quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Sobre uma amiga em Portugal.


Uberlândia, MG, Quinta Feira, 24 de setembro de 2009

Raíza Moraes

Oi. Queria começar dizendo que desejo que você seja imensamente feliz. Que fico daqui imaginando você sendo feliz no meio de um campo de flores, ou um jardim, imenso, desses que a gente se perde no meio de girassóis ou de qualquer outra flor que seja grande e alta.

Tanta coisa aconteceu, o tempo passou tão rápido. Seis anos e a vida desaguou nisso. As oportunidades e possibilidades são tão grandes que parece que a gente desaguou no mar. E eu adoro o mar. E você adora a vento da pedra mais alta na beira do mar.

Tenho medo da vida, tenho medo de viver às vezes. Ir perdendo as pessoas por esses caminhos tão largos que a gente passa. Você mais do que eu sabe como é perder, não deveria querer perder mais nada e é só por esse teu medo de perder que ainda temos esse carinho uma pela outra. Você não pensa que quando sentir saudade, um dia, daqui a dois anos, poderá me ligar, poderá me encontrar, poderá ir atrás de caminhos pra que nossas vidas se cruzem de novo mesmo que por um instante, você sabe que não é assim. Mas eu também sei. Por isso essa carta.

Queria tanto estar mais presente na tua vida, queria isso mesmo antes de você se mudar de bairro, de cidade, de estado, de país, mas o meu ego sempre me trai. Meu orgulho sempre me trai.

Não temos mais trocadilhos, não temos tempo reservado no dia-a-dia uma pra outra e não temos mais piada interna, não vê? Não vê como foi diferente aquele dia, depois de tantos meses, se ver se torna diferente, se torna um botar de conversas em dia, se torna um relembrar de momentos distantes e felizes. Tão decadente.

Eu sempre fui utópica, queria uma amizade pra sempre, mas nós sabemos que não é assim. Que é que nem jardim como diria meu bom e velho Caio Fernando. Mas acho também que você e eu temos um pouco da euforia daquela nossa velha amiga. Nós também não sabemos lidar com amizades velhas e novas, já pensou nisso?

Já tive várias amigas, mas nenhuma delas me ligava pra poder vir na minha casa ver filme e comer pipoca, sair e dormir aqui em casa. Não perca esse teu jeito. Nenhuma das minhas amigas foi como você. Claro, cada um é único e coisas do tipo.

Eu queria ter estado na festa de despedida, ter te dado um abraço, ter escrito meu nome em uma camiseta, em um caderno, em algumacoisaquefossepralevardelembraça, eu queria ter gravado um vídeo ensandecida e bêbada num dos seus últimos dias no Brasil. Mas isso não é um pedido de desculpas, afinal, haviam circunstancias que me impediam disso.

Nunca achei que teria uma amiga viajando pra outro país, mas nesses últimos dois anos acreditava fielmente na tua capacidade de chegar tão longe... Você gosta de voar e isso é o que há de mais bonito em você.

Não quero me estender, cartas são pra dizer coisas importantes e geralmente coisas importantes são pesadas demais e pequenas demais quando passadas para o papel. Mas ainda queria dizer tanta coisa...

Moça branca como a neve* não se perca, estude, cumpra seus propósitos e fique enlouquecida nas noites em que sentir saudade, fique bêbada, que tenha um ombro pra chorar as faltas que sentir, que tenha sempre um amigo por perto, se não algum amigo, que tenha ouvidos sempre por perto. Eu vou ficar daqui imaginando aquele campo de flores, ou um jardim, imenso, desses que a gente se perde no meio de girassóis ou de qualquer outra flor amarela ou vermelha, que seja grande e alta e você no meio se perdendo e sendo feliz.

“Fique feliz, fique bem feliz, fique bem claro, queira ser feliz. Você é muito lindo e eu tento te enviar a minha melhor vibração de axé. Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, para você, para mim.”[C.F.]

