quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Sobre Borboletas

- Sabe qual o animal que eu mais gosto?
- Hum, o leão?
- Não! Porque leão? – Olhou com um ar de quem ficara intrigada com a resposta, porém sorria.
- Ah é que você é tão determinada. Sempre vai atrás do que quer.
- Não. Eu gosto das borboletas.
- Nossa! Totalmente o contrário do que eu havia pensado. As borboletas são tão frágeis.
- No fundo, todo mundo é.
- Mas porque as borboletas? Pela fragilidade?
- Não. Ah não sei. Elas são tão bonitas e coloridas. A cor é sempre uma coisa que remete alegria. Elas devem ser bem felizes, além de serem bonitas e coloridas elas voam. As cores de algumas são tão vivas e tão chamativas.... Nunca encontrei uma borboleta que fosse igual à outra, e olha que eu sempre vejo muitas borboletas. Mas nem tanto pela beleza sabe? Acho que o ponto principal é ela se tornar uma borboleta. Quero dizer, ela não nasce borboleta e fim. Ela vira uma borboleta, meio que a história do patinho feio sabe? Quando ela entra no casulo ela é uma lagarta.
- Écati.
- Ninguém gosta de lagartas. Mas o que eu quero dizer não é nem sobre tornar-se bonita. Mas TORNAR-SE, TRANSFORMAR.
- Hã?
- As borboletas se dão tão bem com a MUDANÇA. Vai ver que é por isso que ela fica tão colorida e feliz, porque ela leva numa boa as mudanças. Pra quem já foi lagarta poder voar é a alegria suprema. Eu odeio mudanças, não me dou bem. A rotina é que me dá segurança sabe? Você já tentou resolver ou entender seus complexos do presente olhando pro passado?
- Claro.
- Eu faço isso o tempo todo. Vai ver é porque minha mãe era meio inconstante, o meu pai viajante. Eu tenho medo de mudanças, mas quero logo sair dessa cidade. Contraditório isso, não é?
- Vai ver é seu jeito de enfrentar o medo. Olhando cara a cara pra ele. Destemida como um leão.
- Hahahaha. Um leão deve ser triste.
- Não, não é. Porque seria? Ele é o rei.
- Exatamente por isso. Ele é o rei, tem sempre que defender seu território, se mostrar autoritário, essas coisas de rei. Você sabe que as borboletas gostam de mim?
- Não. Sério?
- É. As borboletas quando voam próximas, sempre encostam em mim. Eu tenho até algumas que moram dentro de mim. Segredo, mas algumas moram dentro do meu estômago.
- Nossa, que legal.
- eu acho até que elas gostam de você também.
- Mesmo? Por quê?
- Porque só quando eu estou com você é que sinto elas se alvoroçarem aqui dentro.


