quinta-feira, 31 de julho de 2008

Carta à Clarice Lispector.

Carta à Clarice Lispector.

Oi.
Sabe Clarice, eu estava lendo aquela frase sua e ela dizia:
"Suponho que me entender não é uma
questão de inteligência e sim de sentir,
de entrar em contato... Ou toca, ou não toca". ...
Gosto da tua sensibilidade sabe... Do teu toque, gostei inclusive dessa frase, mas sabe, a questão é a falta do toque. Eu me pergunto será que pelo toque você conseguiria sentir o tamanho da minha dor?
Não Clarice não. Você se lembra da Lore? Ela não sabia viver e eu sei Clarice, eu aprendi, eu aprendi a viver ou vivo sem saber que não sei estar viva. Isso me lembra uma frase do Caio,
‘só não saberás nunca que
nesse exato momento tens a
beleza insuportável da coisa
inteiramente viva. ’ .
Ou me lembra o título
“A Insustentável Leveza Do Ser”.
Não Clarice, a dor não é de estar viva e se saber estar, sabe a dor não é de viver como a Lore, querendo sem saber querer, sem estar pronta pra querer.
Não é tristeza essa dor Clarice.
A dor é de não suportar dentro de um só peito tanta paixão, tanta alegria.
Será que você saberia disso Clarice? Ou do quanto eu tenho certezas e nenhuma dúvida?
O meu caminho é claro, é assim que eu vejo, é como uma rodovia infinita, não tem retornos, mas não tem obstáculos, não tem outros rumos, mas tem cruzamentos onde deságuam as pessoas, que vêm de longe, ruas em que não posso seguir.
Essas ruas só me trazem e foi em uma dessas ruas que chegastes Clarice, junto com uma moça tão bonita de cabelos pretos e pequenos, que tanto me fascinou, que fez meus olhos descobrirem coisas, assim sem querer, sem ensinar.
Cheia de marcas e amores e ocupações.
Essa menina Clarice, não continuou contigo, nem comigo, mas ela volta, volta e meia, volta em meia, e completa.
Essa menina que não é sua, nem minha e que cruza sempre, pra sempre a minha rodovia.
Com todo o seu carinho num desses cruzamentos ela me trouxe a raiva, noutro a esperança, noutro a tristeza, noutro a beleza, noutro a leveza de vê-la completa e é essa que eu quero, a leveza, só ela. Noutro desses cruzamentos ela me trouxe Caio (o Fernando sabe?).
Caio, você e a leveza, as minhas maravilhas, os meus presentes. Dias atrás escrevi a Caio, dizia-lhe como gostaria de ter lhe visto como ele lhe viu, e como a descrição que ele fez de ti me assusta.
És bela Clarice, tens a melhor beleza, a de entender, ou fingir entender, os outros muito bem. Caio também tem essa coisa, eu acho que somos almas pares, eu e Caio, você e ela-de-cabelos-curtos-facinate. Somos todos amantes das letras, literatura, melodia e arte.
Somos amantes eu acho que é isso. Somo amantes entregues na nas mãos dos nossos amados (dos próprios amantes eu digo) e se sofremos é porque temos coragem de amar e entregar e arrebentar o peito com essa paixão que o preenche como se coubesse lá dentro e que insiste em tentar, em se alojar.
É isso, temos coragem. (queria te dizer que acho que a Lore é muito corajosa, ao se descobrir e combater seus medos. E dizer que a Lore veio junto com a tristeza, ou raiva (?), ou a leveza (?), eu não sei, mas veio com ela.)
Será que a agradeço pela leveza, por Caio, por você ou por Lore?
Um dia escrevo a Caio pra falar dela, ou um dia escrevo a ela pra falar sobre vocês. Ou a toco. Porque ela tem sua delicadeza Clarice. Se ela tocasse acho que sentiria.
E você Clarice o que sentiria se me tocasse? O tamanho da minha paixão, ou a dor que ela me causa?
Um abraço. Volto a lhe escrever.

