosto e depois percorrer o meu corpo todo e descer as pernas; descobri que eu também sabia ficar sozinha.

 Te falta isso, autoridade na sua própria vida.
 Sabe Ju, as minhas tentativas eram de atingir o ápice da felicidade, e não de acabar com a tristeza. Eu nunca fiz isso por outra pessoa, porque não acho que valha a pena, embora fosse funcionar.
 Ele não quer você. Não quer desde antes das mentiras que você contou, e não é espalhando pra todo mundo que está fazendo terapia, ou tomando remédios em excesso, ou chorando em todos os lugares, ou desmaiando no trabalho, ou parando de comer que ele vai voltar de vez. Volta sim, por pena, e por pouco tempo. Ele não te faz feliz, nunca fez. Você jogou nele todos os seus medos, todas as suas frustrações e seguiu em frente como se nada disso tivesse acontecido. Você trocou de vida com ele e o fazia cada vez menor. Você o diminuía em frente às pessoas e o exaltava na cama entre quatro paredes, você o usou. E continua usando até hoje pra tentar ter um pouco de satisfação nessa sua vida medíocre. Você sabe que fez isso e por isso ele te deixou, não foi pela mentira, não foi pela traição, não foi por você ter gritado, não foi por você ter expulsado ele de casa.

 Você diz que o mundo à sua volta está caindo lentamente em desgraça, mas você é quem vê assim. Você é quem deixa as pessoas ao seu redor sem saber o que fazer pra te ajudar. Você está no fundo do poço e tem milhares de braços esticados na sua direção prontos pra te puxar, mas parece que o sol te cega e você não consegue ver nenhuma ajuda.
 Eu queria te dizer tudo de novo sobre como fazer, ou o que fazer, mas acho que cada um adapta a solução à seu jeito, e fazendo terapia talvez você aprenda a se conhecer e a sair do lugar de onde você mesmo se enfiou. Sobre o suicídio, eu nunca soube decidir se os corajosos são os que enfrentam seus problemas na terra, ou se são aqueles que têm a coragem de tirar a sua própria vida. Depois eu percebi que nenhuma dessas respostas seria verdade universal, porque tem gente que tem medo da morte, então ele seria corajoso se fizesse como nós fizemos. Mas tem gente que vive desafiando a morte e morre de medo de enfrentar os problemas e as decepções que a vida pode causar, esse seria mais corajoso se continuasse vivo.

 Eu nunca tive medo na morte, sabe? Nós nunca tivemos. Lembra quando a gente brincava de cortar a cabeça das minhas bonecas? Foi aí que percebi que queria ser mais corajosa, que queria ver como a vida me enfrentaria e como eu enfrentaria a vida e jogaria com ela pra vencer, pra ficar aqui. Ela às vezes me dá um tombo, me faz cair, então eu choro a noite toda, porque é difícil cair, é difícil PERSISTIR, mas aí no outro dia eu levanto e dou uma risada e digo: 'você não vai me vencer', e parece até que ela se amedronta comigo e as coisas vão entrando nos eixos. Acho que decidi ser mais corajosa vivendo, coisa que você deveria fazer também.

 Eu não vou te ver, não vou porque não tenho tempo e nem disposição. Tenho trabalhado arduamente pra conseguir uma boa grana pra gastar nas minhas férias. E além de tudo, mesmo que não estivesse ocupada não iria. Cansei de oferecer a minha ajuda pra você e ver você fazendo as mesmas coisas todas as vezes. Eu não tenho amor de mãe, Ju. O meu amor é como qualquer outro amor por aí, é um amor que se cansa, que se esgota, que se retrai, que se remói com as mágoas e dores causadas. Eu não vou, porque eu já te disse mil vezes o caminho por onde ir, já te disse mil vezes que estou aqui pra chorar as suas lágrimas quando quiser, mas você tem se machucado, tem se maltratado e maltratado todas as pessoas à sua volta e eu não consigo perdoar as pessoas que fazem mal às pessoas que eu amo. Não vou porque tenho aquele meu velho problema de trocar ou carregar ou compartilhar do astral das pessoas e deixá-las mais aliviadas, e eu mais carregada.. Acredita que um dia me disseram que isso era um dom? Não nasci pra Madre Tereza, Ju, e não posso te ajudar agora porque EU preciso da minha ajuda mais do que qualquer outra pessoa e como eu te disse, todos os braços das pessoas ao seu redor estão voltados pra você, mas você insiste em olhar pro sol.

