terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Sobre Destino

Você já olhou pra vida de alguém e pensou: Essa era pra ser a minha vida? Não que aquela vida seja melhor, ou mais luxuosa, ou mais gostosa, ou mais fácil, simplesmente era pra ser sua, se você tivesse tomado às atitudes necessárias. Quando você muda suas escolhas isso influencia diretamente no seu futuro. E as minhas escolhas me levaram `a lugares bem longe e diferentes dessa vida.
Eu conheci um cara, que tinha tanto brilho nos olhos ao falar de seus sonhos, que ele seria capaz de chegar a qualquer lugar, seria um presidente, um ator, um diretor renomado, ou um médico. Não, ele não queria ir tão longe, ele só queria estudar, um diploma, se formar, talvez elétrica, ou mecânica, algo que tinha a ver com o seu trabalho na época. Hoje os olhos dele brilham quando fala da mulher, ou da filha, ou dos poucos móveis sendo pagos aos pouco em prolongadas prestações, daquela casa alugada, ou da programação de Domingo, do filme alugado de Sábado. Deve haver um pouco de dignidade nisso tudo!
Ele quis namorar comigo. Eu me casaria com ele. Se o tempo não tivesse passado, se os sentimentos ainda fossem os mesmos, se não aparecessem outras oportunidades, se as minhas escolhas não tivessem mudado.
Hoje eu vi naquela vida algo que era pra ser meu. Aquela menina de 16 anos, que tem uma filha de seis meses, que pode ver na filha dela a sua herança para o mundo, que mora em uma colônia onde todo mundo sabe da vida de todo mundo, perto de uma usina de cana, que não corta o cabelo porque o marido não deixa, que não fura a orelha da filha porque o marido não quer, que fica em casa cuidando da filha, da casa, das coisas do marido, cuidando pra que os vizinhos não tenham o que falar dela, ou se quer da vida deles. Deve haver alguma dignidade nisso tudo!
Porque no fim os meios são mesmo justificáveis. E se ela mora lá, naquele mundo afastado da cidade, da correria, se ela parou de estudar pra morar com alguém e ter filhos, naquelas ruas não asfaltadas, empoeiradas, onde um caminhão pipa da usina vai jogar água nas ruas pra abaixar a poeira, onde ela não faz nada sem a permissão dele, se ela foi morar lá é porque ela o ama. E no fundo sabe que ele a ama também.
Deve haver um pouco de dignidade nisso tudo, mas eu não vejo, não consigo ver, porque fomos criadas diferentes, estudamos com finalidades diferentes, nossos pais se importavam com coisas diferentes. E que me desculpem as donas de casa, mas eu não nasci pra ser Amélia.

3 comentários:

Maria Clarinda disse...

Foram momentos deliciosos que passei a ler o teu blog. Gostei muito e virei com frequência.
Sim eu apesar da minha idade também não gosto de ser Amélia e nunca o fui.
Acho bem que penses assim!!!
Jinhos e obrigada pela tua visita.

Kaká disse...

Mas naum se esqueça:
"Amélia é que era mulher de verdade"

Pff...
Que se dane!
Eu tbm naum nasci pra ser Amélia!

=*

Lu Morena disse...

hummmm...
Descobri agora que eu não tenho muito costume de pensar nos "e se" da vida.
Eu não sei qual vida era pra ser a minha... Isso soou estranho, vou tentar melhorar: eu não imagino como seria minha vida agora se eu tivesse feito escolhas diferentes, se outras coisas tivessem acontecido. Acho que é pq as variáveis são tantas que dá uma canseira danada só de começar a pensar um pensamento que não me levaria a nenhum lugar!
Anyway, uma coisa é certa: eu também não nasci pra ser Amélia! Nada contra as Amélias do mundo, pelo contrário, muito as admiro... Só que eu não tenho talento pra ser dona de casa, mãe, esposa ou vizinha perfeita. Nem talento e nem pretensão! Mesmo pq, normalmente, o que me fascina é o imperfeito...

Aff, comentário grande e confuso! Seu texto me fez refletir...

Bjins