Carinhosamente; Adrielly Soares de Castro.
Ps. Dedicado a Yandara.
[Também gosto do nome.]
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quarta-feira, 23 de julho de 2008

Sobre Confusões.

- Eu... estou indo embora.
Laura estava ali; vulnerável, latente, irritantemente sensível a qualquer apelo que ele fizesse, a qualquer palavra, ou levantar de sobrancelhas.
Era angustiante deixar as coisas para que ele resolvesse, mas essa era a única maneira que ela encontrara para saber o que ele pensava, o que ele queria.
Laura de frente pra Thiago, com aquelas roupas mal-dobradas, enfiadas dentro de uma bolsa qualquer, que era dele, esperando que ele dissesse alguma coisa, atenta a cada expressão fácil, a cada mexer de dedos e tremor de pernas.
Esperando, sinceramente, que ele a pedisse pra ficar, que ele só uma vez, pedisse rapidamente e baixinho, para que ficasse e instantes depois descobriria que muitas das roupas ainda estão no armário, as maquiagens, a escova, as meias e algumas calcinhas. Descobriria toda a farsa que ela armara. Tiago só precisava dizer uma só vez e ela nem tripudiaria, nem exibiria sua vitória, nem se vangloriaria.
Eles se olhavam num silêncio que podia ferir os tímpanos, enquanto os carros e ônibus passavam por de trás das janelas embaçadas, poeira, partículas de pó e de vida. Vestido apertado, maquiagem borrada, salto alto, parecia ter se vestido para uma festa, uma festa que ele não compartilhava. Não tinha alegria nos olhos, nem no rosto, nem na boca de nenhum deles a não ser no brilho dos sapatos pretos dela. Cheiro de whisky, cheiro de whisky barato que ele odiava, copo na estante com cubos de gelo do lado da garrafa vazia de bebida nacional. O bebera inteiro? Não sabia. Não se lembrara, desconhecia a existência dessa garrafa de bebida em sua casa. Mas desde que ela viera morar com ele naquele cubículo, ele já desconhecia todo e qualquer objeto achado de repente pela casa. As coisas dele ela certamente abarrotou naquelas caixas do escritório, não, escritório não, aquilo agora era uma dispensa, como se pudessem ocupar um cômodo só com bobagens, que não faria falta a ninguém.
Ele sabia que era complicado pra ela, tanta mordomia e de repente... De repente o que? O apartamento apertado pra sustentar, contas pra pagar. Sabia que não podia viver de amor o tempo todo, e que aquela situação era diferente da vida que ela tinha antes, mas afinal, de quem foi a maldita idéia de ela sair de casa pra morar com ele? De quem foi a maldita idéia de juntar os trapos pra compartilhar problemas e dívidas e deixar que isso atrapalhasse o amor, o maldito sentimento [seja lá qual for o nome dele] que unia os dois. Tão diferentes. Tão inconstante, tão culta, um nível muito acima dele. Um nível, dois níveis, quem sabe três? Sabia que aquele momento um dia chegaria. Sabia que um dia ela se cansaria de brincar de vida real e voltaria pra sua casinha de bonecas, e não podia fazer nada. Não podia fazer nada que a fizesse ficar.
E ela ali, a sua frente chorando, borrada e derretida, quase ajoelhada, quase implorando um pouco mais de atenção. Um pouco mais de amor das palavras firmes que ele costumava dizer quando as coisas estavam fora de controle como agora. Ele dizia que tudo ia ficar bem, apertando-a ,e ela sabia que ia, porque ele dizia, porque ele a apertava e afirmava com tanta convicção, com tanta maturidade que ele tinha a mais que ela, com tanta coragem que ela sempre admirou. Ele sempre foi mais forte que ela, mais maduro, mais pé no chão, mais consciente de todos os problemas, ela era quem sonhava e ele colocava as vírgulas e pontos nos sonhos dela, o que ela adorava, ter quem a puxasse pra verdade, mas sem desmanchar, sem apagar os sonhos dela.Ela nunca ligou para os problemas, para as contas, só queria que ele fizesse como antes, a pedisse pra ficar calma e fizesse amor com ela no tapete da sala, no meio de cinzeiros e garrafas de vinhos e vodca. E depois abraçados falaria de como as coisas são difíceis, de como ele a ama, e de como nada do que acontecesse poderia interferir nos planos que tinham. Esses eram seus planos. Vinho, amor, cinzeiro.
Mas era ele quem colocava , era ele quem colocava os pontos.E foi o que ele fez, colocou um ponto, final, ele se calou dessa vez. Era assim que ele achava que deveria ser. Ela voltar pra sua casa, pra sua vidinha fácil. Ele realmente achou que o amor dela havia acabado em meio a tantos problemas. Sentou-se no sofá e olhou para a mala feita que ela deixara a seu pé. Levantou a mão e apontou a porta como quem diz, vá. Ela atordoada, foi obrigada a ir embora, virar as costas e a página e sair da casa e da vida dele como se fosse assim sua decisão, sua vontade, pelo menos por hoje. Que dessa vez Thiago preferiu não a pedir pra mudar de idéia, porque ele não a queria infeliz, e julgou-se incapaz de dar o que ela queria, incapaz de um dia a fazer verdadeiramente feliz.