 Quero ajudar você e não queria que isso soasse como um tapa na cara, mas realmente é como eu disse, acho isso meio impossível.
 Mas se pra você, não soar como um tapa na cara, você não entendeu nada do que eu disse, então volte e leia de novo porque esse é o único meio que eu encontrei de ajudar você assim, à distância.

 Eu te amo, e espero realmente vê-lo fora da clínica de reabilitação.
 Viva, por você, por mim, e pra enfrentar a vida todos os dias, porque alguém além de mim precisa rir na cara dela.
 Sinto saudade de você.
 Se cuida.



Obs: A votação do TopBlog 2010 começa dia 06/05/2010

domingo, 31 de janeiro de 2010

Sobre Fim de Ano

Postando um pouco atrasada esse texto que essa pra ser postado no fim do ano.


_Escrevo aqui com o coração latejando, porque hoje é domingo, o dia mais deprimente do calendário. E hoje é domingo véspera de festas de fim de ano, a época mais triste do calendário. Hoje é domingo de chuva, de frio, domingo cinza, daqueles domingos em que você aluga um filme e vai pra debaixo do cobertor assistir com alguém. Que seja sua melhor amiga, que seja o namorado ou a família toda que se amontoa, na sala apertada, nos colchões jogados no chão. Hoje é domingo de alguém e eu sem ninguém.
_Eu sem ninguém, escrevendo cartas pra um amor ausente, pra um parente distante, pra um amigo fora, pra desejar boas festas, pra pedir presente pro papai-noel. Eu podia escrever pra você, mas não quero, porque acho que você tinha obrigação de estar aqui. E como eu queria o seu colo agora.
_Sabe, dói demais crescer, dói demais todas essas tentativas de ficar adulto, ficar bem, ficar duro, deixar de acreditar. Dói demais deixar de ser criança. As crianças não têm receio de ser o que são. E eu com tanto receio de ser o que sou, de me mostrar como sou, com tanta vontade de esconder os meus medos e fraquezas, pra que não possam me ferir com mira certeira, escondo que eu preciso de colo mais do que eu já precisei, se me lembro bem.
_Eu acho que não tenho pra quem ligar e todas as pessoas que eu queria ou estão ausentes ou estão tão felizes que eu não me atrevo a ligar ou aparecer tão doída e afetada. A gente acha que é difícil conseguir a liberdade, a independência, mas mais difícil ainda é sustentar essa independência... Quantas vezes já quis ligar pra casa e dizer que eu fracassei, que não estou feliz aqui, que quero voltar o quanto antes... Ou aparecer na porta de casa com as malas e lágrimas enquanto minha mãe abre a porta assustada e feliz, mas morrendo de pena de mim, e eu querendo que ela me bote na cama pra eu chorar no colo dela enquanto ela diz que a vida costuma maltratar os que tem coragem de enfrentá-la, diz pra me consolar.
_Mas só volto quando eu não suportar mais, e isso esta tão perto... Parece que vai ser amanhã, se não amanhecer uma segunda de sol.
_Eu queria correr pra você agora, ganhar beijos intermináveis, até que os olhos mudassem de cor, ganhar o abraço mais apertado e aconchegante do mundo, sentir o seu cheiro de pôr-do-sol e banho de chuva, sentir sua respiração quente no meu pescoço, nuca e virilha, tomar chocolate quente com conhaque antes de dormir sentindo outro corpo quente junto do meu corpo há muito tempo frio... E sentir repousarem meus medos e preocupações, minhas ansiedades e meus problemas e mais ainda sentir repousar meu coração. Mas não posso ir a lugar nenhum, preciso ficar aqui, enfrentando meus demônios um a um, todos os dias.
_Esperando que o amanhã venha sempre com um sol estalado, que a próxima visita venha sempre com um abraço, que a próxima música seja sempre dançante, que o próximo terremoto não seja aquele que vai fazer a minha construção desabar. Porque dói ter medo, dói ter coragem, dói ter vontades que não podem ser saciadas, e mais ainda, dói sentir toda vida que há dentro de mim quando o meu coração teima em latejar tão doído, como lateja em domingos frios e cinzas de alguém.


Obs: Sem observações por hoje.