segunda-feira, 15 de junho de 2009

Sobre Angústia

- Oi, ainda bem que você atendeu, eu estava quase desligando. Você estava dormindo, não é?

- É, eu estava.

- Bom desculpa, eu precisava falar com você.

- Que horas são, Renato?

- 03h45min.

- Você estava chorando?

(e aquele silêncio do outro lado da linha, e claro, só podia estar chorando, dava pra ouvir os soluços, e respirava mais fundo e silêncio.)

- Não.

- Eu conheço você, o que foi?

- Sabe, já faz uma semana Paulo.

- Eu sei, eu senti sua falta.

- Não, cala a boca, EU te liguei, quem fala sou eu!

(entre engasgos, soluços e respirações fundas ele pensava no que dizer)

- Faz uma semana que você disse que ia pensar e me ligava, e desde lá eu não como direito, não durmo direito, tenho medo de dormir e com tanto sono acumulado não ouvir se você me ligar, porque você disse que ligaria, você disse! Eu não saio mais, não! Tenho medo de quando você resolver aparecer e eu não estar aqui e deixar o momento passar como passaria se você não tivesse atendido ao telefone.

- Que bom que eu atendi, que bom que era você!

- Não vou admitir a hipótese de você não ter se decidido a passar por cima, ou não, disso tudo até hoje, eu não admito (por uma questão pessoal, de ego, auto-estima, de me sentir muito pequeno, de não me dar a importância devida, e eu sei que eu não sou tão 'nada' assim pra você), então não admito a hipótese de você não ter sentido saudade, e então...

- Claro que eu senti amor! Eu já me decidi.

- Então, de acordo com o meu ponto de vista, você é um SACANA, e só não me ligou por uma questão de me deixar agoniado, o que deu muito certo durante a semana toda, em que eu fiquei alerta a qualquer meio de comunicação que me afetava, até aquele programa de rádio brega-onde-sua-dor-é-compartilhada-na-madrugada eu ouvia e pensava se você ligaria ou se me ouviria se eu ligasse. E como uma cobra pronta para o ataque eu me frustrava em cada bote, porque você sabe, você me deixou de molho a semana toda não é?

- Eu amo você, eu não te liguei por orgulho.

- E como eu disse, (ele dizia tudo como se lesse um discurso, monólogo sem improviso, sem direito nenhum de intervenção da platéia, parecia nem ouvir o que Paulo dizia, desde o “você estava chorando?”) eu não ia te ligar, ia te dar um dias pra pensar e esperar você me procurar, e foi o que fiz, não te mandei nenhuma mensagem, poxa, eu te dei um tempo, “porque você sempre estraga tudo?”; eu pensava, e hoje eu pensei tanto, para ser sincero, desde a noite passada eu andei pensando que...

- Você ouviu quando eu disse que te amo? Eu vou passar por cima de tudo e o amor sempre vai ser maior.

- ... Não está dando certo. (e o discurso continuava)

- Eu te amo.

- Você me deixa tão aflito e com você eu estou sempre tenso e...

- Renato?

- Não dá mais, eu te liguei pra dizer que não dá mais, eu estou sempre no limite da minha razão, eu estou sempre naquela linha tênue entre a fragilidade e a insanidade, às vezes desequilibro e piso lá e volto cá, e depois piso na linha de novo. Você não me faz bem, pode ser tudo perfeito quando eu estou com você, mas o inferno não vai compensar esse seu amor estranho, os meus gozos, seus gemidos, e... Não funciona mais. Eu não quero mais conversar. Não é que eu queira dar o troco, se quiser me ligar em uma noite fria pra desabafar, eu serei sempre seu amigo, mas agora você vai passar um bocado do que eu passei essa semana. Olha é melhor não me ligar mesmo, o telefone vai estar desligado. Só há uma pessoa que eu ame mais do que você; EU, e eu estou um caco, preciso de mais cuidados. Bom era isso. Vou desligar.

- Espera!

- Desculpe, agora eu vou dormir... Como um anjo! E você sonhe com os anjos, que Deus te proteja, durma bem... Se conseguir dormir.

23 comentários:

Sandra Timm disse...

Não sou Paulo, nem Renato.

Mas essa é a minha história hoje.

Chorei.

Dry Santos disse...

O nosso único amor é o amor próprio! ♥
Só que eu acredito que não teria coragem de desistir de um grande amor, sou romântica demais, carente demais e sensível demais.
ótimo texto! :)

beijos, boa semana!

Moni disse...

angustias,... quem não as tem?
quem nunca se sentiu como eles? bjksss

Dry Santos disse...

