Eu queria aquele cara, eu queria muito, de qualquer jeito,
em quaisquer circunstâncias. Tinha
alguma coisa nele que me fazia querer ele, muito. Ele me deixava entumecida,
enrijecida, só de saber da existência dele no mundo, só de saber que ele
respirava, que eu o conhecia. Eu lia
tudo que ele escrevia, em todos os veículos de comunicação, eu lia, via, ouvia,
engolia, devorava, eu comia ele, eu queria transar ele. Eu via aquele vídeo dele falando sobre os
Smiths com aquela cara de sacana, e parava o vídeo exatamente quando ele
levantava a sobrancelha direita, e depois, quando ele fazia aquela cara de desdém.
Eu queria dar pra ele naquela mesa de vidro da sala dele.
O fato é que a gente raramente se via, mas nos falávamos
sempre ao telefone, internet, carta. Eu via ele na tv e também o ouvia na
rádio. Ele falando de mulheres e eu só querendo saber o que ele diria ao me ver
tão entregue, e falava de Bowie e Tarantino e fazia com que eu o quisesse do
meu lado, todos os instantes. Vamos lá, você deve me entender, eu sei que isso
não é paixão, muito menos amor. Eu só queria passar a noite toda dando pra ele
enquanto escutava Zeca Baleiro cantar, o suor dele no meu, o gosto na minha
boca e o gozo por que não? E se pintar amor? Eu engulo, também o amor. Na mesa
da sala, na cama, na pia da cozinha e em cima das famosas capas da coleção de
vinis dele. A mão direito em Roberto Carlos, a esquerda bem em cima dos Beatles,
em baixo da minha coxa Cazuza.
E quando me liga, fica falando que Clarice era amarga, Caio era insaciável
e Bjork tinha uma cara de menina arteira, adolescente sofrida de amor e eu
querendo ele perto, respiração no ouvido, mistura de sentidos. Querendo jogar
longe aquele ar de músico intelectual, junto com aqueles óculos de nerd formado
em geografia, cantando com seu inglês estudado no meu ouvido, e eu, querendo
dar pra ele. Eu, que nem era chegada a essas coisas, mas como idealizava ele,
como sentia ele dentro de mim, como eu tinha necessidade carnal de violentar
aquele santuário que habitava aquela alma, cravar as minhas unhas grená nas
costas dele, meus dentes na sua orelha, lábios e mamilos. E implorar no ouvido
dele quantas vezes ele quisesse pra que ele ficasse dentro de mim.
Ok, você deve saber o que é isso, sentir necessidade de
alguém, é como saudade nas definições de Clarice*, ele estava sempre dentro de
mim, mas eu queria materializá-lo e fazer com que não só a alma, mas nossos
corpos fossem um só. E sim, eu daria pra ela assim que o visse, sem cerimônias,
sem rituais, nossa primeira transa.
Mas a verdade é que as nossas almas já vinham se transando
há tempos. A minha comendo cada vez mais a dele.
*Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida - Clarice Lispector
4 comentários:
Você escreve com tanta intensidade que eu nem te conheço, mas sinto como se te conhecesse.
Não sei quem é o cara,mas, ele deve se sentir um privilegiado de ter uma poetisa o desejando assim tão ávidamente,pelo menos metafisicamente,nas letras. Desconfio que o seu grande caso de amor é com elas(as letras)e, qualquer muso ou musa que apareça pelo caminho, será uma mera desculpa pra vc se deitar com elas, manipulá-las, desnudá-las,comê-las,usá-las sem pudor,e, depois vestí-las e colocá-las pra dormir. Você é uma amante insaciável das letras Adrielly, e elas parecem gostar de serem cortejadas e desfrutadas por você.
Só você pra me fazer voltar a reencontrar com a poesia, eu que tenho fugido dela pra me recuperar,porque elas me consomem demais.
Seu fã
Engole minha alma também
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