Eu te amo. Sinto saudade.
Um grande beijo.
Adrielly Soares.



Obs: *Cantiga Pra Não Morrer – Ferreira Gullar.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Sobre Corações.

De nada vai adiantar as declarações que eu fiz, de nada vai adiantar com quem eu briguei, com quem não fiquei, a que tentações eu resisti, a que lugares eu evitei ir pra não causar brigas, nada vai adiantar não é? Nada vai adiantar a saudade que deixou o tempo que passamos uma do lado da outra, nada vai adiantar ter gritado no meio daquela multidão o meu amor por uma pessoa do mesmo sexo sem me incomodar com a retaliação do pensamento e das ações alheias.

Um dia ainda aprendo que não importa o que eu fizer POR você isso será sempre menor do que o que eu fizer PRA você. Não adianta falar vinte e cinco vezes o quão você é inteligente se um dia quando eu brigar com você eu te chamar de ignorante. Ah já me ensinaram que as mágoas são sempre mais importantes que os amores, mas eu fiz questão de não aprender... Quando essa lição era passada na escola da vida eu matava aula, sempre achei muito entediante guardar rancor ao invés de amores.

O que você vai ganhar com isso? Um coração solitário escuro e podre no fim das contas, porque ninguém se dispõe a cuidar de um coração podre, isso eu te digo, ninguém gosta de pegar corações com uma carga demasiada grande de sofrimentos, capotes e acidentes.

“É parece estranho, quando mais frágil um coração mais ele é solitário!”, você diz, “não”; eu digo, os corações escuros e podres não tem nada de frágil, são os que mais aprendem a revidar, a magoar, a ferir, parece que estão sempre rodeados de arames farpados e cercas elétricas que se acionam no menor sinal de aproximação alheia.

E você diz que eu falo o que me convém, e você diz que eu faço o que me convém, você diz que eu só penso em mim, você diz que eu não penso em nós duas. Eu, logo eu, que fiz questão de afastar de nós duas, afastar da nossa frágil fortaleza, qualquer vento, qualquer brisa, qualquer maré que pudesse nos destruir, eu que fui me afastando das grandes paixões platônicas, que fui limitando lugares e pessoas as quais eu podia sair.

Quando você dizia “a gente é muito diferente” isso sempre soou como um desafio pra mim, não, desafio não, isso soava como um motivo de orgulho pra mim, porque enfim depois de tantas diferenças estávamos nos dando bem, estávamos levando a diante, passando por cima não é assim como se diz? Mas da última vez em que você disse “mais uma grande diferença” isso soou como um empecilho, me pareceu que éramos duas tolas lutando por nossos caprichos tentando passar por cima da maior semelhança; a do sexo, e das maiores diferenças; de personalidade.

E eu que nunca quis admitir que nós fossemos como água e óleo, eu que sempre achei que nosso destino seria diferente, seria especial, você já se pegou pensando quantos namorados já não pensaram que a história deles era especial? Qual a chance de uma história ser especial? Uma em um milhão? Qual a chance de saber que somos especiais?

É meu amor, as coisas vão acontecendo de maneira inesperada e a gente se assusta com cada novo capítulo dessa história. E eu que vivo repetindo se amor é suficiente só pra que você me diga sempre a mesma resposta, “claro que amor é suficiente, amor é tudo.”. Porque é que você não usa esse amor pra passar por cima das coisas que acontecem? Eu não entendo você meu amor.

Afinal essa é só mais uma grande diferença não é? Só quero que saiba que o meu coração não é preto, não é podre, portanto não é, não será, nunca, um coração solitário, mas o seu se ficar carregando essas mágoas ficará... Ficará sim, meu amor. Tome cuidado. Não quero ver você uma pessoa solitária e triste. Releve as besteiras ditas e feitas porque eu prometo te fazer feliz até o fim dos dias. Seremos somente dois corações vivos e pulsantes, reluzindo mais que todos os outros a nossa volta.


Obs: chega logo primavera, minha melhor estação. *-*