terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Sobre Orgulho.

A visão turva dava-lhe a impressão de embriagues. O sono dava-lhe a impressão de estar dopada. Estar sozinha dava a ela a impressão de estar sozinha. E estava mesmo sozinha.
Por tanto tempo vinha tentando numa árdua tarefa afastar todos os amigos que tinha, ora consciente, ora não. Quão dedicada ela foi que o êxito veio com o tempo. Sem ao menos se dar conta esperava agora todas as noites por qualquer telefonema, todos os dias por alguma carta, convite; casamento ou batizado. Mas apesar de estar sozinha ela se sentia incrivelmente orgulhosa. Porque apesar dos convites de batizados, formaturas e vernissages que ela sempre recebia, ela realmente não tinha amigos. E ela estava orgulhosa de não ter amigos? Ela estava orgulhosa de conseguir, de ter traçado uma meta e realizado com sucesso. É ela estava tão acostumada com êxitos profissionais que há tanto tempo não sentia as borboletas no estômago de qualquer conquista nova, que vinha de outros rumos, outras continuações.
Naquele apartamento de paredes cor tons pastéis, cheio de figuras recortadas que no fim nunca se encaixavam papéis espalhados pelo chão, desenhos, revistas, copos, garrafas, cinzas, fósforos, fotos, naquele apartamento escuro que ficava naquela loucura metamorfósica do centro da cidade (em que nas noites, se podia ouvir o barulho da freada dos carros que quase não paravam naquele cruzamento, em que nos dias a buzina não deixava espaço nem mesmo pra o motor daqueles ônibus coletivos).
Ela deixava a janela aberta, a luz da lua e a brisa da noite deixavam ver os pedaços de panos cor de pêssego que ela insistia em chamar de cortina, se mexerem levemente. Deixava ver o telefone na mesinha, abaixo do abajur desligado, do lado do sofá onde ela estava. A lua que estava cheia e invadia a janela dela, clareava também toda a metade da sala onde ela estava, clareava parte do rosto dela. E se você pudesse ver ela agora, veria aquele semblante tranqüilo e aquele sorriso de quem se delicia no rosto quase iluminado dela, ali, como um cão de guarda assegurando a sua vitória. A vitória solitária e amarga que era só dela, o êxito de conseguir algum sucesso na vida pessoal, um sucesso sem glória, prêmio ou platéia se quer.

5 comentários:

Kaká disse...

O orgulho...
o tal do orgulho q me corrói!

Um dia ainda mastigo ele inteiro!

Amo vc
=*

impulsos disse...

Um bom texto que fala de orgulhos... orgulhos que muitas das vezes, levam a becos sem saída!
Orgulhos que se bebem como venenos, que vão matando aos poucos...

Beijo

lobo mal disse...

sinceramente eu não estou nem um pouco interessado sobre estes montes de bobagens que voce anda escrevendo e postando em seu blog, gosto apenas de apreciar sua fotografia e apreciar o quanto voce é linda, morena que rosto convidativo ao pecado!

Lu Morena disse...

"Ela" merece um livro inteirinho sobre si...
Muito bom!
Bjins

O Profeta disse...

Os meus sonhos emprestaram-te asas
A minha indomável vontade o encanto
Coroei-te com diadema de espuma
Nos umbrais do infinito pensamento

Uma torrente de emoções aguarda-te esta semana

Mágico beijo