27/01/09

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Sobre Mágoa e Vodka

.Acordou e se lembrava vagamente do que tinha acontecido noite passada. Renata se lembrava sim de ter tido uma discussão terrível com Ana, por telefone. O porquê da discussão também lembrava, o de sempre. TEMPO, essa palavra pequena que pode remeter-se a tanta coisa. Tempo, quando queria o tempo de Ana era assim que fazia; birra, pirraça, como uma criança mimada que não sabe como pedir o brinquedo que tanto lhe desperta atenção, criancice? Não! Só falta de jeito mesmo. Sem saber tinha todos os argumentos que precisava em suas mãos, para fazer de Ana o que quisesse, pra fazer de Ana uma ocupação do seu tempo livre também.
.Mas não sabia pedir, só bater o pé. E Ana não gosta de crianças mimadas, Ana gosta de adultos que sabem o que quer e sabem o que fazer para consegui-lo. O tempo. Ana andava tão comprometida com a monografia da conclusão da faculdade, e com a família, que o tempo que tinha ela queria pra se divertir, não queria ninguém a cobrando isso ou aquilo, mas o que Renata não entendia era como mostrar interesse sem o bater dos pés.
.Renata acordou, com aquela dor de cabeça, ouvindo barulhos que vinham do seu quarto, ainda sem coragem de abrir os olhos, tentou uma rápida constituição da noite passada, depois do fatídico telefonema que de lembrar fazia sua cabeça doer ainda mais. “O que veio mesmo depois do telefonema?”. Renata não desligara o telefone, disso lembrava, foi Ana, que desligou o telefone interrompendo qualquer reclamação ou assunto.
.Por isso tanta raiva? Por isso tanta vontade de magoá-la e de se magoar? Porque se magoando magoaria Ana que já era parte dela. Então continuou a lembrar: Tomou um banho, um longo e renovador banho, se vestiu e saiu. Seu corpo era de tamanha beleza que mesmo com jeans e regata estava bonita, nada precisava para realçar sua beleza, nada precisava para que notassem ela estar lá, apenas estar.
.Se lembrava de alguém, um cara que a fizera companhia a noite toda, Thadeu com TH era o nome dele, e era só o que se lembrara dele. Falaram sobre signos, sonhos sobrenome, bebidas, parentes, artes, galeria, filmes, acupuntura, sexo, trabalho, tempo, mas não se lembrava nada do que ele havia falado só que do que ela mesma dissera. Saíram da boate os dois, passaram em uma conveniência compraram uma vodka, foram para um bar. E a dor de cabeça, e os barulhos no quarto e não se lembrava da noite passada. E o sol batendo em seu rosto e a preguiça de acordar, e o medo de abrir os olhos e não ser Ana ao seu lado. Não era não seria, pois brigaram a noite passada.
.Então desejou enormemente ter tido um sonho ruim, como aqueles que a incomodavam volta e meia, e desejou até que conseguisse acreditar que na verdade era só isso que havia acontecido, era Ana ao seu lado, não havia brigado, não havia saído, não havia se embebedado com o Thadeu com TH, e “ai minha cabeça”...
.Então apalpou o lado de Ana em sua cama, apalpou o lado que Ana costumava se deitar nessa cama que já era dela também, nada... Tinha um vão do seu lado direito. O que a fez concluir que ELA dormira do lado em que Ana se deita. Então suspirou, tomou coragem e abriu os olhos.
.Estava lá, ombros largos, peito nu, forte, branco, porte atlético, de calça jeans, olhos verdes, boca carnuda, lindo de morrer e à sua frente. Assustou-se.
.- Desculpa, Felipa, eu não queria te acordar, já havia escrito um bilhete, estava só terminando de me vestir e já ia sair.
.- Eu não... Não te falei meu nome certo, não sabia que ia dormir com você. – falou isso em tom de autocrítica, rindo da situação embaraçosa que ela mesma se colocara. – Eu me chamo Renata.
.- Eu me chamo Thadeu, caso não se lembre.
.- Sim, Thadeu com TH, eu lembro.
.- Olha, quando eu sair, tem um bilhete pra você ali na escrivaninha. E uma ligação de uma tal de Ana no seu celular.
.- Você atendeu? – perguntou num tom que misturava susto a nervosismo.
.- Não, claro que não, mas logo em seguida chegou uma mensagem.
.- Você leu?
.- Sim, desculpa.
.- O que dizia?
.- É pequena a mensagem. Só diz: “Eu tenho meu dia pra você. Eu te amo.”
.Ela se sentou na cama, dobrou as pernas e apoiou o rosto em sua mão, pois mal conseguia se segurar. Tanta reação por dentro. Ele era o que ela ingerira noite passada, aquela noite toda, era também a vodka que tomara, estava tudo lá dentro dela, ele ainda estava dentro dela, o sexo dele, o sobrenome, o tempo, o signo, os parentes, todos os lugares, sons, imagens e corpos dessa noite reagiam uns com os outros dentro dela agora... Além da dor de cabeça, e essa, ah como doía. Ele se vestiu.
.- Eu desejo com a intensidade da minha dor de cabeça que o seu dia seja ótimo e que minha dor de cabeça não passe pra você. Eu to indo Felipa... Eh Renata. – riu-se por já ter se acostumado com o nome que ela fingia ter.
.- Eu desejo que a sua dor de cabeça passe tão rápido quanto desejo que a minha acabe nesse instante, Thadeu.
.- A noite foi ótima, Renata.
.- Tenha um bom dia. – sorria com aquele mesmo sorriso que conquistou ele noite passada quando a viu bem de perto na boate.
.Ela se levantou para trancar a porta e se deu conta de estar nua, como ele já havia saído não ligou, trancou a porta, sentiu toda aquela reação dentro dela. Acupuntura, sonhos, trabalho, o sexo. Correu pro banheiro e se ajoelhou no azulejo frio, se apoiou no vaso segurou o cabelo e vomitou. Pensou:
.- O organismo logo reconhece o que lhe faz mal. E rejeita, rejeita.
.E como sentisse que Ana era parte de si, como sentisse que ainda a queria e que era recíproco, como sentisse que tudo o que acontecera (o TH, o gozo, a vodka, arte, galerias, filmes, gemidos, espermas, penetração, traição), como sentisse que tudo que acontecera era o que havia ingerido, era tudo dentro dela e era o que ela havia acabado de jogar fora, resolveu esquecer. Porque o que fazia mal a ela, fazia mal a Ana, e aquilo era tudo que já não estava nela. Tomou um banho, se vestiu, se maquiou café, cigarros, bala, carteira, hoje o dia de Ana era seu. E isso era só o que importava.


