terça-feira, 7 de agosto de 2012

Sobre Me Virar do Avesso


Posso parar de andar da sala pro quarto e do quarto pra cozinha. Você ainda não vai chegar. O dia inteiro fico contando as horas até às 8 da noite e depois das 8h começo a contar os minutos e refazer mentalmente os caminhos pra você chegar.

20:10 você me liga. Hoje você não vem. Se aborreceu com alguma coisa que eu disse. E pra mim a culpa é sempre sua. Que levou a sério uma brincadeira, que está atrasada segundo o meu cronograma, que só diz coisas imbecis, ou que nasceu de uma mãe que me obrigou a chama-la de vaca.

A espera de um dia inteiro resumido em meia dúzia de acusações, duas latas de frustração e uma pitada de mentiras idiotas que eu falei pra te ofender. A espera culminou nessa angústia, que é querer voltar o tempo pra não ter falado nada e ter você na minha porta. Eventualmente, quando isso acontece, eu choro.

Você me gira a cabeça menina, me vira do avesso, me adivinha até a sede. Você me deixa sem saber o que fazer, querendo chorar de desespero quando começa essas acusações sem fundamento, querendo mandar você ir embora, me esquecer, sumir de vez, voltar pra cidade dos seus pais e nunca mais me procurar. Me deixa morrendo de ciúmes quando sai com aquelas pinturas e as pernas de fora e o decote também, e vem dançando do meio da pista até o bar, só pra me provocar.

Você me tira do rumo quando quer me proteger do mundo, quando não deixa que as pessoas se aproximem de mim, quando me esconde do mundo e mais ainda quando me esconde do SEU mundo. Você me vira do avesso quando jura que nunca mais quer me ver na frente e no mesmo dia me liga e pergunta se podemos nos ver pra conversar.

Você me tira do sério, faz da minha vida uma prévia do inferno, mas sempre me leva pro céu.
Parece uma criança que acabou de cair no chão na saída da escola, olha pros amigos e olha pra mãe, e segura o choro pra não passar vergonha, mas ao mesmo tempo sabe que perde a delícia de chorar em colo abrigo.  Pra mim você tem sempre essa cara, cara de quem pede abrigo, cara de quem quer proteção nos meus braços. E você nunca quer sair de baixo das minhas asas e eu quero te manter abrigada pra sempre.

Você que tem esse jeito desajeitado de sentar, de se portar, que não tem ideia da mulher que você é, do olhar seu arredondado e de como sua boca fica macia no meu pescoço.  E a sua risada que fica horas me fazendo feliz, você que é insubstituível, e eu que prefiro os domingos de tédio e televisão a sair sem você. Seu olhar observador, que me deixa envergonhada, e seu sorriso sempre atento. Você que elogia minhas aventuras culinárias e suporta minha ferrenha autocrítica, você que me ajuda a odiar pessoas odiáveis, você que é tão bipolar.

Mas eu, mesmo assim, sou perdidamente apaixonada por você, pelo seu jeito de sentir pudor, de me surpreender, de me ensinar a amar você, de se desculpar pela culpa que é minha, de se arriscar em mim. Eu te amo por me deixar gostar de cada centímetro quadrado do seu corpo de pintura renascentista, você que é tão amável menina.

Há seis meses você largou tudo por mim, por nós. Casa dos pais, vida sem despesas domiciliares, cidade de praia, amigos de uma vida. Você que largou tudo por alguém que nem sabia retribuir tanto amor. Você faz da minha vida furacão e eu retribuo em pé de igualdade. Você grita comigo, e eu respondo mal criada, e você me acusa de coisas que eu nunca fiz. Já terminou comigo umas 23 vezes pra pedir desculpas no dia seguinte. Você me dá desespero, raiva, vontade de estrangular você, mas você me faz amar você perdidamente, irremediavelmente.

Eu precisava de amor, eu precisava de alguém real, e você é pura carne, é sangue, pulso batendo forte. Você ama como não se ousa amar outra pessoa na vida, e buscaria uma estrela, ou um cometa se eu pedisse, você me dá tudo que pode e faz por mim o que ninguém fez.

Seu amor é pura doação, mas não é solidário, não é altruísta, você quer muito em troca, você quer tudo em troca, mas porque dá até ficar sem. Amar como você, eu nunca vi, não tem ninguém. 

5 comentários:

Carol Freitas disse...

Pra sempre minha escritora preferida.
Te amo!
Parabéns, adorei o texto novo.

Lili Tormin disse...

Era disso que estava falando... pode até ser um "novo estilo", mas não deixa nada a desejar. Sabe se expressar como ninguem, mesmo quando apaixonada!

Eduardo Humberto disse...

Seu texto me faz viajar, parece que eu estou vivendo aquela situação, muito louco isso. Parabéns por conseguir fazer isto tão bem. Espero um dia conseguir escrever um texto desta qualidade e com esta naturalidade que você faz.

Estive um pouco afastado, mas estou voltando a escrever e logo terá material novo no blog... Me visite assim que puder.

Até logo.
=D

J.E. disse...

Reli esse texto umas três vezes. Eu não consigo descrever o que ele me faz sentir...

Tiago de Paula disse...

Hey, não tenho algo a dizer,
Porque você já disse.