Obs: estava pronto, mas achei que alguns retoques eram válidos.



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terça-feira, 22 de julho de 2008

Sobre Angústia.

"Ando angustiada demais, meu amigo, palavrinha antiga essa, angústia...". E assim me angustiam as coisas que acontecem e as que deixam de acontecer. Chato isso, chato aquilo e isso também me deixa angustiada. Cacos de vidro, bonecas de porcelana, feridas abertas, relacionamentos à distância. Distância, a distância me angustia. Porque na distância não existe o toque, não existe o cheiro, na distancia se perde o que se construiu, se perdem as lembranças, na distancia se PERDE e tudo beira a tristeza, melancolia. A minha angústia maor sempre foi a distância. O meu desejo maior sempre foi sair daqui. E viajar. O mundo inteiro? Quem sabe? Um tempo pra cada lugar, longe de tudo e perto de alguma coisa que me faça falta, e assim pra sempre. Em cada porto uma vontade, uma saudade sanada, em cada porto uma saudade acumulada.

14/06/2008

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Sobre Precisões. [ ? ]

Tenho pensado muito e escrito pouco. Quando eu penso em escrever não me vem nenhuma história na cabeça. Nem quando eu penso em situações, nem quando eu vejo elas acontecendo na minha frente, no meu nariz.

Quando eu consigo pensar em algo, a primeira palavra que me vem à cabeça é PRECISO. E eu tendo começar um texto com a palavra PRECISO, mas acho que já tenho tantos textos que demonstram precisões, “querências”. Acho que todos os meus personagens QUEREM, antes de tudo, eles querem saciar alguma coisa, alguma vontade, ou desejo, ou algum tipo de tesão reprimido.

“Preciso-de-algo-uma-razão-pra-viver-e-sei-que-só-está-dentro-de-mim” *. Já cheguei a pensar assim, é um bom discurso para algumas espécies de livro de auto-ajuda, e talvez até funcione bem, eu juro que um dia cheguei a acreditar e me desesperar por ter escondido tão bem essa espécie de luz interior em algum lugar do corpo tão improvável que nem eu mesma consigo achar ou me lembrar.

Mas acho que sou do tipo, da espécie de gente que sabe, que no fundo sabe, que as coisas não são tão límpidas e puras e românticas assim .
Eu não queria dizer isso, assim pra você. Aqui, sem nenhuma preparação. Até porque eu não sei que espécie de pessoas é você. Isso não era pra ser chocante, mas talvez você ache, e me chingue. “Idiota, do que ela está falando?”, “Que essa vadia pensa que está dizendo?”. Essa vadia está dizendo que no fundo, não no fundo onde existe aquela tal luz em você, porque ela não serve pra você, no fundo, todo mundo, o mundo todo, “ouça” bem, têm necessidades, o mundo todo precisa de alguém.

