domingo, 7 de dezembro de 2008

Sobre Convites

E qual não foi a surpresa dela quando chegou lá? Alguns poucos amigos daquela pessoa que aniversariava. Alguns, aliás, conhecia [quase todos?]. E no começo Fabi se sentia estranha em ver que fora convidada para um ato de iniciação de amizade. O convite para ir à casa de Manu aquela noite, comer da mesma comida que ela, tomar da mesma bebida que ela, tomar cerveja no bico sem cerimônias, era mais que convite para uma festa, era um convite para um ritual que dizia; “Agora você faz parte do meu círculo de amizades”. E sentiu o peso do convite assim que o recebeu: “Você vai ao meu aniversário, não vai?", o que mais queria dizer "Se você não for ao meu aniversário estará jogando fora a minha amizade que te ofereço com um banquete.". Para os deuses um banquete seria cheio de comidas variadas e iguarias próprias da tribo, para os jovens são carne assada e cerveja. E o banquete que ela oferecia estava a nível de igualdade com qualquer banquete juvenil, cerveja gelada e carne assada. Assim foi andando o caminho todo, com as costas pesadas de entrar num círculo de importância a qual não sabia que queria mesmo pertencer... Nem falara com ela por conta própria... No meio de uma conversa com uma amiga que se chamava Cris, as duas foram apresentadas. E daí por diante os cordiais "bom dia", como é que vai? , "e o fim de semana?", "me dá um cigarro?", "você parou?". Depois já gostavam uma da companhia da outra porque juntas se faziam absurdamente divertidas.
Fora apresentada aos amigos de Manu, a aniversariante, em algumas outras ocasiões de encontros ocasionais em lugares comuns de faculdade.
Manu se divertia com o jeito de Fabi, gostava da risada dela, do jeito impulsivo dela, do jeito meio criança que deseja crescer e precisa de ajuda a todo tempo pra lançar vôo, Manu gostava de ser útil a Fabi sempre que ela precisava e foi assim que surgiu nela a vontade de convidar Fabi para um rito de entrega de importância, da qual ela sairia com direito a certificado em um quadro de exposição.
As costas de Fabi pesavam tanto que teve vontade de ligar e dizer: "Manu, não posso ir ao teu encontro, me desculpe, mas minhas costas doem!", mas já estava no meio do caminho e vontade nenhuma tinha de levar esse peso até o próximo convite, porque também se tem o peso de se recusar um convite desses, claro. Então seguiu... Assim que chegou, Manu tratou logo de abraçar Fabi e dizer: "Eu não achei que você viesse, me sinto tão feliz por estar aqui."
Estava consumado, Fabi fora convidada a ter importância e agora recebia o certificado em quadro pra exposição. Foi quando sentiu que o peso que levava lá ficara. Cumprimentou a todos com direito a ouvir: Essa é a Fabi que eu havia lhe falado! Que diferença faz se falara bem ou não? Agora ela tinha importância num quadro e era lembrada. Há tanto tempo não sabia o que era ser lembrada.
E assim seguiu a noite, Fabi não podia ficar por muito tempo, mas se divertiu demais com a companhia da Manu e dos amigos dela, que ficavam cada vez mais amigos de Fabi também. Era tudo muito novo pra Fabi, a diferença entre eles era evidente, e eram tantas. Se Manu gostava de carne, Fabi achava que gostar tanto de carne é ser meio sanguinária. Havia quase uma explícita razão pra se implicarem e por isso se gostavam... Podiam se criticar abertamente e isso as espantava. E espantava a Fabi o respeito que de repente aprendeu a ter quando Manu não queria falar de determinados assuntos, e quando Manu dizia que a entendia por ser parecida com ela, no fundo, no fundo. Acontece que haviam sim coisas em comum, como a possessividade de ambas, o ciúme de ambas, a vontade de estar uma perto da outra.


E era nisso que Fabi pensava agora, três meses depois do aniversário, vendo uma foto que tinha no mural da Manu, Manu, Fabi e Luca [amigo de Manu há mais de 8 anos]. Pensava Que se sentia a mais privilegiada por ter entrado na vida da Manu assim, uma das poucas amigas novas que Manu tinha, uma das duas. Manu não é de fazer amizades, mas gostou tanto de Fabi, e demonstra tanto que isso faz com que Fabi goste cada dia mais dela, das piadas dela, do jeito mal-humorado de quando fica com TPM, da sinceridade dela.
Ela pensa que ela só ganhou lugar no mural de fotos porque ela também ganhou lugar no coração, na vida. E aquele mural com poucas pessoas é só a representação disso tudo.
Sente que uma amizade dessas desinteressadas, não nasce assim no colo de quem não sabe o que fazer com ela, de quem não sabe cuidar. E Manu sabe. Fabi não. Fabi só espera que ela fique tão perto que não a deixe descuidar da amizade.
E é nisso que ela pensa também olhando a foto. "Não pise na bola, por favor."
E pensa um monte de coisas que nem eu mesmo saberia descrever. Mas ela se sente especial, entende?
Ela se sente E-S-P-E-C-I-A-L.


Obs: Para Hinuany B. de Melo.

8 comentários:

impulsos disse...

Escreveste um bonito texto que fala acima de tudo, de amizade. A amizade, quando verdadeira, é das melhores e mais proveitosas coisas que a vida nos pode proporcionar.

Beijo

Nadezhda disse...

É muito bom se sentir especial, e perceber que alguém também é especial ;)

Anônimo disse...

Do tipo que te ama, não para sempre, mas um dia de cada vez!

Alessandra Castro disse...

Creio que algumas amizades, alguns encontros são mesmo feito de almas. Vidas passadas. Sei lá, tou mistica. ;)

Daniela Filipini disse...

Post Enorrrrmee :p
Mas valeu a pena ler (:

Anônimo disse...

Sentir-se especial em turma, amizade eh algo que deve ser valorizado. Preservo muito as poucas que tenho. A sua por exemplo já está no meu coração. Juro. Um abraço!

Francine Esqueda disse...

Quanto tempo! quero voltar logooooooooo...adorei! Estava com saudades daqui! Agora com um pouco menos de trabalho vou me dedicar muito mais a blogosfera! Vc vai ver! Me aguarde!
Bjos

a p e t i t e disse...

especial, do tipo de amor que marca coisas bonitas nos teus olhos e nos teus sorrisos.