Obs: Não prometo fazer textos menores.
Obs2: Texto do mês 6.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Sobre O Que Se Esconde

É importante esconder a tristeza que se sente. As pessoas em geral, você há de convir, se dividem basicamente em dois grupos; as evitam as pessoas tristes, porque as pessoas tristes “rebaixam” a almas das pessoas felizes, sugam a energia positiva deixando somente a energia ruim [ segundo elas ] ; e as pessoas que gostam de ficar perto e de tentar ajudar as pessoas tristes, no intuito de assegurar-lhes o devido conforto, e contentamento, de ver que tem alguém em situação pior que elas. As pessoas tristes são pessoas solitárias porque são tristes ou são tristes porque são solitárias? Não importa.
É importante esconder a insanidade. Eu posso confessar a você, que está distante de mim e que não tem autoridade pra me internar em nenhuma clínica de doentes mentais, que já procurei uma clínica na qual eu me encaixe. Sim eu juro que fiz isso. Ela é até bonita, tem canteiros com margaridas [ e quando eu vi me perguntei, quem é que planta margaridas em canteiros ? me apaixonei logo de cara. ], boldo ( acho que a comida do lugar não deve ser muito boa não, se bem que o boldo que eu comprava na feira dos domingos de manhã eram sempre pra curar a minha ressaca e não pra curar o meu estomago de alguma comida estragada confesso), hortelã e cebolinha. Tem paredes pintadas de tons pastéis ( o que eu sempre odiei, mas se eu continuar odiando já é uma forma de eu manter a minha lucidez ), lençóis brancos, camas bonitas, colchões confortáveis... Claro, é uma clínica pra quem tem dinheiro eu sei, mas com o seguro que venho pagando desde os meus vinte anos acho que poderão, quem for tomar conta do dinheiro ou eu mesmo, pagar tranqüilo o meu asilo de descanso mental. Quando eu cheguei com o pedaço de papel onde continha o nome da clínica Santa Efigênia e entreguei pra galera no bar, acho que quiseram me internar na mesma hora, mas eu calmamente disse, se um dia eu chegar a ficar louco ( não seria agora? ), louco de verdade, é aqui que eu quero morar. “Besteira, idiotice” me disseram. Não era pra chamar atenção, é só um pouco de prevenção.
É importante esconder a solidão. É sempre importante esconder a solidão. Todo mundo é um pouco sozinho e no escuro do quarto nas madrugadas de quarta feira (ou de terça, ou de quinta, ou de segunda, ou de SÁBADO [a pior das madrugadas passada em casa]) chora! Chora que nem um bebê que acabou de sair da barriga da mãe (chora com mais discrição, eu digo) onde era quente e o aperto dava impressão de cuidado. Sair da barriga da mãe pra ficar em uma incubadora sozinho, vigiado. Eu não me lembro de quando saí da barriga da minha mãe, mas posso te dizer, com toda certeza desse mundo, que foi um dos piores momentos da minha vida, eu me senti injustiçado, eu me senti apunhalado, eu me senti recusado. E no fim toda essa vida é pra sanar a dor e o sentimento de revolta que eu senti assim que eu vim ao mundo. Esconder a solidão é se mostrar menos frágil, mais competitivo.
É importante esconder a ansiedade. Eu ainda acho que o destino brinca comigo de propósito, porque, quando eu quero muito alguma coisa, ele sempre arruma um jeito de adiar. Pensando nisso eu venho escondendo a angústia que eu sinto todos os dias, de todos os planos, funciona, ás vezes. Eu me escondo das peças que o destino prega, me escondo, na verdade, de tanta coisa que eu gastaria mais que um dia pra te dizer a minha lista toda, mas é importante também esconder o medo.
É importante esconder a vaidade, na verdade, eu não sei porque é importante esconder a vaidade, mas eu escondo, tão fundo que não sei nem mesmo se ela existe em mim.
É importante esconder a podridão. Ah, você sabe, ninguém quer alguém podre por dentro. E eu sou, todos são podres por dentro e disso eu me gabo, não sou o único, nunca serei. Em matéria de podridão posso dizer só que algumas podridões fedem. A minha fede, fede à álcool, à morangos mofados, à nostalgia acumulada, à curativo antigo, à sangue estacado,à emoções mofadas.
Enfim, é preciso esconder o mofo. É sempre preciso esconder alguma coisa, nem que seja esconder o que há muito já se esconde de si mesmo ou de alguém.. E quem diz que não nada esconde de alguém, esconde que esconde.
(14/01/2009