Eu fui crua? Respire, conte até dez. Sim, foi isso mesmo que eu disse. Essa ilusão de ser feliz sozinho um dia passa. “Necessitamos uns dos outros para sermos nós mesmos" **. As pessoas precisam de algo que elas mesmas não podem saciar, só outro pode ter (é aí que entra aquela tal luz me entende?) ninguém é completo em si, se não beiraria a perfeição.

Essas pessoas auto-suficientes (aparentemente) se acham assim porque na verdade são estagnadas, elas não saem do lugar, elas não têm sonhos, nem desejos, nem ambições e por isso se satisfazem, por não saberem o que querem, não saberem o que precisam. Assim que essas pessoas se moverem verão que precisam de alguma coisa, algo que eles não têm.

O que eu ia dizendo é que, eu sou da espécie de pessoas que sabe do seu vazio interior, entende? E que consome tudo e todos ao seu redor pra preencher essa vasta necessidade. Eu sou da espécie de pessoas que precisa de alguém, não que eu não saiba, ou não queria, ou não precise de solidão... vez em quando e somente vez em quando.

E eu sou do tipo de pessoa que sabe, embora no fundo todos nós saibamos que essa espécie de luz interior só faz sentido no alheio. A minha tal luz-inteior-escondida só servirá para dar razão a outro. Sim, eu quero dizer que vivemos sim da luz dos outros, que a real razão de vivermos é que encontramos todos os dias os raios da luz de alguém que vão irremediavelmente irradiando a vida da gente.

E eu sou da espécie de pessoas que precisa demais, de mais do que se é dado, eu não quero beijos quero corpos, não quero companhia quero um corpo sendo o outro, não quero complacência que padecência mútua, eu não quero um amor que uma vida entregue em minhas mãos, não quero uma porção de acatos, mas uma porção de discussões, e não quero uma marionete quero um corpo , coração, e cérebro que viva por mim sabendo o que quer e não esperando que eu o diga.

Eu queria terminar o texto com algo como, “doces inocentes que conseguem viver da auto-consumação, da auto-precisão, mesmo que por tempo determinado” porque eles são felizes assim, nessa ignorância, mas infelizmente, tenho que expor a minha impressão pessoal... A minha triste experiência pessoal.

Desculpe, eu te assustei? Dizendo que você vive de alguma ilusão provisória? Não sei se você acreditou, aliás, todo mundo tem uma teoria não é? Essa é a minha. Desculpe, você pode ignorar o que eu vou dizer, ou pensar “O que essa louca insiste em dizer?” A louca ta dizendo agora que odeia essa espécie de pessoas que são auto-suficientes. É elas são felizes, mas fazem dos outros menos felizes. Talvez até mais felizes do que eu, mas têm uma incapacidade, têm um defeito, uma frustração que eu não tenho. Essas pessoas não sabem ganhar, e eu vivo de caridade. Essas pessoas não sabem se dar. E eu? Eu me dou por inteira.

* Caio Fernando Abreu

** Santo Agostinho

terça-feira, 8 de julho de 2008

Sobre Prazeres Momentâneos.

- Espera. Fica mais um pouco. Será que podemos ficar sem sentir coisa alguma?

Tinha medo de como aquilo soasse, não queria que parecesse algo como “Sabe, até que você é interessante, mas eu não me interesso.” Embora fosse aquilo mesmo que sentisse. Não é que não se interessasse, apenas não se interessava em se interessar.

- Será que você pode ficar mais um pouco, e não pensar em nada? Só... Ficar?

Não queria que parecesse. “Eu gosto da sua companhia” embora fosse aquilo mesmo que dissesse, que sentisse. Mas gostava de muitas companhias e isso não fazia dela especial. Naquele dia, hora e lugar era ela que ele queria, inteira, para si. Sem esperar sem sentir. Queria por querer. Por capricho. Por prazer.




Obs: Isso aqui anda às moscas. Será que moscas sabem ler ? oO