Ela acordou meio jogada, ali na sala, naquele “maldito sofá de 300$, que não combinava com nada”, diria ele, com o braço dormente e com uma dor no pescoço pelo mau jeito.
Eram 16h, e porque diabos ela não havia ido trabalhar hoje? Porque era dia 23 de Maio, era um dia nublado, frio, triste, nostálgico, monótono. Por nada. Só porque havia acordado pensando nele. “Só porque queria um tempo pra ficar a sós com as suas idéias, as quais precisavam urgentemente de lapidação.”, diria ele, ou talvez dissesse “Diz que ficou para passar mais tempo comigo?” que era o que ele dizia quando ela acordava bastante atrasada.
Ela se sentou no sofá, mexendo as mãos, o braço dormente e um exercício qualquer para o pescoço. Ela ainda estava de roupão e como sempre nenhum chinelo por perto, “Por isso não sara essa tua tosse!”, diria ele.
Ela foi à cozinha e se lembrou dele ao pegar o café, ele sempre deixava a cafeteira aberta. Se ela tomasse tanto café quanto ele, talvez seu trabalho rendesse mais, ou as lamentações se multiplicassem mais e mais. Talvez um pouco mais de maracujá e ele ainda estaria ali, dizendo as coisas que ela era acostumada a ouvir; brigas, reclamações, cuidados, coisas as quais ela sentia falta.
Talvez esse tempo pudesse ser bom para eles, tempo pra ver que se precisam, pra ver que se aborrecem, pra ver que precisam se surpreender um com o outro, pra ver que se amam. E foi disso que ela acordou sentindo falta, do “você me irrita”, do “me deixe ver o jornal”, do “vou sentir sua falta”, do “eu te amo”.
Foi quando pensava no “eu te amo” que esqueceu a cafeteira aberta, deixou a xícara de café na cozinha e voltou correndo pra sofá, se encolhendo debaixo das cobertas, tentando evitar se quer olhar pro telefone. Porque o final dessa história ela também conhece; ela para com o café, corre pra sala, pega o telefone, liga pra ele e diz algo como “eu não sei o que fazer quando você não está comigo” e ele como se atendesse a um chamado dela por pena e não por precisão mútua, volta, como um super-herói tentando ajudar a mocinha.
E só por uma vez ela não queria ser a mocinha necessitada, ela não queria heróis nessa história. Mas será que dessa vez, só dessa vez, ambos poderiam assumir suas fraquezas?
Ela só queria que o super-herói tirasse a máscara, a fantasia e pudesse falar um pouco mais sobre criptonita. Mas isso ela também sabe; ele não fala de suas fraquezas.
“Falar de suas fraquezas é enfraquecer-se mais um pouco”, diria ele.
(24/01/08)
7 comentários:
excelente texto, com texto que flui com naturalidade, e um final que foge ao convencional. belo conto. abraços.
"...Ela só queria que o super-herói tirasse a máscara, a fantasia e pudesse falar um pouco mais sobre criptonita. Mas isso ela também sabe; ele não fala de suas fraquezas. "
Muito bom o teu texto!!!
Gostei muito mesmo. Jinhos
"Mas isso ela também sabe; ele não fala de suas fraquezas"
Talvez não por medo de que ele se torne ainda mais fraco mas com receio de se mostrar fraco aos outros!
Mininaa mas vc anda taum escondida! entra na net!
=*
Escreves muitíssimo bem, miuda!
E falar de fraquezas... é como desnuda-los em público!
Nenhum homem gosta.Sentem-se inferiorizados e feridos no seu orgulho...
Beijo
Vida longa a suas letras. Entre uma palavra e outra vejo uma mente que escreve antes do texto nascer, ser posto... deixe fritar os miolos e vamos ver o que sai. Abraço. Vim aqui pelo Neto. Vou voltar.
"Ela só queria que o super-herói tirasse a máscara, a fantasia e pudesse falar um pouco mais sobre criptonita. Mas isso ela também sabe; ele não fala de suas fraquezas."
Muito legaaalll!
E é exatamente assim que as pesoas andam se comportando... principalmente os "eles" da vida.. rss
Bjos menina...
Boa semana!
até
Pq será que males de amor e desamores são tão literários?!
Tb, nas suas letras, qualquer assunto se torna um conto e tanto. Adoro! Me vende um pouco da sua inspiração? rs
Bjins!
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