Obs: esse texto contraria em todo o post passado.

Obs2: em itálico frase da Raíza.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Sobre Nudez

Saiba que eu não consigo sorrir a todo e qualquer instante... e se você me quiser, vai ter que ser desse jeito, caso contrário, você pode sair pela mesma porta na qual você entrou. Sim baby, estamos no nosso começo, mas quem disse que no começo tudo deveria ser flores? Eu acho isso uma enganação, uma hipocrisia. Eu sou assim, triste, depressiva, melancólica. Me conheça agora, me mostro agora pra você não ter surpresas depois. As pessoas me abandonam quando me conhecem melhor, mas é melhor assim, me conheça agora e se quiser ir... Vá. Não me apego assim logo de cara, acho que é uma autodefesa que eu criei depois de tanto abandono, depois de tantas noites sem dia seguinte. As pessoas dormem com um bonito vestido preto de cetim, uma boa maquiagem e um lindo penteado e acordem comigo, sem penteado, sem maquiagem, sem roupa. Completamente desnuda de fantasias e superficialidades. Deve ser um choque, eu não o culpo, realmente o vestido de cetim era lindo e tinha um decote bem grande mostrando um belo par de seios. Você não me achou vulgar? Devia ter percebido desde o início que aquela papagaiada toda era sinal de insegurança. Que espécie de psicólogo você é? Não, eu não tenho medo de me apaixonar, já foram tantas as vezes que me apaixonei e desapaixonei que meu coração já não é mais tão volátil à elogios, e presentes, e cantadas, e cartas, e sexo bom.
Eu não estou no seu consultório Dr. Marcos, eu não quero ser analisada. Quero uma companhia para essa noite melancólica, você vem? Não, eu não vou sorrir o tempo todo e fazer cara de quem acordou com muitos amigos... Cara de quem passou o dia todo se preparando pra essa noite tão especial. Por isso acho melhor que fiquemos aqui. Então, não vamos sair! Se você ainda me quiser ficamos em casa, fazemos sexo, depois curtiremos a minha fossa, você ri um pouco de mim, me conta piadas que só eu rio, me faz um chocolate quente e a gente transa a noite inteira, se você, como em algumas vezes, não se importar de me ver dos meus olhos caírem algumas lágrimas durante o sexo. Olha, isso é outra coisa que eu preciso esclarecer; não é que está ruim, mas é que às vezes é tanto sentimento acumulado que ao invés de sorrir, eu choro, mas está gostoso. Não, eu não penso em nenhuma outra pessoa, não se preocupe com meu choro. Ah não brinca, isso te excita? Ótimo, fazemos um belo par. E então, você vem? As minhas orelhas já estão quentes de falar ao telefone, o meu corpo está frio de esperar por você. Ta, tudo bem, eu sorrio assim que você chegar. Não, não vai se falso. Eu gosto mesmo quando você vem. Não demora, vou tomar um banho quente e te esperar de camisola, se você chegar antes de eu sair do banho, entre e tire a roupa. Vem logo, um beijo.