sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Sobre Amores Imperfeitos

Ele atrás de mim a me abraçar, com seu corpo nu quase dentro do meu sussurrou baixinho em minha orelha: - Eu quero tirar você daqui!



Por um minuto me pareceu tão sincero, tão bonito e tão tentador. Pensa bem, uma boca bonita como aquela pra beijar antes de dormir. Pra beijar depois de acordar, pra beijar antes ou depois de qualquer coisa que der vontade. Pra beijar a qualquer hora, durante também, por que não? E ele era o único que eu beijava por prazer e beijaria por prazer até o resto da minha vida aquela boca tão tentadora, tão delícia. Eu o conheci na puberdade e agora ele era um homem, um homem com aura de menino. Ele Era o meu menino. Ele aflorava todos os sentimentos do mundo em mim, me dava um puta tesão, mas ao mesmo tempo ele despertava até o meu instinto maternal. Queria cuidar dele, queria ele pra sempre do meu lado, queria cuidar do futuro dele, queria ver ele se formar e estar lá na colação de grau, na formatura, sentada na mesa junto com a família dele. Queria tanto fugir com ele, pra qualquer lugar que fosse, pra de baixo da ponte se preciso fosse, mas de baixo da ponte não era tentador.

E continuou - Você não gosta daqui, eu te levo embora, eu cuido de você.

Palavra dada implica cumpri-la, então isso era uma promessa. Promessa igual me fez o aquele primeiro, o primeiro que colocou os genitais dentro de mim, o primeiro que despejou seu sémen na minha boca, o primeiro que colocou um feto dentro de mim. Prometeu o céu, as estrelas e um pouco mais, me prometeu a diversão pecaminosa antes do nosso sincero arrependimento, antes da redenção. Sumiu no primeiro enjoo. Com o exame na mão eu nunca mais o vi. Fui àquela clínica sozinha, depois quase morri na mesa de operação pela hemorragia. Promessas... Promessas são feitas para não serem cumpridas. Quem quer fazer faz sem prometer. E não posso sair daqui, mesmo que seja só essa sua boca que eu queira beijar todas as manhãs. É só você que me abraça antes de dormir, só você que me diz palavras pesadas sussurradas no ouvido, só você que me excita, só você que faz o meu mundo girar tão rápido e devagar ao mesmo tempo, isso tudo não é tão louco, menino?

Já tive isso uma vez na vida e me levou tudo, inclusive amor-próprio. Demora pra se ter de volta tudo aquilo que te roubam, sabe? Me levaram dignidade, coisa essa que eu ainda não consegui reaver. Não ainda. Me levaram honestidade, simplicidade, me levaram tanta coisa, menino. Se soubesses onde e como me acharam, você ficaria enojado. Você não me conhece, não sabe metade das coisas que eu fiz pra sobreviver, e não falo de sobrevivência no sentido físico, de pão e água, falo de coração. Por que sobreviver é importante, não só viver, mas sobreviver. Não se pode dizer que não gosto de estar aqui, até gosto. Tenho cama com lençóis de cetim, edredom confortável, uma cama que não se dá vontade de sair, ostento ouro no pescoço, como com quatrocentos e cinquenta talheres, posso ir ao salão todos os dias, ao shopping, tenho um vestido Dior, tenho uma bolsa Prada, tenho uma sandália Louis Vuitton, vou ao Lee Stanford uma vez por ano, viajo quando eu quiser, pra onde quiser, e no fim, tenho você sempre por perto. Eu não poderia querer mais. Eu não quero mais. Fui comprada sim, mas dessa vez não por amor, fazer o que, é a falta daquela dignidade que levaram! Me levaram esperança também, coragem também menino. Me levaram muitas coisas, e algumas delas o seu pai não conseguiu me devolver. Vai doer muito mais em mim cortar o coração da única pessoa que me amou de verdade, mas já fiz tudo que tinha que fazer na vida, agora é sua vez, vai e ganhe o mundo meu menino, ele será todo seu. A sua vida vai ser bem melhor se as coisas continuarem no mesmo lugar em que estão. Vai passar. Em você e com certeza também em mim. Deixo de fugir com você não por lealdade, por amor ou gratidão. Não vou porque tenho medo, e quis dizer também ‘me falta coragem’. Não tenho mais nada a conquistar, cheguei ao pico, garoto, cheguei ao alto, daqui pra frente se eu mover, é só ladeira a baixo. Não espero que me entenda, não espero que não me odeie, eu só quero que fique tudo bem.

