Sentia uma vontade incontrolável de deitá-la no meu colo. Porque niná-la era só o que importava. Mostrar pra ela que um pedacinho ínfimo do mundo se importava, se deliciava, se dilacerava, se prestava a ela. Mas era tão difícil... Nesses tempos em que amor grátis era tão incompreendido, tinha medo de que confundisse, de que todos confundissem as coisas. A menina que me conquistou com o carinho de palavras apenas escritas. Palavras escritas com tanto carinho pra mim, e outras com cuidado, mas sem receio, pra outros.
Queria mostrar que o meu colo, ouvidos e braços eram dela também, por mais que já tivesse outras donas, eu reservava sempre o pedaço e tempo dela. Assim como ela sempre tivera tempo pras minhas palavras, também escritas, com tanto desleixo. Mas era tão difícil... E como fazer? Ir até a Bahia, aparecer na porta daquela menina e dizer "Eu estou aqui por você"? Se já estive aqui pra tantas outras, já apareci "aqui por você" pra tantas e, no mais, o tempo sempre levou os mais 'aqui's pro passado, pra uma foto no fundo de um baú que ficou empoeirado embaixo da cama. O tempo, velho amigo. Tão incompreendido e amável. Apaga as mágoas e com ela as pessoas. Somos injustos uns com os outros esquecendo os afetos que as pessoas têm por nós.
E ela é tão linda, é uma pequenina boneca de pano. A menina magricela da escola, esquecida pelos garotos de sua geração. Garotos incapazes de enxergar a verdadeira beleza de uma menina, a verdadeira essência de uma menina tão cheia... Cheia de livros, de encantos, de tesouros e de futuro. Tão cheia da VIDA! Que nos promete tanto e nos tira os sonhos na mesma proporção.
Queria dizer pra ela quanto a vida podia lhe entregar nas mãos se ela apenas continuasse. Se continuasse sendo especial, sendo tão boa escritora, sendo tão boa pessoa, tão interessante, tão dedicada e tão amável e tão prestativa e tão minha. Mas continuar é tão difícil e eu mesma custava a continuar todos os dias e cada dia um pouco mais e cada dia um pouco menos. Colocar um tijolo e depois outro e mais um e depois destruir a parede inteira porque o projeto ficou grande demais pra tão fraco alicerce, ou porque sobraram espaços entre os tijolos, ou porque ficou torto.
E era tão visível o quanto a minha construção nunca ficava pronta, aliás, acho que a de ninguém fica pronta. Mas era tão visível o quanto a minha construção nunca realmente passava de algumas paredes e depois alguns tijolos quebrados no chão.
Mas era tão difícil chegar até ela e dizer tudo isso. O coração da boneca de pano sempre fora um pouco frágil e não suportava emoções fortes. Se ficava nervosa o coração teimava em desacelerar, batendo cada vez menos. E se tudo a ser dito fosse tão duro que a menina de pano não conseguisse segurar? E se aquela boneca de pano tão linda que eu queria tanto nos meus braços grandes tivesse o coração desacelerado? E se o coração dela que quase não aguentava alegrias e tristezas resolvesse parar?
Nem isso importava, desde que eu fosse a última pessoa que ela visse se importar, se preocupar, se prestar à ela... Porque eu ofereceria meu amor, meu colo, meus ouvidos e braços pra ela se esfacelar e por fim, ficar pra sempre em meus braços, mesmo que em memória, somente . Porque niná-la era só o que importava. Niná-la, nem que fosse por um instante, nem que fosse pra sempre.
Obs: Demorou, mas o texto pra você saiu, quando menos esperado... :)
Obs2: Muito obrigado por votarem. *-*
14 comentários:
Olá... quanto tempo!...
Gostei das mudanças no seu blog, e principalmente do material novo. Estive um tempo sumido, mas agora pretendo escrever e postar mais...
Essa frase do Caio Fernando Abreu é excepcional, hein?!... eu acho que a gente que escreve no fundo quer apenas ser compreendido, e amado tbm por isso, mesmo que seja um amor passageiro, breve e sem delongas... existindo por algum momento pra mim já basta.
Apareça depois...
Beijão!
=]
Quanto tempo nao venho aqui.
Mas pouca coisa musou.. ainda me sinto em casa HAHA.
eu so queria entender como voce consegue escrever SOBRE sem esquecer de escreveer o SOBRE antes.
HAHAHAH
Adoro quando vc escreve sobre as pessoas. A sua visão delas é sempre suave, romântica, sem deixar de ser verdadeira.
Saudades suas!
=*
É tão doce o sentimento que cresce no peito, quando queremos que o nosso abraço seja a casa de alguém.
Minha amiga querida - sequer tenho palavras precisas que descrevam a profundidade da emoção que sinto agora, pois estou chorando!
Fico muito feliz com a sua homenagem - de fato inesperada, mas de agradável surpresa. Isso me faz um bem danado, dessa forma, vejo qual amizade vale à pena. E a escrita, apesar de um ato aparentemente solitário, termina por unir as pessoas. Por isso, agradeço de coração - nao so pelo texto, mas pela grande amiga que voce é e que eu soube conquistar.
Um beijo, linda!
Minha amiga querida - sequer tenho palavras precisas que descrevam a profundidade da emoção que sinto agora, pois estou chorando!
Fico muito feliz com a sua homenagem - de fato inesperada, mas de agradável surpresa. Isso me faz um bem danado, dessa forma, vejo qual amizade vale à pena. E a escrita, apesar de um ato aparentemente solitário, termina por unir as pessoas. Por isso, agradeço de coração - nao so pelo texto, mas pela grande amiga que voce é e que eu soube conquistar.
Um beijo, linda!
Devidamente votada por 20 vezes!
Adorei o post!
O link para o vídeo que está na Minha Gaveta: http://www.youtube.com/watch?v=DrXa82roFS0&feature=player_embedded
Espero que goste ^^
beeijos e obrigada pelo carinho sempre presente! :D
Que texto lindo e que sentimento bonito!
Vc é uma pessoa muito querida, xuxu e é por isso que todos te adoram!
Beijos mil!
Você escreve tão bem *-* tem tanto sentimento por trás dessas palavras.Estou seguindo :*
Se admiração matasse eu já estaria morta. As palavras tocam a gente como se fosse carinho. Você sabe, mais que ninguém, falar do outro, da forma mais delicada e linda possível. É como se suas palavras fossem sinestésicas, uma coisa deliciosa.
Beijo, linda!
acho que li umas 3x. Que sentimento bom e glorioso, hein, menina? tem mais é que escrever, escrever longamente, mesmo.
um beijo,
L.
não li o texto ainda, mas tenho urgência de dizer isso:
minha Caio-Fernando-Abreu,
eu te amo por alguma coisa
que você escreveu.
http://adstringencia.blogspot.com/2007/07/entrelinhas.html
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