É, sim, sempre se aprende!
Nehum tempo é perdido.

:D

Insolente disse...

Oh, doeu, viu?!
E é tão difícil deixar o que faz mal, ih. Um tormento.
tah sumida.
bjos

Layse disse...

"eu estou sempre naquela linha tênue entre a fragilidade e a insanidade, às vezes desequilibro e piso lá e volto cá, e depois piso na linha de novo. Você não me faz bem, pode ser tudo perfeito quando eu estou com você, mas o inferno não vai compensar esse seu amor estranho"... andou lendo o que se passa dentro de mim? ;) uaaau! Pra variar, parabéns! ;*

Carolina Cadima disse...

Não sei se esse foi o ponto final. Mas vejo um sensível e terrível desabafo.As vezes queria ter essa atitude!
Você sempre me surpreende!
Amo seus textos=D

Beijão, Dêh

Tem post novo no blog!

Vai lá!
=D

Beijão

Dra Silvana Resaffi disse...

Olá, tudo bem?
Meu nome é Silvana(Sil) e gostaria de lhe dizer PARABÉNS!!!!!!Adoro pessoas inteligentes e bem humoradas.Adorei seu Blog.Leve, descontraido e com um bom conteudo!
Convido vc a visitar o meu Blog e da minha amiga Deia Também
http://www.depoisdodiva.blogspot.com/
Sou psicologa e vou adorar ler seus comentarios por lá.
Já sou sua seguidora.
Bjs e boa semana!
Sil

Stephanie Pereira disse...

Adrielly, fabuloso o jeito que tu escreve, já falei isso?

é bom ter amor próprio nessas horas...

Anônimo disse...

"eu estou sempre naquela linha tênue entre a fragilidade e a insanidade" adorei essa parte!

Pra mim a angustia é uma das piores sensaçoes.

Anônimo disse...

aaah e respondendo seu comentario....


meus pais tbm sabem que eu namoro, meu pai ate chama ela pra tomar cerveja, so que ela morre de vergonha e quase nunca aceita...

e vc é de uberlandia mesmo?

Francisco disse...

...Uma fronteira é um rio entre um país e o longe...

Nós somos muralhas quando deveriamos ser pontes... Insanidades...silêncios...Vida

Beijo
Gostei muito
Francisco

T disse...

e nessa ânsia se espera, e se dói. muito.

J.E. disse...

A-D-O-R-E-I!

fato.

Anônimo disse...

pq moro bem perto, acho q uns 100km.
Patrocinio, conhece?

Anônimo disse...

Não ligar por orgulho...
...Por orgulho a gente perde tanto!
Beijos.

Anna Vitória disse...

Ah, eu estava esperando um final romântico e clichê pra essa história diferente!
beijos

Dara disse...

concordo plenamente que não são obrigados a seguir o que começaram, MAS então deveriam pelo menos mudar o discurso (porque se mudou, o mesmo não é válido mais...)


mas como eu disse, opinião MINHA.

obs: a frase "chupa que é de uva" foi de uma crítica que eu li em um blog qualquer.


;*

Sofia disse...

É, algumas vezes é preciso decidir por cuidar de si mesmo, ainda que inicialmente faça sofrer, pois algumas situações são insustentáveis, algumas relações não fazem bem, e é preciso estabelecer o limite de até onde você consegue ir.
Mas, além disso, seu texto me fez pensar em outro ponto, ás vezes estamos tão magoados, tão feridos, que não escutamos o que o outro tem a dizer, e talvez mesmo que com isso não possamos perdoar, pode ser uma forma de suavizar a dor, que não nos damos conta...

Eduardo Humberto disse...

Esse texto daria uma peça de teatro, fui lendo e imaginando as movimentações, as intenções de cada fala, os sub-textos e claro os sentimentos dos dois personagens.
Curti muito o texto.
Valeww pelos comentários de sempre.
B-jo grande.
Até +

Morato. disse...

algumas atitudes são necessarias, mesmo que doe por algum tempo.
me encantei com o seu blog,a forma como escreve e se expressa. tô seguindo ;*

risosechorosempalavras disse...

As vezes a gente finge ter calma, mas a solidão nos apressa...quando o amor vira dor eh melhor cortar o mal pela raiz...
Tomei a mesma atitude desse teu texto... dando um basta em tudo... e agora estou cuidando de mim...
Adorei o modo como foi contada a história...
:***

Maria Clarinda disse...

Maravilha de texto!!!!
Parabéns...
Jinhos mtos