quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Sobre Datas Comemorativas.

- Escuta
- O que?
- Coisas que eu vim planejando pelo caminho pra dizer. Coisas que eu pensava enquanto a água e os carros e as esquinas passavam por mim.
- Entra, nós ganhamos presentes, toma um banho veste roupas limpas.
- Não, me escuta, a sua casa está cheia de gente e eu não quero ver ninguém.
- Todos estão aqui por nós, estão perguntando de você, eles ficaram constrangidos, não sabiam que você tinha se mudado, eu falei pra eles ficarem. Entra pela cozinha, estamos jogando pôquer na sala, veste minhas roupas como você fazia nas manhãs de Domingo.
- Eu não vou entrar, eu preciso falar só com você. Acontece que eu saí a duas horas da minha casa e vim caminhando até aqui. Porque hoje é nosso dia e eu não consegui pensar em outra coisa durante o dia todo, o mês todo, senão que eu não estaria com você hoje, que eu não beberia com você, que eu não estaria aqui pra receber os seus, os nossos, os meus amigos. Então eu passei o dia todo me contendo, levei todo serviço pra casa, escutei todos os discos que comprei e tentei ler cada livro da estante e três horas atrás na janela da sala aberta eu sentia o cheiro da grama molhada invadir a casa toda e lembrei que se tivesse com você, você ia me abraçar e dizer que esse era o cheiro mais gostoso do mundo porque te lembrava nosso primeiro beijo no gramado do clube há uns cinco anos atrás e foi quando eu desejei que você tivesse me abraçando que eu saí de casa sem me tocar que chovia, entende?
- Não. O que é que você quer me dizer?
- Que foi besteira nós termos morado juntos, eu queria sair de casa você também... Foi só isso. Foi besteira desgastar tudo só pra satisfazer caprichos bobos.
- O que você quer Tami? Você já saiu de casa faz seis meses e quando saiu me disse essas mesmas coisas e sabe o quanto doeu? Para de falar besteira, você está molhada, entra, toma um banho dorme na sala com o pessoal, você está sendo repetitiva.
- Você também. Eu já disse que preciso te falar umas coisas e eu ainda não disse o mais importante...
- Então fala Tami!
- Faz seis meses que eu tento me acostumar com seu espaço vazio na cama, com o café fraco e doce que não é o seu, com a ausência das horas que você chega em casa do trabalho falando mal do chefe e do transito e de São Paulo e do cachorro que não te deixa em paz até que você faça carinho nele. Faz seis meses que eu sinto falta da sua boca e do seu abraço e das suas palavras bonitas e dos sorrisos e do seu corpo quente no meu e dos sussurros ordinários de madrugada. Foi um erro grande vir morar com você, mas foi um erro maior ainda ter saído daqui. Hoje eu vim pra te entregar o que eu te ofereço todo ano, na mesma data, do mesmo jeito...

Ela pega a mão dele e conduz até seu seio.

- Só pra te entregar uma coisa que é e sempre vai ser sua... O meu coração.

E, como todo ano, na mesma data, do mesmo jeito ele sentia agora o coração dela bater levemente descompassado sob os pedaços de pano molhados que ela insistia em não tirar.

22 comentários:

Anônimo disse...

=D

Moni disse...

nosssa... triste mas bem verdaddeiro! beijos.. ótimo findi!

nina disse...

Ótimo conto. tenho lido muitas historias sobre datas comemorativas, inclusive, bjao.

Tatiana Andrade disse...

texto lindo, porém triste mas inteiramente verdadeiro. O amor nos faz fazer coisas que jamais imaginariamos fazer, como voltar atras de decisões.O amor meche 100% com nossas ideias, o que era certo se juga errado e o errado vira o certo.
;D

meus instantes e momentos disse...

triste e belo. Gosto de vir aqui.
Apareça. Leve esse rosto bonito até o meu blog e passeie por lá.
tenha um feliz final de semana.
Maurizio

Conde Vlad Drakuléa disse...

Excelente conto, gostei muito...
Beijos do conde...

Nadezhda disse...

No meu caso, já faz dois anos. Mas hoje o meu coração é meu, apenas.

Vi que estou na sua lista de links, vou te add também ;)

Tunai Giorge disse...

.

Muito legal. Parabéns! Não sumi, não. Estou vivendo para escrever. Logo, novidades...
Inté mais.

.

Ariane disse...

de uma sensibilidade ímpar, adorei e vou virar frequentadora. hehehe beijos !

Xuxudrops disse...

Vc se supera sempre!Ótimo!

Voltei!

E eu adoro Seu Jorge, tanto quanto Djavan!
Beijos!

Paty :) disse...

mto liiindo mesmo !
adorei , de veerdade ! ;D
bem diferente ,hehe bsj

Anônimo disse...

liindo.
de mais :)

Amanda Silveira disse...

que lindo de se ler *-*

eu queria agradecer por tu sempre
marcar presença lá no meu pecado
e me desculpar por não ter
vindo antes; tava tudo tão atrapalhado aqui :s
mas agora tenho tempo de sobra,
venho sempre conferir :D

Junkie Careta disse...

Adorei a enorme capacidade que vc teve de confessar o que é mais constragedor, mais difícil e embaraçoso nesse texto. Fiquei mais uma vez muito comovido com o mesmo(esse é o maior elogio que posso fazer a alguém que escreve).

Engraçado, conheci uma Adrielle doce aqui. Jamais achei que você terminaria um texto seu assim.Só conhecia a filha bastarda de Bukowski(meia irmã de Gabrielle Fidalgo).Legal que você saiba se permitir.

Parabéns mais uma vez.Esse vai pra galeria dos meus prediletos. Caio F. Até a alma...

Ah, quando tiver um tempinho, apareça no Spleen rosa-chumbo.Nesse último post, eu falo dos limites entre o real e o imaginário no mundo virtual, falo sobre sentir-se íntimo de alguém pelo que ela escreve,especialmente aqui na blogesfera.

Acho que vc vai gostar.

Grande abraço

O Profeta disse...

Um mágnifico texto...


Doce beijo

BeTa DaYrElL disse...

este blog novo agora, pra postar aulas e textos relacionados a educação, português, inglês e Literatura. Depois da uma conferida, ainda nao ta pronto mas já postei o primeiro texto.

Ainda tenho o o sweetlittlesnake, só mudei o e-mail.

^^

bjinhos

Francine Esqueda disse...

Vim fuçar, matar a saudade daqui e adorei o que encontrei! Valeu a reflexão!
Querida, Desculpa o sumiço! Minha vida profissional, cultural e social está agitadíssima! hehehe... Inclusive acabei de postar o que vi no cinema! Um show de filme! Valeu a visita!
Aparece pra me visitar mais!!! Beijos
Boa semana!

Alessandra Castro disse...

Um equilibrio de melancolia com delicadeza. Um belo conto.

Camila disse...

legaal , muito boom mesmo

Cláudia I, Vetter disse...

''...só o cheiro do seu cheiro, não quer me deixar para trás, impregnado o dia inteiro, dessa roupa que eu não tiro mais.''

um branco, um xis, um traço - cássia eller.

;)

(ah, aquele desenho não é meu nao, haha! a foto do blgo, também não; eu roubo tudo, pode roubar também. huahueuhae! e o teu desenho irá, mas tenha paciência, os traços precisam ser certos ;)

;****

meus instantes e momentos disse...

saudades de vc, apareça.
Maurizio

Thatiane C. Vieira disse...

Odei isso, mas amo com uma intensidade tal que me mutilo...