- isso já foi muito longe, eu sou tua madrasta, nunca se esqueça. Agora pegue suas roupas e não me procure mais. Ok?



Se eu disse que não chorei, estaria mentindo. Se eu disse que não quis ir atrás dele, mentiria mais ainda. Mas na verdade, fiquei na cama, chorando e sussurrando baixinho, palavras pesadas como: eu amo tanto você, amo tanto você, amo tanto você, meu menino.




Obs: me desculpem os erros de ortografia, vai sem revisão mesmo. se eu revisar corto ele por inteiro.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Sobre estar na estante



e você ouvindo aquela música de novo. aquela música que quando você canta, parece se preparar para fim. o fim de nós. parece que você está sempre pensando que um dia vai acabar, como se quisesse que esse ‘um dia’ chegasse, como se quisesse estar preparada, como se fosse possível se preparar pra o fim de qualquer coisa.. queria que você acreditasse que podemos ficar assim pra sempre, como estamos, perfeitos. mas você se conhece, sabe como você é.

(você começa a dançar, enquanto canta mais alto)

você fica intolerável quando aumenta o volume do som e começa a cantar mais alto ainda, os vizinhos devem odiar você e consecutivamente a mim, porque todos que nos veem de fora nos veem como um só. só você, com as suas individualidades é que nos vê como dois. queria poder te mostrar todos os seus erros, mas eu aceito, aceito o que vem de você, engulo, sem mastigar, sem desfragmentar, digiro. é a maneira mais fácil que achei de nos fazer durar, entende? acho que entende, se você pudesse nos colocaria no formol, mas o que você não entende é que podemos ficar assim enquanto as mudanças do tempo e da ocasião vão agindo em nós.

(você põe a música pra repetir)

me dá uma dor no coração te ver assim, tão doída, sem conseguir derramar uma lágrima, uma palavra, dizendo coisas nas entrelinhas. se soubesses o quanto meu coração quer ouvir o que tens pra dizer, o quanto ele está receptivo até pra sua crítica mais dura... dá vontade de sacudir você, pedir pra parar, gritar pra você parar, até você chorar, até não conseguir mais sustentar essa máscara de menina sadia, menina feliz. chorar não quer dizer fraqueza, lindinha. chorar é coisa bonita e privilégio de quem sente, e você, já não sente coisa bonita faz tempo. queria que você entendesse que não é cantando alto aquela música que vai aprender a lidar com as situações... mas espero que quando ela tocar amanhã você aprenda a conviver com a minha falta, espero que de tanto ouvi-la tenha se preparado pra esse momento exato, de agora, de me ver saindo por aquela porta. não me leve a mal, mas eu preciso sair daqui antes que isso vire um inferno, porque é isso que você faz com as coisas...

(e você da sala cantando desvairadamente: 'tô aproveitando cada segundo antes que isso aqui vire uma tragédia')


e não vá atrás de mim, não faça escândalo, não me ligue bêbada, você sabe que pra ter sido bonito, pra depois lembrarmos com alegria e suavidade temos que abandonar tudo agora, se não você vai destruir tudo, deixar tudo arrasado e feio. por isso já aviso de antemão, não adianta me pedir pra voltar, eu não volto. porque 'eu estava aqui o tempo todo, só você viu'.


Obs: Um 2011 infinitamente melhor que 2010 pra todos nós.